“As iniciativas anti-pesticidas são extremas e contraproducentes para o meio ambiente”
O mundo agrícola leva a proteção do meio ambiente a sério, mas as iniciativas em relação à água potável e aos pesticidas são muito radicais, afirma o diretor do Sindicato dos Agricultores da Suíça, Martin Rufer. Ele alerta para o aumento dos preços ao consumidor.
As duas iniciativas populares federais relacionadas à agricultura, que serão analisadas pela população em 13 de junho, geram um intenso debate.
A Iniciativa por Água Limpa e Potável pretende privar os agricultores de pagamentos diretos pelo uso de pesticidas, pela administração de antibióticos para fins profiláticos aos animais que criam ou cujo sistema de produção exige a administração regular de antibióticos.
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Cresce demanda por alimentos sem pesticidas e água limpa
A lei sobre agrotóxicos, por sua vez, quer banir totalmente os agrotóxicos sintéticos e proibir a importação de alimentos que os contenham ou sejam produzidos a partir deles.
Os adversários a essas leis as qualificam como extremas. Eles acreditam que as propostas não levam em consideração a realidade do mundo agrícola de hoje na Suíça e que suas demandas prejudicariam os agricultores. Além disso, apontam que as medidas não atingiriam seus objetivos, pois a produção de alimentos seria simplesmente terceirizada.
Martin Rufer é membro do parlamento cantonal de Solothurn e dirige o Sindicato dos Agricultores da Suíça há um ano. Se ele assumiu o cargo em meio à pandemia do coronavírus e as questões levantadas por essas duas iniciativas provavelmente o preocupam mais do que o vírus.
swissinfo.ch: O 13 de junho tira o seu sono?
Martin Rufer: Eu confio no bom senso dos cidadãos. Espero que eles percebam que a agricultura suíça está melhorando constantemente. Esse processo será acelerado novamente com a nova lei de agrotóxicos. Mas uma coisa é certa: a agricultura suíça e a indústria de alimentos como um todo estão sofrendo muito com essas iniciativas agrícolas extremas.
Em que situação ficaria a Suíça se essas propostas fossem aprovadas?
Se aprovadas, teremos como efeito a redução drástica da produção suíça de alimentos. Esperamos queda de 20% a 30%. Portanto, devemos importar muito mais do exterior. E, claro, de partes do mundo que têm padrões de produção muito inferiores aos nossos. No geral, A Iniciativa de Água Potável aumentaria o impacto ambiental do consumo dos suíços. Ambas as iniciativas são, portanto, contraproducentes para o meio ambiente.
Há duas propostas na mesa às quais o sindicato dos agricultores se opõe fortemente. Iniciativas semelhantes estão em andamento e a agricultura está sob pressão crescente. Como você explica isso?
A agricultura ocorre ao ar livre e a comida é um tema emocional. As pessoas estão muito preocupadas com isso. Além disso, a agricultura recebe pagamentos diretos pelos seus serviços de interesse geral.
Na Suíça, produzimos de forma sustentável e levamos as preocupações da sociedade a sério. Por exemplo, no que diz respeito ao uso de agrotóxicos e à importação de forragens. Temos boas respostas para esses desafios e os estamos levando a sério. Essas duas iniciativas interromperiam completamente todo o setor agrícola e de alimentos da Suíça.
Não é um mal-estar geral ligado ao fato de a Suíça não estar fazendo o suficiente em termos de proteção ambiental? Afinal, as propostas gozam de simpatia para além do espectro da esquerda e dos ambientalistas.
As preocupações ambientais são de grande importância para todos, incluindo nós. Os agricultores dependem de meio ambiente e solos saudáveis para que as gerações futuras também possam produzir alimentos. Muitas novas leis foram adotadas para reduzir os impactos ambientais negativos. Este é o caminho certo a seguir. Iniciativas extremas não são uma solução.
Você pode entrar em detalhes?
Existe um plano de ação nacional sobre produtos fitofarmacêuticos que estabelece metas vinculativas para a redução do uso de pesticidas. A nova Lei de Pesticidas do Parlamento tornou este ponto uma realidade. Também temos estratégias do Conselho Federal para fortalecer a biodiversidade e reduzir o uso de antibióticos na agricultura. Todas essas são medidas concretas e direcionadas para alcançar uma produção de alimentos ainda mais sustentável.
A iniciativa parlamentar adotada na última sessão pode jogar as iniciativas populares para debaixo do tapete?
Sim, este projeto é provavelmente a legislação de pesticidas mais rígida do mundo. Esta é uma resposta eficaz e confiável a ambas as iniciativas. A lei agora estipula que o uso de produtos fitossanitários deve ser massivamente reduzido. Os riscos devem ser reduzidos em 50% até 2027. Isso também reduzirá a presença de resíduos na água. Este caminho por meio de uma legislação estrita de pesticidas não é apenas mais promissor, mas também significativamente mais rápido do que as iniciativas.
A suspensão da tão esperada reforma da política agrícola em dezembro passado, apoiada em particular pelo Sindicato dos Agricultores da Suíça, gerou discussões. Não é provável que isso resulte no lançamento de outras iniciativas semelhantes no futuro?
A reforma da “Política agrícola a partir de 2022” (PA22 +) foi suspensa por apresentar deficiências gritantes: a autossuficiência teria entrado em colapso e a renda dos agricultores teria caído enormemente. Ao mesmo tempo, o Parlamento abandonou as medidas ambientais. No entanto, elas foram implementadas como parte da legislação de pesticidas, que estará pronta para entrar em vigor nos próximos meses.
“Achamos particularmente difícil que nossos esforços e sucessos sejam ignorados”
Martin Rufer, Diretor do Sindicato dos Agricultores da Suíça
Supondo que as duas iniciativas sejam aprovadas, você prevê algum problema com os acordos internacionais firmados pela Suíça em relação às restrições de importação exigidas por uma das duas iniciativas?
O Conselho Federal presume que as restrições de importação propostas não se aplicariam, pois violariam nossas obrigações para com a Organização Mundial do Comércio (OMC). Haveria também um problema com o acordo de livre comércio com a União Europeia. Portanto, é seguro dizer que a implementação seria controversa, levando anos e colocando em cheque os nossos tratados internacionais.
Qual será a reação do Sindicato dos Agricultores da Suíça se essas propostas se concretizarem?
A aceitação seria um choque para toda a indústria agrícola e alimentar, bem como para os consumidores, que enfrentariam preços mais elevados. Também haveria um impacto enorme na indústria de chocolate, processamento de café e outros.
Qual é o estado de espírito dos agricultores suíços?
A atmosfera está tensa. O que achamos particularmente difícil é o fato de que nossos esforços e sucessos são virtualmente ignorados. Pelo contrário, parecemos ser os responsáveis por todos os problemas ambientais de causa humana.
Ainda assim, as famílias agricultoras estão começando a produzir mais produtos orgânicos, na medida em que a demanda cresce. O percentual de orgânico vendido é de apenas 11%. Este é um verdadeiro motivo de preocupação: as expectativas sociais são formuladas, mas o comportamento do mercado é diferente.
Adaptação: Clarissa Levy
Adaptação: Clarissa Levy
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