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Adeus Amazônia!

Cem mil pessoas participaram do FSM em Belém. Keystone

Belém viveu durante uma semana a onda do altermundialismo, de suas visões, de seus sonhos e também de suas quimeras.

A delegação suíça faz um balanço misto do Fórum Mundial Social: elogia a diversidade da programação e critica a organização do evento.

O evento na Amazônia provavelmente teve um recorde de participantes: estima-se que cerca cem mil pessoas de 146 países estiveram no encontro. Elas puderam participar de inúmeros debates, seminários e atividades culturais.

“Esta edição teve uma riqueza única”, afirma Sergio Ferrari, membro da delegação suíça e da ONG E-Changer. “Nunca antes o fórum havia sido organizado de maneira tão horizontal, com uma base democrática tão ampla”, elogiou.

Mas essa “horizontalidade” foi também uma faca de dois gumes. Na opinião de muitos, as disfunções das edições anteriores foram até maiores desta vez. Atividades anuladas ou atrasadas, mudanças de programação, falta de comunicação – alguns membros da delegação suíça não escondem sua frustração.

Um banho de realidade

Esses problemas organizatórios devem ser resolvidos futuro para não desanimar os participantes. Ainda que o Fórum tenha tido, sobretudo, o mérito mostrar melhor a realidade amazônica.

Para os suíços, isso foi possível devido a encontros e visitas feitas à região antes do início do FSM. “Poder ver de tão perto a realidade sobre o assunto é primordial”, comentou o parlamentar ecologista Luc Recordon. Quando os problemas de uma região são palpáveis, então é mais fácil buscar soluções.

Outro aspecto que chamou a atenção da delegação helvética é o entusiasmo, o dinamismo e a capacidade de colaboração entre os movimentos sociais sul-americanos e brasileiros em particular.

“Diante da dificuldade que temos na Suíça para recrutar novos membros para os sindicatos e voluntários de ONGs, talvez devamos aprender com nossos colegas brasileiros, por exemplo com dança, a música e a festa”, disse Bernard Fragnière, secretário general do Sindicato Suíços dos Serviços Públicos.

O Fórum e os encontros são incentivos preciosos para o desenvolvimento dos movimentos sociais: “Há anos que participo e a cada vez retorno à casa um pouco mais utópico e com a vontade de mudar o mundo”, declarou Thierry Savary, membro da E-Changer.

Receita clássica

A vontade de “não se limitar ao debate ideológico, mas fazer propostas concretas”, como havia declarado Antonio Martins, um dos cofundadores de FSM, foi cumprida em parte.

“Ao final do Fórum, queríamos encontrar um programa mínimo através de diversas ONGs para dar uma resposta à crise e reformar o setor financeiro”, explicou Andreas Missbach, da ONG Declaração de Berna. “Graças a três seminários, concentrar este programa comum em uma só página”.

A receita apresentada em Belém foi a clássica do altermundialismo: avaliação dos fluxos de capitais, controle mais severo das instituições financeiras, mais investimentos públicos nas energias renováveis.

Sem dúvida, uma tendência parece se impor: as diversas crises – financeira, econômica, climática e alimentícia – estão todas relacionadas e a solução não poderá ser somente ecológica.

A ausência de uma mensagem oficial, por exemplo, em forma de declaração final, não agradou a todos. Um documento desses contribuiria muito para dar uma maior relevância ao Fórum e a suas demandas.

Por outro lado, isso contribuiria para preservar a quintessência do próprio FSM, ou seja sua horizontalidade. Sem esta premissa, o Fórum não conseguiria atrair tantas pessoas procedentes de horizontes tão diversos em pouco tempo.

Para os participantes do FSM, o desafio agora é conseguir ter um impacto na política pública de seus países e deixar de lado os triunfalismos fáceis. Segundo Bruno Riesen, da Anistia Internacional, “é preciso prestar atenção para evitar que a resposta à crise não se traduza em uma resistência ideológica e radical”.

swissinfo, Daniele Mariani, Belém

“Caótico, anárquico – o modelo oposto do fórum da elite em Davos: assim políticos e ativistas festejam o Fórum Social Mundial em Belém. Deliberadamente eles ignoram que os presidentes latinoamericanos presentes governam de outra maneira em casa – e os indígenas convidados são apenas figurantes”.

Assim a revista alemã Spiegel Online descreveu o FSM. Segundo a revista, o FSM, antes ridicularizado pelos poderosos como Woodstock dos trópicos, ganhou aceitação também entre a intelectualidade. “Só que muitos intelectuais esquecem que o espírito libertário, quase anárquico do Fórum contradiz o caráter autoritário da maioria dos governos esquerdistas do continente”.

“Este é o outro lado do Fórum Social Mundial supostamente independente dos governos: o governo federal brasileiro e a governadora do Pará, correligionária do presidente Lula, gastaram quase 150 milhões de reais (cerca de 50 milhões de euros) na logística do FSM. Mas para uma hospedagem digna para os indígenas faltou dinheiro, crítica é indesejada.” (GH)

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