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Suíça expõe no porto de Dunquerque

Port de Dunkerque par Vincent Jendly
"O porto de Dunquerque é mais sujo e escuro do que outros portos", afirma Vincent Jendly. Vincent Jendly

O Centro Cultural Suíço em Paris (CCSPLink externo, na sigla em francês) organiza uma exposição em Dunquerque, cidade portuária ao norte da França, onde os artistas pensam em grandes dimensões.

O CCSP nunca passou por reformas nos seus 37 anos de existência. Mas hoje encontra-se em obras. “Precisamos repensar inteligentemente o espaço, melhorá-los e modernizar também o auditório”, explica Claire Hoffmann, chefe da programação. Ao invés de simplesmente fechar suas portas, a filial parisiense da Pro Helvetia, órgão de promoção cultual da Suíça, decidiu se apresentar através da França nos próximos dois anos.

Como encontrar locais de exposição fora do circuito parisiense? Em seu romance “Vivre vite” (Edição Flammarion), que ganhou recentemente o Prix Goncourt, Brigitte Giraud de Lyon resume os sentimentos das “províncias francêsas”: “Visto daqui, Paris rima com uma exposição, ou com um concerto mítico. E este é um dos componentes desse sentimento provinciano que poderia ser identificado da seguinte forma: aquele que não viu as exposições, se contenta em dizer que ouviu falar delas…”.

Frac Dunkerque
Longe dos espaços confinados do Hôtel Poussepin em Paris, o CCSP pode pensar grande, nas instalações do fundo regional de arte contemporânea em Dunquerque. swissinfo.ch

Cidade portuária

Porém a França mudou nas últimas décadas. A descentralização coordenada nos anos 1980 pelo presidente François Mitterrand e seu ministro da Cultura, Jack Lang, deu alguns frutos. Então onde estão os equivalentes franceses de centros regionais suíços como Langenthal, Glarus, Bienne ou Neuchâtel, que se destacam no campo da arte contemporânea?

Claire Hoffmann e outros funcionários do CCSP se fizeram esta pergunta espinhosa. Após algumas reflexões – e várias visitas – escolheram Dunquerque como a primeira parada na tournê do instituto através da França.

O que poderia ser mais exótico, mas fascinante, para um suíço do que esta cidade costeira? Sua história e importância industrial e a proximidade com a Bélgica e Grã-Bretanha, seriam algumas das respostas.

Alguns suíços não esperaram que o CCSP organizasse um evento nesse extremo norte do país. O fotógrafo de Friburgo Vincent Jendly, que havia trabalhado anteriormente em navios de carga, ficou chocado com Dunquerque. “Voltada para o aço e carvão, seu porto é mais sujo, mais negro que outros. Quando fotografei esses áreas, tive a impressão de estar capturando uma era passada”, conta Jendly.

Exibidas no Château Coquelle e no Musée Portuaire como parte do “festival” do Centro Cultural Suíço, suas imagens em preto e branco mostram um universo quase ficcional entre mar e prédios.

Port de Dunkerque par Vincent Jendly
“Antropoceno” é o nome que Vincent Jendly deu à sua série de fotos do porto de Dunquerque. Vincent Jendly

Sombra dos estaleiros navais

Acostumado aos espaços confinados do Hôtel Poussepin em Paris, o CCSP se aventura em outros espaços. Esse é um dos benefícios desse programa cultural. Na capital, cada centímetro quadrado conta. E o céu, pouco visível, não pode dar volume às exposições. Em Dunquerque, é o oposto, especialmente no Frac (Fundo Regional para Arte Contemporânea) da cidade.

Deve-se dizer que esse centro cultural é uma das mais bonitos do país. A um passo do oceano, é como se estivesse acoplado a um antigo salão dos estaleiros que fizeram a glória de Dunquerque até seu fechamento nos anos 1980. No centro, a artista suíça Delphine Reist transforma a enorme grua suspensa do salão em uma espécie de scanner gigante. A cada meia hora, ele passa, escaneando o chão com uma luz poderosa.

Delphine Reist ganha a vida com tudo o que o porto tem a oferecer: barris, baldes, silos. E acima de tudo a matéria prima, já que o porto de Dunquerque é especializado em material a granel, ou seja, material (líquido ou sólido) sem containers, material que transborda e sofre mutações. “Aqui você ainda pode ouvir o barulho da máquina ou a presença de pessoas, apesar do vazio”, escreve Julie Gilbert. Acabou. “A empresa fechou. O que resta são suas paredes.”

Delphine Reist
Delphine Reist “mostra a continuidade entre as representações do mundo industrial e doméstico” Photo Emmanuel Watteau

Lyon depois de Dunquerque

O programa cultural do CCSP não beneficia apenas suíços. Artistas locais participam das exposições, dentre eles Emilien Leroy, que preparou um concerto de aspiradores. “Em termos de financiamento, o Centro Cultural Suíço nos permite ver o panorama geral e conhecer novos parceiros”, ressalta Céline Rousseau, diretora do Festival de Fotografia de Dunquerque.

A próximo evento do CCSP é Lyon, de 10 a 21 de janeiro de 2023. Uma grande turnê e depois é isso, o retorno à Paris? Este passeio nos dá maior visibilidade no cenário cultural francês e isso é bom”, observa Claire Hoffmann. “Mas a partir de 2024, teremos que nos concentrar novamente em nosso programa parisiense. Não podemos estar em todos os lugares ao mesmo tempo.”

Adaptação: Alexander Thoele

exposição

Vrac Multivrac, por Delphine Reist: exposição aberta até 31 de dezembro no espaço Frac Grand Large.

Anthropocène, por Vincent Jendly: exposição aberta até 17 de dezembro no espaço Château Coquelle e no Museu Portuário.

à ler

“Oui. C’est bien. Portrait de Delphine Reist”, por Julie Gilbert. Edition art et fiction.

página

Centro Cultural Suíço em Paris – exposição em DunquerqueLink externo

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