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São Bartolomeu: um drama histórico que ainda levanta questões

Tableau représentant le massacre de la Saint-Barthélemy
O massacre do Dia de São Bartolomeu, visto pelo pintor francês François Dubois, um refugiado em Genebra. Esta pintura, produzida logo após os eventos - é até possível que o pintor tenha vivido pessoalmente os eventos - está agora no Museu Cantonal de Belas-Artes de Lausanne. Nora Rupp, Musée Des Beaux-arts, Lausanne

O massacre do Dia de São Bartolomeu ocorreu em 23 de agosto de 1572, um triste episódio na história francesa. A Igreja suíça comemorou o evento que marcou o Protestantismo no país e levanta uma questão atual: a chegada de novos refugiados na Suíça.

O massacre do dia de São Bartolomeu marca um paroxismo de violência nas guerras de religião francesas. Durante três dias, os católicos atacaram protestantes em Paris, matando cerca de quatro mil pessoas. Os tumultos se espalharam por outras regiões durante várias semanas. Os historiadores estimam que entre até 30 mil pessoas possam ter perdido suas vidas.

As tensões religiosas foram aliviadas alguns anos mais tarde com a promulgação do Édito de Nantes (1598), um decreto de tolerância que tentava pôr fim às guerras religiosas na França, concedendo aos protestantes direitos religiosos, políticos e civis. Uma trégua de curta duração: os problemas foram retomados e o decreto foi finalmente revogado por Luís 14 em 1685.

Détail du mur de la Réformation de Genève
O Muro dos Reformadores em Genebra lembra a história dos Huguenotes. © Keystone / Gaetan Bally

Afluxo de refugiados

As tensões religiosas na França tiveram um impacto direto na Suíça através do influxo de refugiados. Os conflitos do século 16 e os massacres do dia de São Bartolomeu levaram a um primeiro êxodo de protestantes franceses (huguenotes) como parte de um “primeiro refúgio”.

Devido à sua proximidade lingüística, religiosa e geográfica, esta primeira onda de refugiados chegava em Genebra, na época conhecida como “refúgio” seguro. De acordo com o Dicionário Histórico da Suíça, a cidade de Calvin abrigou cerca de oito mil refugiados entre 1549 e 1587; cerca de três mil deles se estabeleceram permanentemente, ou seja, 30% da população de Genebra na época.

Mas esta onda de refugiados foi apenas uma antecipação do que se seguiria no próximo século. A revogação do Édito de Nantes levou ao êxodo de cerca de 200 mil huguenotes para as áreas protestantes da Europa. Os historiadores estimam que 60 mil deles passaram pela Suíça como parte do chamado “segundo refúgio” e que 20 mil se estabeleceram ali permanentemente.

O afluxo de refugiados após a revogação do decreto foi considerável. Por exemplo, Schaffhausen viu mais de 26 mil refugiados em dez anos. Em 1687 a cidade já abrigava nove mil refugiados e tinha apenas cinco mil habitantes.

Illustration Reformation

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Problema contemporâneo

Muitos refugiados puderam se estabelecer na Suíça como parte do “primeiro refúgio” e deram uma contribuição significativa para o surgimento da indústria, especialmente a relojoaria. As coisas foram mais complicadas durante o “segundo refúgio”.

As autoridades e a população dos cantões protestantes fizeram o possível para facilitar o recebimento dos refugiados. Mas muitas vezes de forma temporária. Temendo tensões com os cantões católicos, um fardo financeiro para as autoridades públicas ou uma maior concorrência com a mão-de-obra local em um contexto econômico frágil, as autoridades concordaram em receber temporariamente. Os refugiados foram incentivados a procurar acolho em outros países, principalmente para os estados protestantes alemães em busca de trabalhadores após a devastação da Guerra dos Trinta Anos.

“Nihil novi sub sole” (nada de novo sob o sol), poder-se-ia dizer. Esta ambivalência entre o desejo de acolher as vítimas do conflito, por um lado, e o medo do peso deste acolhimento, por outro, tem marcado a política de refugiados durante anos, tanto na Suíça como na Europa.

“A primeira coisa que se expressa é emoção”, diz o pastor Laurence Mottier, da CompanhiaLink externo de Pastores e Diáconos da Igreja Protestante de Genebra. Movidos pela angústia dessas pessoas, queremos abrir nossas portas e ajudar. Isto foi muito forte durante o “primeiro abrigo”, mas as portas foram fechadas durante o “segundo abrigo”. Vemos que a sociedade é muito volátil quando se trata de acolher refugiados; tudo depende do contexto, da mídia e também do aspecto emocional”.

Aprender a conviver

A Igreja Protestante de Genebra comemorouLink externo em 24 de agosto o 450º aniversário da Noite de São Bartolomeu. “Foi uma oportunidade para recordar este dramático acontecimento histórico, mas também para olhar para o futuro, perguntando-nos como evitar tais massacres e promovendo a paz, a coexistência e o ecumenismo. A idéia não é vitimizar, mas olhar para um futuro no qual a diferença seja aceita”, explica Laurence Mottier.

Entre as atividades oferecidas houve uma oficina “Ferramentas para a construção da paz”, projetada para crianças de 6 a 10 anos. “Não apenas um ato comemorativo fechado no passado, mas uma forma de aprender com ele”, ressalta.

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“Estas ferramentas para construir a paz são para aprender a conhecer-se, a se apreciar e a viver juntos, não para entrar em espirais negativas que podem alimentar a exclusão do outro. Não esqueçamos que a noite do dia de São Bartolomeu foi sobre vizinhos matando vizinhos, assim como em Ruanda”.

Maior naufrágio da história

Um itinerário cultural do Conselho da EuropaLink externo também conta a história do exílio dos huguenotes. A rota vai do sul da França e do norte da Itália até a Alemanha. Na Suíça, é chamado de “Nas pegadas dos Huguenotes e Waldensianos do PiemonteLink externo” e vai de Genebra a Schaffhausen, percorrendo uma distância de 300 quilômetros.

Panneau explicatif
Cartaz que explica o afundamento do Lyss. Fondation VIA

“Colocamos um símbolo azul e uma nota explicativa em certos pontos de interesse ao longo da rota”, diz Pierre-André Glauser, presidente da fundação que administra a parte suíça da rota. Por exemplo, a seção entre Lyss e Aarberg, no cantão de Berna, comemora o naufrágio de 5 de setembro de 1687. Dois barcos com 137 refugiados a bordo estavam navegando no rio Aare. Um tronco quebrou o primeiro barco e os sobreviventes tentaram embarcar no segundo, causando o afundamento do mesmo. Um total de 111 huguenotes morreu. Foi o naufrágio mais mortal da história do país.”

A marcação deste trecho suíço da rota começou em 2010 e será concluída em setembro de 2023. No entanto, além das placas explicativas, não há uma sinalização completa. “Para nossa grande decepção, não obtivemos da Swiss RandoLink externo ou SuisseMobileLink externo uma rota totalmente sinalizada com logotipos distintos, como é o caso da concha do Caminho de Santiago de Compostela ou a Via Francigena”, lamenta Glauser.

Adaptação: Alexander Thoele

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