UBS volta ao Brasil após “venda em pânico” do Pactual
O UBS, o maior banco suíço e o mais afetado na Europa pela crise financeira mundial, compra a corretora Link Investimentos e volta ao Brasil um ano após a venda abrupta do Pactual com prejuízo.
O negócio no valor de aproximadamente 195 milhões de reais (cerca de 112 milhões de dólares) deverá ser concluído no quarto trimestre deste ano, se aprovado pelo Banco Central brasileiro, informa o UBS em um comunicado.
“O Brasil, que em 2015 provavelmente será a quinta maior economia do mundo, representa dois terços da economia da América Latina. Precisamos de capacidades locais para poder servir com sucesso nossos clientes num mercado mundial importante como o Brasil”, disse Carsten Kengeter, co-CEO do UBS Investment Bank.
Alex Wilmot-Sitwell, outro co-CEO do UBS Investment Bank, acrescentou na nota: “Vemos o Brasil como importante mercado estratégico com considerável potencial de crescimento. A compra da Link Investimentos possibilita ao UBS ampliar sua presença e fortalecer sua posição no Brasil.”
O mesmo argumento foi usado em 2006, quando o UBS comprou o Pactual por cerca de US$ 3 bilhões. Em abril de 2009, o Pactual foi vendido ao ex-dono André Esteves por US$ 2,5 bilhões – US$ 500 milhões a menos do que o UBS havia pago três anos antes.
A venda do Pactual foi justificada à época pelo banco suíço com o argumento de que correspondia à sua “estratégia de diminuir o perfil de risco, melhorar o balanço e reorientar o foco de negócios do UBS”.
“Arrependimento”
Segundo os portais Valor Econômico, finnews.ch (Suíça) e Handelsblatt (Alemanha), os responsáveis em Zurique logo se arrependeram da venda precipitada e tentaram até reverter na última hora as negociações com Esteves.
“Isso porque, em abril deste ano, já estava claro que o Brasil superaria praticamente ileso a crise financeira econômica global. De fato, a Bolsa em São Paulo fechou o ano com a melhor evolução mundial, com um aumento de 83% das cotações”, informa o Handelsblatt.
Mas o UBS, que antes ocupava posições de liderança entre os bancos de investimento no Brasil e na emissão de novas ações na Bolsa e em fusões ou aquisições de empresas, não pôde aproveitar desse boom.
Concorrência não dorme
Ao mesmo tempo, concorrentes como o Crédit Suisse, Itaú Unibanco, o espanhol Santander e o britânico HSBC ganharam muito dinheiro e ampliaram seu engajamento no Brasil em plena crise.
Agora, a compra da corretora Link Investimentos, alimenta as esperanças do UBS de voltar fazer bons negócios no Brasil. Mas outros concorrentes, como o francês BNP Paribas, a portuguesa Caixa Postal de Depósitos e sul-africano Standar Bank, também tentam ingressar no mercado brasileiro.
Segundo Raul Esquivel, diretor do UBS para a América Latina, “a Link Investimentos está bem posicionada e tem alta reputação no Brasil. Estamos convencidos de que nossos clientes aproveitarão das nossas capacidades adicionais de negócios e dos novos produtos e serviços que podemos oferecer no Brasil”.
Ele disse que o UBS vai apresentar ao Banco Central um pedido de licença para abrir o banco, que, além das atividades de banco de investimento, também quer fazer gestão de fundos e fortunas, área em que é líder mundial.
Nome Link desaparece
O UBS informou que vai comprar 100% das ações da Link Holding Financeira S.A, empresa-mãe da Link Investimentos. Os negócios da Link serão integrados nas áreas de investment bank, wealth management e asset management do UBS.
Após a conclusão da transação, o nome Link desaparece e a nova unidade no Brasil vai se chamar UBS. O banco suíço não vai comprar o Home Brocker da Link Investimentos, que permite negociações com ações através da internet por pessoas físicas, informa o comunicado.
A compra da Link coincide com um momento em que o UBS dá fortes sinais de recuperação após a crise. No primeiro trimestre de 2010, o banco anunciou um lucro de US$ 2,3 bilhões – o primeiro nos últimos três anos.
Depois de um lucro recorde de 12,2 bilhões de francos em 2006, o banco havia entrado em crise, sofreu uma fuga maciça de capital e contabilizou prejuízos de 4,3 bilhões em 2007, 20,8 bilhões em 2008 e 2,7 bilhões em 2009.
Geraldo Hoffmann, swissinfo.ch
A Link Investimentos foi fundada em 1998 como corretora e distribuidora de valores independente e tem escritórios em São Paulo e Curitiba.
É uma das maiores corretoras e distribuidoras brasileiras, com uma forte atuação no mercado de ações, pesquisa e derivativos, bem como em produtos de câmbio, renda fixa e commodities transacionados em bolsa.
Desde 2002, a Link lidera nos setores de produtos de renda fixa e commodities negociados em bolsas de valores no Brasil.
A Link – uma sociedade de capital fechado com 279 funcionários, incluindo os 73 sócios – também presta serviços de gestão de patrimônios privados e gestão de ativos.
Fonte: UBS
Lucro (+) / prejuízo (-) anual do UBS em bilhões de francos suíços de 2003 a 2009:
2003: +6,39
2004: +8,09
2005: +9,84
2006: +12,26
2007: -4,38
2008: -20,88
2009: -2,7
Primeiro trimestre de 2010: + 2,5 (previsão)
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