Um caixão para ser usado em vida
Ele parece uma vitrine com design moderno para a sala de estar. Mas na verdade, trata-se de um caixão para defuntos.
O ataúde-armário é a mais recente ideia de um ex-agente funerário, que acaba de apresentá-lo em uma feira agropecuária de Berna.
A BEA/Pferd, a tradicional feira anual de agropecuária de Berna, não era exatamente o local onde Werner Locher pensava em exibir a sua mais recente invenção. Porém, depois que esse marceneiro e ex-agente funerário originário de Uetendorf, um pequeno vilarejo ao sul de Berna, só recebeu duas respostas aos 500 convites de apresentação enviados às funerárias regionais, ele achou que era necessário um golpe de publicidade.
“Decidi alugar um estande aqui na feira, pois ela é bastante popular, e não me arrependi”, conta Werner, exibindo ao mesmo tempo recortes de artigos em jornais, publicados recentemente, onde aparecem fotos suas ao lado do caixão-armário. “A reação da maioria dos visitantes é muito positiva”, reforça.
Seu estande não é o maior do pavilhão, mas pelo número de pessoas que param para conversar com ele ou simplesmente admirar é, seguramente, o que mais chama atenção. Não é à toa: ao contrário dos vizinhos com seus móveis de luxo, o marceneiro exibe um novo tipo de caixão. Ao invés dos modelos tradicionais, quadrados, pesados, com alças e parafusos laqueados, o “Cradle” (berço, em inglês) é cônico, sóbrio, sem garras ou outros detalhes.
O suíço batizou-o de “berço”. Ao primeiro olhar, uma peça minimalista em madeira como nos catálogos dos fabricantes suecos. A escolha do nome não foi difícil. “Quando chegamos ao mundo somos colocados no berço e, quando partimos, também”. Como não tem alças para carregar a peça no cemitério, os familiares precisam utilizar cordas. Na extremidade do caixão, um pequeno furo e o espaço do único parafuso. Graças aos encaixes, como na tampa de um aparelho eletrônico, o caixão é fechado e se transforma em uma peça única.
Inspiração na morte do pai
Outro detalhe especial do caixão “Cradle” é que ele pode ser utilizado também em vida como armário de louças. Nele, as prateleiras de vidro são fixadas no caixão por pequenos pinos. No alto, uma lâmpada ilumina os objetos expostos como copos de vinho, que podem ser admirados pela abertura frontal na tampa. Quando o proprietário morre, as prateleiras podem ser retiradas e também a pequena vitrine. “Então colocamos nela uma tampa de madeira fornecida por mim, pois os cemitérios suíços não permitem que os caixões contenham peças de vidro”, explica Werner.
A inspiração para construir esse novo tipo de móvel surgiu quando seu pai faleceu, em abril do ano passado. “Eu olhei seu caixão e não o achei muito bonito. Então pensei como seria construir um que fosse mais estético”, revela o marceneiro. A dificuldade inicial era conseguir colar as diferentes camadas de madeira para que o caixão ganhasse esse formato incomum. Porém depois de vários testes, ele conseguiu encontrar a combinação ideal de madeiras, já que um caixão não pode ser feito apenas de madeira nobre. “Depois de vinte anos o conteúdo dos túmulos precisa ser removido na Suíça. Um caixão de carvalho não iria se deteriorar.”
Expansão internacional
Os preços ainda são salgados: entre 2.700 e 3.500 francos (4 mil dólares), dependendo da qualidade da madeira ou do trabalho de acabamento. No estande Werner exibe um caixão pintado de azul com ilustrações celestiais. “É a escada para o céu”, conta.
Em Berna a participação na feira já trouxe alguns resultados. “Dois pedidos foram feitos”, conta orgulhoso o pequeno empresário. Além disso, várias pessoas pediram o cartão de visita. Porém seus planos estão mais voltados para o mercado externo. De 27 a 29 de maio em Dresden, Alemanha, Werner estará participando da Pieta, uma das maiores feiras de artigos fúnebres da Europa. E para evitar plágios, ele já registrou o “Cradle” no Departamento Federal de Patentes.
Na Suíça falecem anualmente, em média, 62 mil pessoas (2009).
No mesmo ano, a expectativa de vida no país era de 79,8 anos para homens e 84,4 para mulheres.
A causa mais comum de morte para os habitantes co mais de 65 anos é o câncer e problemas do coração.
A formação de agente funerário dura, na Suíça, entre três e cinco anos segundo a experiência do candidato.
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