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Da Cidade do Sol à Cidade do Cérebro

Foto NeuroNews

No último artigo descrevemos a cidade suíça de Davos como "Cidade da Ciência".

Esta vez apresentamos a “Cidade do Cérebro”, como vem sendo denominada Natal, a capital do Rio Grande do Norte, em pleno Nordeste brasileiro.

Por Safira e Paul Ammann, Natal, Brasil

A denominação deve-se ao fato de ter sido nela inaugurado em fevereiro 2007 o Instituto Internacional de Neurociências de Natal (
IINN) e terem sido realizados dois Simpósios Internacionais de Neurociências, com a participação de 25 cientistas palestrantes, dos quais três suíços (do Instituto Cérebro e Mente da Escola Politécnica Federal de Lausanne e do Centro de Pesquisa da Nestlé), além de 300 pesquisadores brasileiros e 400 ouvintes.

O paulista Miguel Nicolelis, fundador do IINN

O fundador do IINN é o professor Miguel Nicolelis, 45 anos, nascido em São Paulo, formado médico pela Universidade daquela cidade em 1984 e respeitado neurobiólogo da Universidade Duke dos Estados Unidos. Ofereceu importantes contribuições à neurociência básica e é considerado um dos maiores especialistas do mundo nas experiências com microeletrodos neurais implantados em macacos, visando o desenvolvimento de próteses ou membros robóticos para seres humanos, tais como braços e pernas artificiais comandados diretamente pelo cérebro, pensamento ou vontade.

Nicolelis é considerado o “sonhador-mor” do Instituto de Neurociências em Natal, contando com dois outros cientistas, colegas nos Estados Unidos, Cláudio Mello e Sidarta Ribeiro, o último atualmente diretor do IINN. Com eles, inicialmente trabalham 12 pesquisadores.

Quais as aplicações da neurociência em Natal?

Em primeiro lugar, o Instituto não pretende ser um centro que em pouco tempo se transforme em um elefante branco, uma torre de marfim que serve meramente para abrigar cientistas. O Instituto tem “como objetivo a gestão de recursos próprios e de terceiros para a implantação de projetos sociais e de pesquisa científica.

Fundamenta-se na concepção de que a ciência de ponta pode, em países em desenvolvimento como o Brasil, servir como um poderoso agente de transformação social e econômica de comunidades localizadas em regiões carentes do território nacional” (veja link Revista Pesquisa Fapesp).

Interdisciplinar e inserido na sociedade, o IINN oferecerá um projeto de educação científica infanto-juvenil para crianças da rede pública, o primeiro do Brasil, um centro de educação básica e um centro de saúde materno-infantil.

O Instituto, interligado com os principais centros de neurociência do mundo, trabalha com pesquisa de ponta e aplicação imediata dos resultados na população em todos os níveis de ensino. “O lema é o uso da ciência como um agente de transformação social”.

Conforme Nicolelis “essas crianças vão navegar no meio da criatividade. Se um garoto revelar-se um gênio da astronomia, ele não vai fazer Física na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Será o nosso astrônomo” (veja link Carta Capital).

Nicolelis tem certeza de que as crianças “serão cientistas com o que tiveram na mão. Aprenderão biologia a partir da análise do solo do bairro onde moram para que percebam quanta vida existe em um pedaço de terra. Com um telescópio olharão para o céu e passarão à matemática. O que falta é mostrar que a ciência é fruto da combinação de talento, paixão, perseverança e, sobretudo, interesse.” (veja Isto É 10/01/2007, no link IINN).

Conclusão

O Instituto de Neurociências terá uma influência altamente positiva na sociedade de Natal e de seus subúrbios. Despertando o interesse dos jovens na ciência e pesquisa, acolhendo e orientando-os nos centros educacionais, novas perspectivas lhes serão oferecidas.

Essa oferta aparece em boa hora, porque o turismo de massa ligado ao turismo do sexo se avoluma cada vez mais em Natal, prejudicando não somente os jovens, mas toda a sociedade.

Como a pesquisa científica aplicada à sociedade é relativamente nova em Natal e no Nordeste em geral, aos jovens pesquisadores, agora e no futuro, será oferecido um profícuo e amplo mercado de trabalho.

Por que foi escolhida Natal como Cidade do Cérebro?

Nicolelis tinha o sonho de um dia trazer de volta para o Brasil o que ele aprendeu lá fora, não somente a mais avançada neurociência, mas também a gestão cientifica, a busca da excelência e a consciência de que a ciência faz parte da equação da soberania de uma nação e de uma região, sobretudo quando ela é pobre.

A idéia é aplicar a pesquisa da neurociência e seus resultados em regiões com os piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil.

De fato, todos os índices que compõem o Índice de Desenvolvimento Humano do Estado do Rio Grande do Norte são inferiores à média nacional, ocorrendo as maiores diferenças justamente no IDH-Educação e no IDH-Renda.

No município de Macaíba, pertencente à Grande Natal e onde serão implantados os centro de educação científica infanto-juvenil e de saúde materno-infantil, o Índice de Desenvolvimento Humano é mais baixo ainda.

A educação no Estado não é somente precária em termos quantitativos – reduzida taxa de escolarização da população em idade escolar – mas também em termos qualitativos, ou seja, grande parte dos alunos que termina a 4ª série do ensino fundamental continua sem saber ler e escrever.

Outra razão da escolha de Natal como sede do IINN é a idéia de Nicolelis de descentralizar a ciência e pesquisa no Brasil que se concentra tradicionalmente no eixo Brasilia – São Paulo – Rio e na Região Sul do país.

A partir de Natal, que o cientista quer transformar em centro biotecnológico do país, poderá ser atendido o Nordeste e o Norte, regiões consideradas como celeiros para o descobrimento de novos talentos.

Safira Bezerra Ammann nasceu em Caicó (Rio Grande do Norte) e Paul Ammann em Davos. Ela é socióloga e assistente social, ele sociólogo e economista. Ela foi professora das Universidades de Brasília e do Rio Grande do Norte e pesquisadora da Universidade de Fribourg na Suíça. Foi colaboradora científica na Secretaria de Estado dos Refugiados Políticos de Fribourg. Escreveu seis livros, sendo dois em co-autoria com Paul Ammann.

Paul Ammann trabalhou nos Ministérios do Trabalho do Brasil e da Suíça, nas Secretarias de Saúde Pública de Berna e do Rio Grande do Norte, no CNPq e SENAI em Brasília. Publicou artigos na Suíça, Alemanha, Indonésia e no Brasil

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