O recomeço de uma suíça do estrangeiro em meio à pandemia
O sonho de Lotti Pfyl de viver na Alemanha fracassou. Ela agora irá voltar após passar cinco anos no exterior. Em seu diário conta à SWI como se prepar e as dificuldades que enfrenta.
“Em setembro, finalmente chegou a tão esperada visita da Suíça: era meu filho, que veio contar as últimas novidades. Na próxima primavera irá trabalhar como gerente de um restaurante turístico no centro do país. Quando partiu, tive o meu primeiro sentimento de saudades.
Era uma dor. Meu coração acelerou e até senti falta de ar. Nunca havia tido algo assim antes. Melancolia nas despedidas era comum, mas nunca ela foi tão intensa como naquele momento. Agora em meio à pandemia, sem contatos, mesmo no novo lugar, a saudade da família, do lar, é mais forte do que nunca.
Lutei para admitir a mim mesmo que meu sonho de uma vida diferente em um outros país não tinha se concretizado. Tive de admitir a mim mesmo que não sou uma empreendedora nata. Na verdade, sou uma pessoa criativa, com algumas boas ideias a se concretizar. Tive que aceitar que não tinha mais forças para construir algo de novo. Admiti-lo não foi fácil.
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Que obstáculos?
Inicialmente este caminho não estava claro. Era como caminhar na floresta no outono e a trilha estar coberta de folhas. É preciso avaliar o risco potencial de tropeçar em algum buraco. Neste caminho não é possível correr, mas sim caminhar, com cuidado e consciência.
Agora uma nova fase da vida me espera. A vida de alguém que voltou para casa e que possivelmente terá de viver da assistência social, a não ser que outro pequeno milagre ocorra. E o que significa viver no nível mínimo da subsistência?
“Significa agora viver com uma renda mínima?”
Estou convencida de que será uma vida com menos posses, mas com mais qualidade. Minha cabeça gira agora mesmo. Tenho tantos pensamentos passando pela cabeça. Sei que na Suíça irei viver em um pequeno apartamento com dois quartos, cozinha e banheiro. Eu preciso selecionar o que posso levar comigo.
Se livrando de “peso”
Eu darei os meus livros, que me acompanham há décadas e são de grande importância para mim. Também terei menos coisas em casa. O que fazer com todas as panelas e frigideiras, pratos e talheres para 12 pessoas? Não que queira limitar meus bens a apenas 100 objetos, como é a tendência hoje em dia. Mas como todos sabemos, ter menos coisas é ter uma vida melhor. Assim fico até feliz de saber que minhas malas estarão mais leves. Estou até um pouco orgulhosa de mim mesmo por conseguir me separar de tantas posses e dizer adeus aos meus tesouros, sem lágrimas.
No entanto, uma arca de “tesouro” retorna à Suíça sem ser tocada. Ela é importante não para mim, mas para meus filhos. Ela contém fotos de família, anúncios de nascimento, velas de batismo de meus filhos ou as notas copiadas durante a visita anual do Papai Noel. Agora também quero colocar algo importante nessa arca: as lembranças da emigração.
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Que trago de volta à Suíça”?
Que coisas levarei comigo no retorno à Suíça? Seguramente: minha cadela Kiuma. Ela está comigo desde o verão de 2016. Sem ela não teria sobrevivido aos meses de pandemia como uma suíça no estrangeiro. Provavelmente colocarei umas lembranças dela, suas fotos e minhas experiências no baú.
Sem clima de Natal
Eu percebi que o Natal chegou através do calendário e pelas canções natalinas que escutava na rádio. Minha decoração ainda estava no porão. Eu só pintei estrelas com giz nas janelas e pendurei uma grande estrela de madeira na porta de casa. O anjo de Natal recebia uma nova luz de vela todas as noites.
Fui convidada para tomar chá com meus queridos vizinhos. Foi muito bom. Pelo menos isso me deu um pouco do espírito natalino. Também me senti menos solitária nesse período.
Eu não sentia que era Natal. Eu não estava viajando à Suíça para visitar família e amigos. Também não esperava nenhuma visita da Suíça. Na Alemanha quase não tenho contato com outras pessoas, exceto uma amiga suíça.
Eu conheci-a e sua filha adotiva quando passeava com a minha cadela. Então celebramos o Natal juntos com um prato de risoto e um copo de vinho tinto. Foi um pequeno raio de esperança na minha vida.
Adaptação: Alexander Thoele
Retorno à Suíça
Lotti Pfyl conta no seu blog como está sendo o retorno à Suíça. O próximo artigo será publicado pouco antes da sua viagem de retorno, no final de janeiro.
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