Por que as vacas suíças escalam montanhas
Você ficaria surpreso ao encontrar uma vaca Simmental ou Braunvieh subindo os degraus do One World Trade Center de Nova York ou do igualmente alto World Financial Center de Xangai.
Mas esse é o tipo de subida – embora em trilhas de terra e não degraus de concreto – que uma típica vaca leiteira suíça faz todos os verões.
De acordo com o Departamento Federal de Agricultura, cerca de 270.000 vacas são levadas de suas fazendas para os pastos alpinos no início de cada verão, para voltar só no início do outono.
Em média, elas sobem cerca de 590 metros, cobrindo 16,3 quilômetros em linha reta, mas muito mais no chão em trilhas muitas vezes íngremes e sinuosas. As mais “alpinistas” entre elas chegam a subir a mais de 2.000 metros. É como chegar ao topo do edifício mais alto do mundo, o Burj Khalifa, de Dubai, com 830 metros, e – não satisfeito com isso – voltar para baixo e fazer tudo de novo, e mais um pouco.
Por que elas fazem isso?
Os produtores de leite têm bons motivos para levar suas vacas para o alto das montanhas. Por um lado, eles ganham bem mais pelo aromático “queijo alpino” produzido com o leite de seus animais. De junho a princípios de setembro, os pastos alpinos servem uma variedade de centenas de ervas e gramas diferentes para as vacas pastarem, enquanto que um pasto na planície só oferece algumas dezenas de tipos. Se isso melhora o sabor depende do seu paladar, mas o que os pesquisadores sabem é que o queijo alpino é muito mais rico em ácidos graxos ômega-3, e isso, dizem, é muito bom para você.
De acordo com a Associação Suíça das Fazendas Alpinas, cerca de 4.000 toneladas de queijo alpino são produzidas a cada ano.
O governo também encoraja os fazendeiros a levar seu gado até a montanha, recompensando-os com um subsídio de cerca de CHF400 (US$ 412) por vaca a cada verão. O cartão postal dos pastos alpinos é uma parte integrante da herança da Suíça. A criação de gado tornou-se a forma predominante de agricultura nos Alpes já no século XIV. Provavelmente não é uma coincidência que o processo para fazer queijo duro tenha sido descoberto neste período, o que significava pela primeira vez que o queijo poderia ser transportado por longas distâncias.
Os subsídios concedidos aos fazendeiros alpinos, portanto, visam em parte preservar essa tradição centenária da vida pastoril e impedir que os pastos se transformem em florestas.
Mas não vamos fingir que as vacas fazem todo o trabalho. Os pastores cuidam das vacas, levando-as para pastar depois da ordenha, no fim da madrugada, reunindo-as no final da tarde para uma segunda ordenha. Fazer queijo do leite recolhido preenche a maior parte do dia. Em média, homens e mulheres trabalham 14 horas por dia, sete dias por semana, e recebem apenas CHF 70 por dia pelo seu trabalho – cerca de um terço do salário médio suíço.
Adaptação: Fernando Hirschy
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