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Governo compra antiga sede da Escola Suíça no Rio

O prédio em Santa Tereza, em 1991 O prédio da Barra da Tijuca, em 1991 (ESB)

Pouco mais de dois anos depois de deixar de abrigar oficialmente a Escola Suíço-Brasileira no Rio de Janeiro, a tradicional sede localizada no charmoso bairro carioca de Santa Teresa passa a ser, definitivamente, parte do passado.

O Governo do Rio concluiu nesta segunda-feira (10) a compra do imóvel, por R$ 4 milhões, e anunciou que pretende criar ali uma escola que sirva como modelo de qualidade a ser seguido pelas outras unidades incluídas no plano de expansão da rede pública estadual de ensino.

A compra da sede de Santa Teresa pelo governo estadual encerra um ciclo iniciado em 1962, quando a ESB foi fundada e se instalou na cidade como símbolo de um ensino de qualidade voltado para a comunidade suíça no Rio de Janeiro e para parte da elite carioca interessada em que seus filhos aprendessem idiomas como o francês e o alemão.

O passar dos anos, no entanto, foi gradualmente descaracterizando a ESB carioca. A escola teve o seu número de professores e alunos suíços reduzido, a ponto de perder em 2005 seu credenciamento junto ao governo da Suíça e o direito a mais da metade das subvenções que recebia do Departamento Federal de Cultura, em Berna.

Modelo para a rede pública

O nome da escola foi mantido, mas já não era mais possível arcar com os custos de manutenção da grandiosa sede de Santa Teresa. Assim sendo, a maior parte das atividades da ESB foi transferida para a Barra da Tijuca, onde funcionava uma filial da escola. Após o baque inicial com a saída da antiga sede, a ESB do Rio de Janeiro volta a crescer e já sonha com a recuperação de seu antigo status, mas a confirmação da venda do casarão em Santa Teresa certamente traz um gosto amargo para quem estudou ou trabalhou na escola durante os tempos áureos da instituição.

Por parte do governo, a aquisição do imóvel em Santa Teresa é motivo de júbilo. O secretário estadual de Educação, Nelson Maculan Filho, afirmou que pretende inaugurar a nova unidade, que ainda não tem nome definido, no início do ano letivo de 2008, em fevereiro: “A nova unidade deverá receber cerca de 600 alunos e será um modelo para a rede pública estadual. Ela será voltada para o ensino médio, trazendo também opções de cursos profissionalizantes”, diz.

A infra-estrutura da antiga sede da ESB, segundo Maculan, será fundamental para transformar a nova unidade em modelo para toda a rede pública: “O prédio é excelente e tem uma estrutura importante, com diversas salas de aula, laboratórios e uma boa piscina. Pretendemos utilizar os laboratórios de ciência e de idiomas”, adianta o secretário, satisfeito com o que encontrou: “Se quisermos, existe estrutura até mesmo para montarmos um laboratório de culinária”.

Maculan ressaltou ainda a importância da localização do imóvel: “Santa Teresa é um bairro que tem uma população considerável, mas estava sem opção de escola para ensino de nível médio. Além disso, existem no bairro sete comunidades carentes sem que haja escolas públicas nas proximidades. Por isso, a aquisição dessa nova unidade nesse bairro é muito bem-vinda”, diz o secretário.

ESB-RJ de olho no futuro

Entre os professores e membros da atual direção da ESB no Rio, a venda da sede de Santa Teresa é vista com resignação. No começo de 2007 a unidade da Barra da Tijuca recebeu os últimos 104 alunos que ainda estudavam numa parte da antiga sede que permaneceu ocupada até o fim do ano passado. Agora, os laços ficarão apenas na memória de cada um: “A compra já estava fechada e faltavam apenas alguns aspectos documentais para fecharmos o negócio. A antiga sede está em boas condições, pois foi objeto de manutenção durante estes últimos anos”, conta Celso Vieira, que é gerente administrativo da ESB.

