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A cor política da imprensa francófona em debate

O conhecido "Weltwoche" se tornou um semanário conservador. Keystone

A revelação de um projeto de jornal de direita na internet provoca polêmica no espaço midiático helvético.

O objetivo do empreendimento é oferecer aos suíços francófonos uma espécie de “Weltwoche”, o polêmico semanário conservador da parte germanófona do país.

A revelação de um projeto de jornal de direita na internet provoca polêmica no espaço midiático helvético. O objetivo do empreendimento é oferecer aos suíços francófonos uma espécie de “Weltwoche”, o polêmico semanário conservador da parte germanófona do país. Os iniciadores consideram que a imprensa francófona é demasiadamente de esquerda e não exprime a opinião da maioria. Especialistas analisam a questão.

“Uma boa orquestra não pode ter apenas flautas, mas sim necessita ter o maior número possível de instrumentos. Sou, portanto, favorável a qualquer forma de enriquecimento do mundo midiático”, afirma Roger Blum, especialista em mídias e presidente da Autoridade independente de exame de queixas da SRG SSR (Sociedade Suíça de Radiodifusão e Televisão).

Na metade de fevereiro, a imprensa helvética revelou que Uli Windisch, diretor do Instituto de Ciências da Comunicação de Genebra, havia convidado por correio setenta personalidades e jornalistas da Suíça francófona de direita a participar de um projeto de plataforma multimídia (ainda a definir) para “criar uma verdadeira corrente de pensamento”, onde “o ponto de vista anti-politicamente correto teria seu lugar.”

Segundo esse sociólogo próximo à direita, o recente plebiscito sobre a interdição das armas mostrou mais uma vez o fosso entre as mídias e os cidadãos da Suíça francófona. Ele está convencido que “um espaço midiático mais aberto e pluralista deveria permitir evitar que essa lacuna se alargue ainda mais.”

São todos esquerdistas?

Qualificado pelo Neue Zürcher Zeitung (NZZ, tradicional jornal de Zurique) de “anti-Jean Ziegler” (seu conhecido ex-colega socialista do Departamento de Sociologia da Universidade de Genebra), Uli Windisch queixa-se há muitos anos do “esquerdismo” das mídias francófonas. Segundo ele, elas manipulam o debate democrático.

“É verdade que, depois do desaparecimento do jornal de Genebra e da Gazeta de Lausanne, a Suíça francófona não tem mais uma publicação de direita como o Weltwoche (semanário próximo da direita conservadora do partido União Democrática do Centro – UDC, partido majoritário no Parlamento helvético) ou o NZZ (jornal próximo ao Partido Liberal Radical)”, analisa Roger Blum.

Mas afirmar que a imprensa francófona é esquerdista não seria fiel à realidade, acrescenta o especialista. “Eu diria que ela está mais ao centro, talvez possivelmente centro-esquerda, mas nunca à esquerda, com exceção do Le Courrier, de Genebra. O Nouvelliste du Valais fica, às vezes, a centro-direita, mas a maioria dos jornais francófonos se situa ao centro.”

A maior parte deles é de centro-direita, estima Alain Clavien, professor de história contemporânea da Universidade de Friburgo. “É necessário distinguir entre as editorias de cultura e sociedade, geralmente mais abertas e sem tabus. Mas a situação difere para outros temas. Pegue o exemplo do jornal Le Temps, cuja editoria de economia está a encargo de banqueiros: seu discurso é de ‘Estado em demasia’ e as qualidades do setor privado não tem nada de esquerdista, apesar de tudo!”

Com o “Le Temps”, a maioria dos jornais francófonos está nas mãos do único grupo, o Edipresse, com a notável exceção do “La Liberté”, “Courrier”, do “L’Express”, do “Quotidien Jurassien” ou do “Nouvelliste”. Mas todos estão submetidos a um regime de livre concorrência que não tem nada de ideológico.

Imprensa de opinião contra a imprensa de informação

O problema é que a imprensa suíça, bastante diversificada no passado devido ao multilinguismo, sofreu uma rápida concentração. Desde os anos 1970 ela começou a apagar as diferenças regionais e partidárias.

Foi assim que a opinião gradualmente cedeu lugar à informação. “Desde o escândalo de Watergate, tudo foi apostado no jornalismo de investigação”, observa Christian Campiche.

