Acionistas se recusam a absolver ex-dirigentes do UBS
Os antigos dirigentes do UBS que quase faliram o banco, salvo com dinheiro público, não foram absolvidos pelos acionistas, como queria a direção atual e o conselho de administração.
Na assembleia anual em Basileia, na quarta-feira (14), quase 53% dos acionistas votaram contra a absolvição no exercício 2007, o que significa que os antigos dirigentes poderão ser processados na justiça civil.
Depois de mais de sete horas de debates, uma onda de aplausos tomou invadiu a sala Sankt Jakob, em Basileia. Os acionistas do UBS, maior banco suíço, votaram contra a proposta de absolver definitivamente os dirigentes que quase levando o banco à falência, em 2007. A direção atual e o conselho de administração do UBS propunham esquecer o passado.
Com o voto de 52,75% dos acionistas, o então presidente do conselho de administração, Marcel Ospel (até 1° de abril de 2008), o empresário Ernesto Bertarelli e os diretores da época, Peter Wuffli e Marcel Roher, podem ser processados na justiça civil.
Eles dirigiam o UBS quando estourou a crise hipotecária nos Estados Unidos. Eles também são acusados de ter fomentado atividades ilegais de clientes que fraudavam o fisco norte-americano. Agora, os acionistas querem que eles prestem contas.
Dominique Biedermann, fundador e diretor da Fundação Ethos, que tem quase 80 membros, a maioria caixas de pensões suíças, estampava um largo sorriso depois do voto. Ele foi um dos artesãos do sucesso como infatigável defensor de mais ética e boa governança nas grandes empresas.
Um primeiro alerta: os salários
“É a primeira vez que os acionistas de uma grande empresa suíça se recusam a absolver a direção. Os acionistas também deram um sinal forte, recusando por 45% dos votos a política de remunerações do UBS.”
A assembleia durou quase oito horas e a maioria dos oradores criticou os dirigentes do banco. Um dos raros acionistas que defendeu a antiga direção foi vaiado.
“Vossos predecessores cometeram erros graves”, disse na Dominique Biedermann, dirigindo-se aos membros do conselho de administração atual. “Eles não somente perdeu o dinheiro do banco, mas colocaram em perigo a praça financeira suíça e a estabilidade social da Suíça”, acrescentou.
Único meio de voltar ao normal
“Nós, Ethos, somos acionistas a longo prazo e temos interesse em que o UBS se recupere rapidamente”, declarou à swissinfo.ch. “Para isso, o conselho de administração precisa se distanciar claramente da antiga direção”, precisou.
Em contrapartida, os acionistas votaram amplamente a favor da gestão em 2008 (77,37%) e 2009 (85%). “As recomendações de voto dos acionistas dos Estados Unidos iam nessa direção e eles são muitos importantes no UBS”, explica Dominique Biedermann. “Os de Hong Kong aceitaram absolver os ex-dirigentes, mas eles não têm peso”, acrescentou.
O deputado estadual democrata-cristão, Paul-André Roux, especialista em direito fiscal, falou contra a absolvição, considerando-a “indecente e imoral”. A deputada socialista Susanne Leutenegger Oberholzer também falou contra a absolvição.
“A política, o Estado e todos os contribuintes pagaram pelos erros do UBS. O Banco Central Suíço (BNS) ainda detém 20 bilhões de francos de papéis sem valor do banco”, argumentou.
Uma mão de ferro e outra de veludo
Depois do voto, o presidente do conselho de administração e ex-ministro Kaspar Villiger, declarou que esse “sinal claro de mau humor seria levado a sério”. Disse que o conselho de administração vai abordar a questão em uma de suas próximas reuniões. “Não podemos forçar o conselho de administração a dar queixa na justiça, mas hoje pressionamos claramente para que ele o faça”, sorri Dominique Biedermann.
Kaspar Villiger, que dirigiu a assembleia geral com bastante humor, falou no início de sua “grande humildade”. “Sabemos a que ponto o UBS decepcionou o povo suíço e que ainda temos muito trabalho pela frente.”
Só que “um processo não é do interesse dos acionistas”, acrescentou o ex-ministro das Finanças. “Isso custaria milhões”, acrescentou. Ele disse ainda que os antigos dirigentes agiram de “boa fé”. “Nenhum deles queria prejudicar o UBS, embora tenham que assumir a responsabilidade moral de seus atos.”
Na conclusão de seu discurso matinal na abertura da assembleia, ele foi categórico. “Os responsáveis não precisam fazer sempre penitência e se desculparem dos erros do passado.” Quase oito horas depois, no momento do voto, Villiger constatou que não conseguiu convencer a maioria dos acionistas.
Ariane Gigon, Basileia, swissinfo.ch
(Adaptação: Claudinê Gonçalves)
Além da questão da absolvição dos antigos dirigentes, os salários foram muito debatidos na assembleia.
Mais “malus”. A Fundação Ethos, que tem quase 80 membros, a maioria caixas de pensão suíças, se opôs às modificações introduzidas pelo UBS na assembleia do ano passado. A parte “malus” (não pagamento de bonificações se os resultados forem ruins) foi suprimida.
Sistema opaco.Argumentando que é necessário atrair colaboradores talentosos e mantê-los, o UBS criou um novo plano de ações intitulado
Incentive Performance Plan (IPP), que completa o Cash Balance Plan (CBP) e o Performance Equity Plan (PEP) para determinar a parte variável do salário e as bonificações.
Segundo o jornal NZZ, de Zurique, menos de mil colaboradores do grupo, no mundo inteiro, podem ter direito ao programa IPP, ligado às ações do UBS por um período de cinco anos. Em 2009, a parte IPP totalizou 28% das bonificações distribuídas (15,7 milhões de francos). Ethos critica a complexidade do programa IPP, que considera opaco e um retrocesso.
Aprovação apertada. O relatório sobre as remunerações foi aceito por 54,7% dos votos, fato “inusitado”, segundo Dominique Biedermann, diretor da Ethos.
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