Apesar da melancolia com a perda de um símbolo de seu passado, todos na ESB querem mesmo é pensar no futuro, pois estão cientes de que a escola inicia um novo ciclo de crescimento: “Contamos atualmente com 358 alunos e já estamos com fila de espera para 2008, quando deveremos ultrapassar os 400 alunos”, comemora Vieira, lembrando que a filial da Barra da Tijuca começou com somente 30 alunos do ensino infantil em 2002.

O principal trunfo da ESB no Rio foi ter conseguido manter o nível de seu ensino em meio à crise. Mesmo não ostentando mais o status de escola suíça oficialmente reconhecido por Berna, a unidade carioca é vista na cidade como uma escola de excelência, procurada por famílias de classe média alta em condições de pagar mensalidades de R$ 2.030,00 (ensino médio) e R$ 1.070,00 (ensino infantil).

“Muitas famílias nos procuram interessadas em que seus filhos aprendam algum idioma estrangeiro. Além do alemão e do francês, que ensinamos como línguas maternas da Suíça, temos também um aprendizado de inglês de alto nível, que começa a partir da sexta série”, afirma Vieira.

Direção suíça

O restabelecimento da relação antiga com Berna é um sonho que já pode ser vislumbrado no horizonte. Um passo dado nessa direção foi a chegada há um ano do suíço Thomas Wolfer para ocupar o cargo de diretor-geral da ESB no Rio. Wolfer trabalhara anteriormente na Escola Suíça de São Paulo, que ainda mantém seu credenciamento junto ao governo suíço, e sua presença na escola do Rio é um indicativo de que a ponte com o Departamento Federal de Cultura pode ser reconstruída.

Todos os envolvidos com a ESB sabem, no entanto, que não é mais possível reviver a realidade de dez ou vinte anos atrás, quando a escola e o Rio de Janeiro eram outros. O número de professores suíços, por exemplo, chegou a treze em 1998, mas atualmente é de apenas dois, que são mantidos graças à ajuda vinda da Suíça.

O número de estudantes suíços chegou a passar dos cem nos anos oitenta e era de 41 quando a escola perdeu seu credenciamento em 2005. Depois disso, diminuiu bastante, mas voltou a crescer este ano. Atualmente, são 33 os alunos suíços que estudam na Barra da Tijuca: “Esperamos que esse número aumente em 2008”, diz Celso Vieira.

swissinfo, Maurício Thuswohl, Rio de Janeiro

Com honrosas exceções, a má-qualidade das escolas que compõem a rede pública estadual de ensino é um problema que sucessivos governos não conseguiram resolver no Rio de Janeiro. Em primeiro ano de mandato, o governador Sérgio Cabral Filho e o secretário estadual de Educação, Nelson Maculan Filho, anunciaram a intenção de expandir o número de escolas da rede e melhorar as condições de ensino, sobretudo no que concerne ao salário dos professores, que atualmente chega, em alguns casos, a pouco mais de R$ 600,00.

Os professores do Rio de Janeiro passaram por quatro governos – Marcello Alencar, Anthony Garotinho, Benedita da Silva e Rosinha Matheus – sem receber aumento real. Foram doze anos de sucateamento do salário da categoria. Em sua primeira tentativa de reverter esse quadro, Cabral e Maculan ofereceram um aumento parcelado que se estenderia pelos próximos quatro anos, mas a proposta foi rechaçada pelos professores. Uma nova negociação entre o governo e o Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação (Sepe) está em curso.

Em 2007, o governo ofereceu 136.225 vagas em todo o estado para a 5ª série do ensino fundamental ou para o primeiro ano do ensino médio. O governo pretende valorizar o ensino profissionalizante de nível médio, e para isso trabalha para estabelecer parcerias com o objetivo de utilizar o parque industrial do estado para potencializar o aprendizado de disciplinas como física, química, matemática e biologia. Programas de inclusão digital, como o que vai possibilitar o aceso à internet banda larga em 21 escolas no interior do estado, também estão sendo firmados pela Secretaria de Educação.

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