“Suíça pode se aproveitar do seu tamanho no Conselho de Segurança”
A Suíça foi eleita hoje como membro não-permanente do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). Qual a agenda do país? Quais objetivos? Achim Steiner, chefe do Programa de Desenvolvimento do órgão explica.
swissinfo.ch: Vinte anos depois de aderir à ONU, a Suíça ocupa agora seu primeiro lugar no órgão mais poderoso da organização internacional, o Conselho de Segurança (CS). Hoje, um membro permanente, a Rússia, ataca outro membro, a Ucrânia. O que pode fazer a Suíça neste contexto?
Achim Steiner: Há décadas, a Suíça utiliza seu tamanho como um pequeno país no cenário internacional para intervir como mediadora. Não é uma coincidência que a segunda sede da ONU esteja localizada em Genebra.
A Suíça conseguiu colocar essa cidade em primeiro plano como um lugar para reuniões e negociações. Agora, com seu assento no CS, enfrenta um novo desafio em meio a uma situação de conflito: de que lado ela está? Importante seria ela apresentar um perfil claro e distinto no Conselho.
swissinfo.ch: Este perfil foi intensamente discutido na Suíça no período que antecedeu a eleição para o CS. No contexto da guerra na Ucrânia, a política de neutralidade também está sendo questionada. A Finlândia e a Suécia decidiram se candidatar à adesão à OTAN. Agora surge a questão: a neutralidade é compatível com a adesão ao CS?
A.S.: Eu diria que sim, porque a ONU não é uma organização partidária. Com seus 193 países-membros, ela hoje abrange todos os tipos e ideologias de regime. Assim como a adesão da Suíça à ONU não prejudicou sua neutralidade nesses últimos vinte anos, um assento no CS não fará o mesmo.
O mundo precisa de força para não se perder na atual crise. Precisamos reunir forças para deixar claro a um país como a Rússia, que uma agressão como a que comete contra a Ucrânia não é compatível com os princípios da ONU. Já sabemos pela história que a guerra sempre leva a mais sofrimento e a um beco sem saída. Por isso é importante apontar alternativas à guerra e à violência. Espero que a Suíça venha a desempenhar um papel importante nos próximos anos no CS.
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swissinfo.ch: Não é apenas o ataque da Rússia contra um país vizinho que viola o direito internacional e a Carta das Nações Unidas: os direitos fundamentais universais estão sendo feridos em muitos outros países-membros, sobretudo a Declaração dos Direitos Humanos Universais de 1948. Tendo em vista essas deficiências, o que resta dessas diretrizes?
A.S.: Eu ainda não encontrei ninguém que questionasse a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Simplesmente não se pode argumentar que liberdades básicas como a de expressão e reunião possam ser tolhidas.
No entanto, já podemos ver que as interpretações podem diferir muito em diferentes países e sociedades. Além disso, os direitos humanos são muitas vezes instrumentalizados: onde nos convém, levamos os princípios muito a sério; onde não nos convém, relativizamos. Isto cria decepções e contradições.
Para nós, como ONU, é importante lembrar os princípios e trabalhar com as realidades que muitas vezes se afastam. A Suíça também pode desempenhar um papel de construtor de pontes a este respeito.
Adaptação: Alexander Thoele
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