Perspectivas suíças em 10 idiomas

Governo português quer maior participação dos pais nas escolas

Em médio prazo, a escolaridade obrigatória começará aos 4 anos. Keystone

Muitos dos filhos dos imigrantes em geral, inclusive portugueses, têm maus resultados escolares principalmente por causa dos idiomas.

Entre as medidas destinadas a reverter essa situação está uma maior participação dos pais nas comissões escolares, segundo o Secretário de Estado para as Comunidades, António Braga.

As autoridades de Portugal estão preocupadas em melhorar os resultados escolares das crianças e jovens portugueses nas escolas suíças.

Na Suíça, a educação é da esfera cantonal mas existe uma entidade nacional, chamada Conferência dos Secretários Cantonais de Instrução Pública (CDIP, na sigla em francês), encarregada da coordenação de um projeto de homogeneização do ensino público obrigatório.

Contatos começaram em julho

Uma delegação dirigida pelo Secretário de Estado das Comunidades, António Braga, esteve reunida com a presidente da CDIP, Isabelle Chassot, em julho do ano passado. A segunda reunião ocorreu em 23 de janeiro último, em Berna.

Entre as duas reuniões de trabalho, uma verdadeira bomba caiu sobre a comunidade portuguesa na Suíça. Um relatório interno do CDIP chegou ao conhecimento de representantes da comunidade portuguesa e causou reações de indignação.

Esse relatório afirmava que os alunos portugueses raramente acedem a uma formação pós-obrigatória, profissional ou universitária, e que “os fracos resultados” das crianças portuguesas se devem ao desinteresse total dos pais em acompanhar a educação dos filhos e à “origem sociocultural modesta”.

Relatório foi uma bomba

Os autores do documento arriscaram inclusive uma análise histórica ao afirmar que os portugueses da Suíça não têm uma liderança a seguir porque, depois da democratização do pais, em 1974, os quadros e intelectuais portugueses que haviam estudado na Suíça voltaram para o país.

As reações não tardaram, sobretudo de dois conselheiros da comunidade portuguesa na Suíça: Manuel de Melo e António Dias Ferreira, cujas opiniões foram publicadas pela imprensa portuguesa. Eles afirmaram que a análise do CDIP “não está sustentada em qualquer estudo sério elaborado para o efeito”.

Consideraram que o relatório “tira conclusões escabrosas que revelam um desrespeito profundo pela comunidade lusa, além de demonstrar um desconhecimento absoluto daquilo que representa hoje a comunidade portuguesa na Suíça, onde se destacam professores universitários, médicos, políticos, sindicalistas e quadros superiores de muitas empresas, destacados empresários”.

Idioma e classes especiais

A questão central parece ser a presença, acima da média, de crianças portuguesas nas classes especiais que, no sistema de ensino suíço atual, oferecem poucas perspectivas de formação.

Segundo o embaixador de Portugal em Berna, Eurico Henriques Paes, a média de alunos portugueses nessas classes é de 11%, enquanto a média das crianças de outras nacionalidades, inclusive suíças, é de 5%.

Em entrevista a swissinfo (ouça na coluna à direita), o Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, António Braga, afirmou que “o eventual relatório não constituiu dificuldade para ambas as partes. Isso ficou muito claro e as relações continuam excelentes”.

Para António Braga, o essencial é que os sistemas de ensino garantam igualdade de oportunidades a todos os alunos e as eventuais dificuldades no aprendizado, no caso da Suíça, do francês e do alemão, não justificam, por si só, a inclusão nas classes especiais.

O Secretário de Estado prefere enfatizar que o projeto de harmonização do ensino básico, em processo de gestação na Suíça, vai solucionar muitos problemas. Um dos exemplos que ele cita é a escolarização a partir dos 4 anos, “o que fará com que as crianças aprendam o idioma mais cedo”.

Professores e pais dos alunos

Bernard Wicht, chefe de assuntos internacionais do CDIP, confirmou a swissinfo que essa e outras medidas são parte do programa de harmonização do sistema de ensino público que, “no longo prazo”, deverão melhorar a integração das crianças e jovens oriundos da imigração.

Outras medidas serão o ensino de culturas e línguas estrangeiras integrado ao sistema escolar, com neutralidade política e religiosa; insistência no ensino regular e menos ênfase nas classes especiais; avaliação regular e estímulo à reintegração dos alunos dessas classes ao ensino regular; melhor colaboração com os delegados cantonais da imigração, entre outras.

No caso dos portugueses, a intenção é estreitar os contatos dos 150 professores de português existentes na Suíça com as famílias, para que estas compreendam melhor o sistema de ensino e passem a participar dele através das comissões de pais.

swissinfo, Claudinê Gonçalves

Os problemas de alunos portugueses em escolas suíças vêm sendo discutidos desde julho de 2007, entre uma delegação portuguesa chefiada pelo Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, António Braga, e a presidente da Conferência Suíça de Diretores Cantonais da Instrução Pública, Isabelle Chassot.

A questão central é o número de crianças portuguesas nas classes especiais que, no sistema atual, dá poucas perspectivas de prossegir os estudos. Para um certo número de alunos, a presença nessas classes seria atribuísa à dificuldades no aprendizado do francês ou do alemão.

Uma série de medidas de médio e longo prazos serão implementadas nas escolas suíças para facilitar a integração de crianças estrangeiras.

Por sua vez, os 150 professores de português na Suíça tentarão estimular os pais das crianças portuguesas a terem uma maior participação nas vida escolar de seus filhos.

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