Nasci na Inglaterra e vivo na Suíça desde 1994. Me formei como designer gráfica em Zurique entre 1997 e 2002. Mais recentemente passei a trabalhar como editora de fotografia e entrei para a equipe da swissinfo.ch em março de 2017.
Há quase duzentos anos, os habitantes de Schönenwerd, um vilarejo no cantão de Solothurn (norte da Suíça), viviam ao ritmo da sirene da fábrica de sapatos da família Bally. As mudanças que afetaram este negócio contam uma história maior de desenvolvimentos na sociedade suíça; é uma história que pode ser vista nas imagens de um extenso arquivo no museu “Ballyana”.
O negócio original da Bally produzia fitas, suspensórios para calças masculinas e outros produtos elásticos. Peter Bally-Herzog assumiu a empresa na aldeia suíça do norte. Após a morte de Herzog em 1849, os filhos Carl Franz e Fritz assumiram a empresa dois anos mais tarde.
Uma empresa familiar abraça a industrialização
Carl Franz tinha uma visão bastante clara para a empresa: fornecer sapatos funcionais que também estivessem em sintonia com as tendências de cada época. Com a revolução industrial acelerando a produção, ele empregou milhares de trabalhadores até o século XX. Enquanto a empresa continuava a crescer de forma constante, o mesmo acontecia com as instalações para os seus trabalhadores. Bally expandiu sua fábrica e criou alojamentos próximos para as pessoas que ali trabalhavam.
Junto com sua esposa, Carl Franz abriu uma escola local para meninas, um jardim de infância, uma casa de repouso e uma piscina pública à beira do rio Aare. Ele construiu casas para os trabalhadores e transformou uma região inundável do Aare num parque público tranquilo. Na virada do século XX, motores a vapor e usinas hidrelétricas forneceram novas fontes de energia que aceleraram ainda mais a produção da empresa e ajudaram a prepará-la para entrar no mercado global.
Do funcional ao ‘fashion’
O neto de Carl Franz, Max Bally, tinha um olho atento para a moda e era meticuloso na produção de alta qualidade. Durante quase 70 anos, os seus designs moldaram o aspecto característico dos sapatos BallyLink externo. Ele acompanhava atentamente os desfiles de moda e desenhou novos modelos, inspirado pelas vitrines das lojas, pelas pessoas na rua e pelas inovações materiais que observou enquanto viajava.
Grandes mudanças em andamento
Após a sua morte em 1976, a empresa estava em crise, sem uma visão clara, e sentindo a pressão do aumento da concorrência do exterior, uma queda nos preços e a abolição da protetora tarifa alfandegária, que visava encarecer os produtos importados em prol dos equivalentes produzidos internamente.
A Bally foi então vendida ao empresário e banqueiro suíço Werner K. Rey em 1977. Rey acabou vendendo sua participação na empresa para a fábrica de máquinas e ferramentas suíça Oerlikon-Bührle. A Bally tinha se estabelecido como um tesouro nacional da Suíça ao longo dos anos, e a saída da família Bally do comando da empresa foi vista em todo o país como uma grande perda.
Mudanças na gestão e na organização da empresa, e a falta de um estilo reconhecidamente próprio tiraram da Bally uma base sólida para criar. A Bally tentou a se reinventar, mas os clientes já não conseguiam identificar claramente o que a empresa representava. Depois disso, não restou muito da outrora vibrante indústria de calçados suíça.
Desde 2018, a empresa mudou de mãos algumas vezes. Atualmente, ela é propriedade do grupo têxtil chinês Shandong Ruyi. O preço de compra foi estimado em $700 milhões (CHF 697 milhões).
Entre 1851 e 2000, as fábricas da Bally produziram cerca de 150 milhões de pares de sapatos. A longa história deste negócio suíço foi compilada em fotografias no museu BallyanaLink externo. A organização do arquivo corresponde à dedicação em preservar o patrimônio da história industrial da região, da qual as fábricas de sapatos Bally tiveram um papel fundamental.
swissinfo.ch/ets
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