Uniforme escolar combate endividamento
Duas classes de uma escola primária na Basiléia irão introduzir uniformes escolares desenhados por estudantes de design.
O projeto é apoiado pelo centro de orientação contra endividamento “Plusminus”, professores e pais de alunos. Na Suíça não existe obrigatoriedade do uniforme.
Roupas da Hugo Boss, Dolce & Gabbana ou Lacoste; tênis da Adidas ou Nike e celulares multimídia para enviar torpedos-vídeo ou conversas intermináveis com os amigos: nas escolas a juventude helvética mostra que gosta de consumir. Quem não tem dinheiro para manter a pose, termina isolado como um pária.
A pressão do consumo tem como resultado o endividamento de pessoas que ainda vivem na casa dos pais. Pesquisas mostram que a dívida média de um jovem de trezes anos é de 500 francos, porém muitos já devem quantidades de até quatro cifras.
Para combater o problema, centros de orientações contra endividamento, pais e professores estão lançando na Basiléia um projeto que prevê a introdução de uniformes escolares em duas classes.
– Os uniformes podem contribuir para que os jovens consigam se concentrar melhor no conteúdo que é transmitido na escola. Dessa poderemos coibir essa exibição diária de marcas e objetos caros – afirma Christian Griss, reitor da Escola de Aperfeiçoamento da Basiléia.
Projeto de lei
Griss espera que os uniformes escolares sejam introduzidos em todo o cantão desde o jardim-de-infância. Porém é necessários que os políticos aprovem uma revisão das leis.
Os uniformes que serão utilizados nas duas classes, uma idéia na qual participam também os próprios alunos, foram desenhados por três jovens designers. Em abril uma comissão formada por especialistas, escolares e professores irá escolher qual dos modelos será costurado. A partir do outono, os jovens poderão começar a trajar o conjunto de roupas, que é composto por calça, camisetas, jaquetas, bonés, tênis e bolsas.
Patrocinadores
– Graças à utilização de uniformes, as famílias poderão economizar até 30% na compra de roupas para seus filhos. Sobretudo para aqueles que vivem com pouco dinheiro, essa ação trará um certo alívio. A realidade é que o endividamento entre a juventude é muito mais comum do que se imagina – diz Reno Sami, do Centro de Orientação contra o Endividamento da Basiléia.
A idéia do uso de uniformes escolares foi recebida com simpatia por parte dos alunos das duas classes, como contam dois professores. Os pais se prontificaram a cobrir até 10% dos custos.
Segundo Sami, cada conjunto de uniformes irá custar 900 francos. Esse valor pode baixar se outras classes participarem do projeto. Na fase inicial, patrocinadores poderão assumir a grande parte das despesas. Posteriormente o financiamento se dará de forma mista, incluindo também os próprios pais.
Outros cantões não se simpatizam
Christian Griss, o reitor na Basiléia, acredita que outros cantões também poderão introduzir uniformes nas suas escolas. Porém esse processo poderá levar muito tempo, sobretudo por questões políticas.
No cantão de Lucerna, o governo recusou uma proposta apresentada em fevereiro pelo partido UDC (União Democrática do Centro, de direita). No cantão de Solothurn o governo também foi contrário à proposta do partido FDP (Liberais), de introduzir uniformes escolares.
Ao mesmo tempo, também muitos jovens são contrários à idéia. No fórum de discussões aberto na Internet pelo jornal BAZ (Basiléia), muitos deles são claros em dizer que não gostam de uniformes.
– “A idéia é bem intencionada, mas eu teria muita dificuldade em gostar de trajar uniformes. Isso me lembra mais o exército ou aquela uniformização geral das mentes como nos tempos do nazismo” – escreve um dos participantes.
Muitos concordam que alguns alunos se pareçam mais como cartazes de publicidade, “porém isso é afinal sinal de liberdade”…
swissinfo com agências
Em janeiro de 2006 o governo do cantão de Lucerna declarou que é contra a introdução de uniformes escolares.
Na Suíça ainda não existe um cantão que obrigue os alunos a utilizarem uniformes escolares.
Na Europa, a obrigatoriedade de uniformes existe na Irlanda, Chipre e Grã-Bretanha. Outros países onde ela existe: Austrália, Singapura, Hong-Kong, Nova Zelândia, Índia, Japão, Coréia e África do Sul.
– Cada vez mais jovens na Suíça se endividam comprando roupas de marca, telefones portáteis, computadores ou telefonando demais.
– Especialistas calculam que crianças e jovens suíços dispõem de 600 milhões de francos anuais como mesada.
– A dívida média de um jovem de trezes anos é de 500 francos, porém muitos já devem quantidades de até quatro cifras.
– De acordo com uma pesquisa recém realizada com 1000 jovens, 760 deles disseram estar dispostos a se endividar no momento em que lhes faltar dinheiro em espécie.
– Na Finlândia as escolas dão cursos de administração da mesada e como lidar com dinheiro já entre a 7 e 9a série.
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