O vice-presidente da Associação Suíça de Jornalistas está ciente dos limites do politicamente correto. “Pegue o tabu dos estrangeiros. Em algumas redações não era possível escrever que um criminoso era estrangeiro. Ora, dessa forma criava argumentos para a direita e foi exatamente o que ocorreu. Eu compreendo o que Windisch quer dizer quando ele nota um déficit de opinião, mas ele não identifica bem as razões dessa situação, como, de resto, o remédio.”

Roger Blum acrescenta que com a chegada da imprensa popular (Blick, Le Matin) e a televisão nos anos 1960, depois, mais recentemente, dos jornais gratuitos e na internet, a informação passou a tratar de temas mais populares e se transformou em um produto comercial.

“Essas mídias são, por vezes, alimentadas por jornalistas com pouca experiência (e mal pagos), que se dedicam mais à técnica do que ao conteúdo. Isso resulta em artigos muito curtos e insuficientes. Para um verdadeiro debate político, seria necessário ter comentários e análises”, afirma Roger Blum.

Para Christian Campiche, a imprensa de opinião está tentando reconquistar seu pedigree. “Como vimos que não existe a objetividade, seria talvez mais honesto declarar a cor política. Por outro lado, o modelo do jornal em papel, financiado por publicidade e controlado pelo empresariado, acabou. É necessário encontrar outra coisa…Por que não a internet?”

A UDC na divisão entre os grupos linguísticos

Maior partido do país, a UDC sonha de ter um jornal. No outono passado, ela tentou conquistar o “Basler Zeitung” (jornal diário da Basileia), mas recuou frente a uma mobilização da população da cidade. Por razões econômicas, ela dispensou o mercado da Suíça francófona, que é considerado muito pequeno.

“Atualmente, a Suíça francófona não dispõe da rica tradição ‘publicista’ das revistas intelectuais engajadas da parte alemã do país. Lá, a direita liberal, mas, sobretudo conservadora, dispõe de lugares de reflexão como a revista Weltwoche e Schweizerzeit, que combinam jornalismo, aprofundamento cultural e engajamento militante”, observa Oscar Mazzoleni, professor da Universidade de Lausanne e diretor do Observatório da Vida Política em Bellinzone.

“Se Uli Windisch encontrar um financiamento para o seu projeto, isso seria uma tentativa de recuperar esse atraso intelectual”, nota Mazzoleni. Além disso, o projeto deve ser entendido levando-se em conta questões mais prementes dos partidos de direita: não apenas a questão dos acordos para formar as diferentes listas em um ano eleitoral, mas também, de forma mais geral, a definição das relações entre a direita liberal e a direita conservadora no plano intelectual.”

Em 1940 haviam 400 jornais pagos na Suíça. Já em 2010, esse número passou para 193 (dos quais 72 jornais diários e 77 semanários).

Idiomas da imprensa helvética: 143 publicações são germanófonas (dos quais 13 dos principais jornais do país), 30 francófonas e 9 são produzidas em italiano.

Grupos: os principais grupos de imprensa são Ringier, Tamedia e NZZ na parte germanófona do país. Edipresse, o único grande grupo da Suíça francófona, foi comprado pela Tamedia em 2010.

A Edipresse publica: Le Temps, 20 minutes, Le Matin, Tribune de Genève / 24 Heures, Le Matin Dimanche.

Jornais fora do grupo Edipresse: La Liberté (Friburgo), L’Express / L’Impartial (Neuchâtel), Le Nouvelliste (Valais), le Quotidien jurassien, Le Courrier (Genebra).

Forte: imprensa suíça

Uli Windisch, diretor do Instituto de Ciências da Comunicação, Mídia e Jornalismo da Universidade de Genebra, deseja criar um jornal online para dar espaço a autores e jornalistas de direita.

Ele procura financiamento para um orçamento anual de 331 mil francos, com dois jornalistas a tempo parcial, uma secretária e um webmaster.

O projeto foi proposto aos jornalistas Pascal Décaillet (ex-jornalista da Rádio da Suíça francófona) e Philippe Barraud (ex-chefe de redação da revista L’Hebdo), que já escrevem para blogs autorais na internet.

Outros convidados seriam políticos de direita como Martine Brunschwig-Graf, Jean-René Fournier, Christian Luscher e Yves Nydegger. Também advogados Marc Bonnant e Charles Poncet ou o professor de economia Stéphane Garelli.

Adaptaçao: Alexander Thoele

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