Estudo lança luz sobre os soldados suíços do jihad
Quem são os jihadistas da Suíça? Um novo trabalho acadêmico apresentado em Genebra traz algumas respostas, destacando a rota de dez terroristas graças aos dados do governo suíço.
Milhares de páginas de registros e relatórios da polícia sobre os jihadistas da Suíça. Foi este tesouro – uma massa de dados mantidos pelo Ministério Público da Confederação (MPC) – que teve acesso Florent Bielmann, um estudante da Universidade de Berna, para sua tese de mestrado.
O pesquisador também é analista da Secretaria Federal de Polícia (Fedpol) e se interessou por dez réus, principalmente terroristas que tentaram voltar à Suíça. Réus suíços, de língua alemã ou francesa, cuja média etária é de cerca de 24 anos, incluindo uma mulher, selecionada de acordo com o material disponível.
O trabalho representa “um mapeamento único”, nas palavras do cientista político Frédéric Esposito, que orientou o trabalho. Uma cartografia que revela a especificidade suíça, disse o diretor do Observatório Universitário da Segurança em Genebra.
Frédric Esposito aponta um elemento chave e particularmente marcante da pesquisa: os dez estavam sob a influência de mentores locais em seu ambiente real. “As redes sociais desempenham frequentemente apenas um papel de acelerador no processo de radicalização”. Na verdade, é o grupo ou o círculo fechado de uma pessoa que desempenha um papel vital no recrutamento.
“Vontade de um novo começo”
Dados biográficos, aspectos socioeconômicos, psicológicos ou visão do mundo: o trabalho leva em conta vários fatores. Em todos os casos estudados, Florent Bielmann observou uma “mobilidade social limitada”, marcada por fracassos escolares ou dificuldade em manter o emprego. Só um dos casos é titular de um certificado de curso profissionalizante.
A maioria dessas pessoas também destaca a oportunidade de mudar sua vida oferecida pelo “jihad”. “Percebi naquele momento que esse era um novo começo na minha vida”, diz um dos réus.
Muitos desses jihadistas suíços demonstram uma visão binária do mundo: a luta do bem contra o mal, os países árabes oprimidos contra a coalizão internacional.
Uma das peculiaridades no caso suíço, acrescenta Frédéric Esposito, é que ao contrário do francês ou britânico que dedica um ódio feroz contra seu próprio país, “não há um ódio da Suíça, mas um ódio do mundo ocidental”. A especificidade do caso suíço em comparação com o caso belga, francês e britânico, é também que não tivemos colônias. “Nós também temos uma comunidade muçulmana muito menos homogênea. Portanto, há menos vontade de travar uma batalha contra o próprio país”, explica.
Fenômeno complexo
O estudo revela, assim, algumas trajetórias dos viajantes suíços do jihad, apesar de não conseguir retraçar os dez percursos com precisão. A anonimização dos dados foi, na verdade, um pré-requisito para que as autoridades concordassem com a publicação deste trabalho acadêmico.
Este, porém, é destinado a dar conta da complexidade do fenômeno da radicalização na Suíça:
Mostrar mais
Mostrar mais
Como evitar a radicalização dos jovens na Suíça
Este conteúdo foi publicado em
Miryam Eser Davolio é pesquisadora do Instituto de Ciências Aplicadas da Escola Superior de Zurique (ZHAW). Dentre outros, coordena um novo estudo sobre a radicalização dos jovens na Suíça. Aproximadamente setenta casos de radicalização jihadista estão sendo investigados na Suíça e há mais de vinte processos penais em andamento. Na última sexta-feira (13.11), três atentados…
Qual é a importância dos acordos bilaterais entre a Suíça e a União Europeia (UE) para os suíços que vivem no exterior?
Após meses de negociações, Suíça e UE concluem novo pacote de acordos bilaterais. Direitos de 466 mil suíços na UE estão em jogo, mas aprovação no Parlamento e referendo ainda são desafios. O que está em risco?
Qual é o impacto ambiental da inteligência artificial?
Qual é o impacto ambiental da IA? Modelos como o ChatGPT consomem muita energia e recursos, agravando problemas ambientais. Isso muda a forma como você usa IA?
Se quiser iniciar uma conversa sobre um tema abordado neste artigo ou se quiser comunicar erros factuais, envie-nos um e-mail para portuguese@swissinfo.ch.
Consulte Mais informação
Mostrar mais
Suíça identifica 400 terroristas potenciais no país
Este conteúdo foi publicado em
O terrorismo derivado do jihad continua sendo uma grande ameaça para a Suíça, e para a Europa, como mostram os recentes ataques em Paris e Bruxelas, disse Markus Seiler, diretor do FIS. A Suíça não é o principal alvo das organizações jihadistas, disse Seiler, numa conferência de imprensa realizada segunda-feira em Berna. O serviço de…
Este conteúdo foi publicado em
Os serviços suíços de inteligência avaliam que o país não é um alvo primário dos terroristas jihadistas. Afinal, ela não participa da luta militar contra o Estado Islâmico (IS). Todavia, a ameaça do terrorismo aumentou desde os atentados em Paris, Nice e Bruxelas, consideram os mesmos especialistas. O terrorismo não provoca apenas vítimas, mas também…
Este conteúdo foi publicado em
A ameaça jihadista coloca desafios sem precedentes às democracias ocidentais. Entre as medidas introduzidas ou pensadas para combater o terrorismo, a retirada do passaporte está particularmente em voga. Na França, a vontade do presidente François Hollande de inscrever na retirada do passaporte na Constituição tinha dividido profundamente a maioria socialista depois dos atentados de 13…
Suspeitos de terrorismo podem perder passaporte suíço
Este conteúdo foi publicado em
A Secretaria Federal de Migrações disse que um jovem suíço-italiano de 19 anos é acusado de ter ingressado no grupo terrorista Estado Islâmico na Síria. O anúncio foi publicado na versão mais recente do seu boletim de informação oficial. De acordo com a lei da cidadania, cidadãos com dupla nacionalidade podem ter sua nacionalidade suíça…
“A integração não é o antídoto contra a radicalização”
Este conteúdo foi publicado em
“Na maioria dos países europeus, 30% das pessoas que partem para a Síria são convertidas”, lembra Lorenzo VidinoLink externo, autor de um estudo publicado em 2013 sobre a radicalização jihadista na SuíçaLink externo. A integração é certamente importante, mas não basta para eliminar o fanatismo. swissinfo.ch: Depois dos ataques de Paris, o ministro suíço da…
Este conteúdo foi publicado em
De acordo com o governo, não existem atualmente leis em vigor para impedir a saída de um residente suíço que tenta integrar um grupo terrorista estrangeiro, como o grupo Estado Islâmico. “Ela [a nova lei] vai obrigar essas pessoas a se apresentarem regularmente a uma delegacia”, disse o comunicado do governo divulgado na quarta-feira (22).…
SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR
×
Não foi possível salvar sua assinatura. Por favor, tente novamente.
Quase terminado… Nós precisamos confirmar o seu endereço e-mail. Para finalizar o processo de inscrição, clique por favor no link do e-mail enviado por nós há pouco
Veja aqui uma visão geral dos debates em curso com os nossos jornalistas. Junte-se a nós!
Se quiser iniciar uma conversa sobre um tema abordado neste artigo ou se quiser comunicar erros factuais, envie-nos um e-mail para portuguese@swissinfo.ch.