Basileia tenta quebrar barreiras de integração
Os estrangeiros tendem a viver à parte na Suíça e são dificilmente integrados pela população local. O problema preocupa alguns estados do país que precisam de estrangeiros altamente qualificados para manter sua competitividade.
Basileia, com suas empresas farmacêuticas multinacionais, é um destes. Os expatriados – pessoas que vêm trabalhar por curto prazo (2-4 anos) – já são 8% da população.
E o número tem tendência a aumentar: a Secretaria Federal de Estatísticas prevê que nos próximos 25 anos Basileia será o estado com maior aumento de imigrantes qualificados.
“Como a maioria deles são profissionais formados, pode-se presumir que os expatriados são responsáveis por cerca de 10% do consumo e que pagam 10% dos impostos”, explica Guy Morin, presidente do governo da cidade de Basileia, à swissinfo.ch.
“Precisamos dessas pessoas qualificadas, por isso temos que lhes oferecer boas condições e facilitar a integração delas”, disse.
O cantão está consciente do desafio há algum tempo. Um workshop realizado em 2009 já havia abordado o problema da segregação entre a comunidade de expatriados e a população em geral, descrevendo a situação como “insatisfatória para ambos os lados”.
Isso levou o cantão, os dois gigantes da indústria farmacêutica, Roche e Novartis, e a Fundação Christoph Merian a apoiar um estudo realizado pela empresa de consultoria Ecos, publicado com o título “Oportunidades e Desafios na Integração de expatriados na região de Basileia”, que sugere estratégias para melhorar a integração.
“Basileia é um modelo para a Suíça e pretende continuar desempenhando um papel pioneiro na integração dos estrangeiros”, declarou Morin.
Interesses vitais
“Somos movidos pela inovação e a diversidade, capitalizando a variedade”, declarou Bruno Weissen, chefe de pessoal da Roche, à swissinfo.ch. “Precisamos da melhor equipe que podemos encontrar para continuarmos na vanguarda da inovação.”
Weissen resume em termos impressionantes a orientação internacional da empresa:
“Dos 365 dias do ano, trabalhamos só três dias para a Suíça e o resto do tempo para os outros países.”
A Novartis também tinha razões semelhantes para apoiar o estudo, como observa o chefe de pessoal da empresa, Hans Locher:
“Por uma questão essencial de conhecimentos, os trabalhadores da Novartis são de importância decisiva para a empresa. Temos que ter expatriados.”
Já que as empresas investem muito dinheiro em despesas de mudanças de estrageiros para deixá-los ambientados ao trabalho, elas têm interesse em ver que eles também se estabelecem bem em sua vida cotidiana para que não deixem o posto prematuramente.
Compreender os suíços
A psicóloga Marcella Ramelli – expatriada e membro do grupo consultivo que assiste o estudo – explicou à swissinfo.ch o que significa começar uma nova vida na Suíça, sem saber falar a língua local.
Ela se mudou da Colômbia para a Suíça dez anos atrás, com seus dois filhos, para uma estadia planejada inicialmente de apenas um ano.
Os primeiros meses foram decisivos. Todos tiveram que aprender rapidamente alemão e a escola dos filhos ajudou na integração, colocando-os em contato com outras famílias.
Mas não é uma tarefa fácil entender as regras sociais de um novo país, diz Ramelli, cujos avós emigraram do cantão suíço do Ticino para a Colômbia.
“Meus vizinhos checos logo vieram conversar comigo, o que achei muito simpático, mas os vizinhos suíços nunca disseram uma só palavra. Foi só mais tarde, graças a amigos suíços, que descobri que isso era por respeito, para não ser intrometido.”
Vontade de se integrar
Guy Morin disse que o estudo analisa a política de integração de um novo ângulo, bem diferente do de costume que focaliza os estrangeiros como pobres, mal educados e criminosos.
Verificou-se que os expatriados costumam ficar ansiosos para contribuir com a sociedade local, mas são tratados frequentemente com indiferença ou hostilidade. O estudo sugere que as ONGs que trabalham com estrangeiros sejam mais conscientes do seu potencial e também convida a imprensa a escrever sobre exemplos positivos da integração de estrangeiros para ajudar a mudar as opiniões e quebrar barreiras.
O estudo propõe a realização de reuniões de acolho dos estrangeiros, de preferência com a participação de toda a família.
“A fase inicial é fundamental para a integração bem sucedida, mas a obtenção de informações muitas vezes é difícil”, ressalta.
Também sublinha a importância de envolver toda a família: um membro infeliz pode fazer com que o expatriado volte para casa mais cedo.
Um problema destacado pelo estudo é a escolaridade. Ele sugere duas maneiras de criar incentivos para que os pais estrangeiros mandem seus filhos às escolas públicas locais. Uma delas é fornecer certificados reconhecidos internacionalmente para facilitar a transição para outros países. A outra é a introdução de aprendizagem imersiva para permitir que as crianças aprendam o idioma rapidamente.
“A língua é o principal fator de integração social”, diz. Pela mesma razão, ele aconselha às empresas que organizem cursos intensivos de línguas obrigatórios antes que o expatriado começe a trabalhar – incluindo a compreensão do dialeto local, que “pode ser uma fonte de frustração”.
Apesar dos problemas enfrentados, o estudo constatou que mais da metade dos expatriados acabam ficando mais tempo do que previsto, tornando-se o que ele chama de “Baslers (naturais de Basileia) com passaporte estrangeiro”.
Cerca de 36 mil expatriados vivem nos cantões de Basileia-Cidade e Basileia-Campo, representando um em cada 12 residentes.
Expatriados são definidos no estudo como profissionais altamente qualificados e financeiramente independentes, que vêm trabalhar na Suíça por um período de dois a quatro anos.
Cerca de 75% deles ficam mais de dois anos, e quase 60% mais de quatro.
Em dezembro de 2010 havia 118.091 estrangeiros para uma população total de 467.129 nos dois cantões.
Adaptação: Fernando Hirschy
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