Bicicletas suíças destacam-se em feira italiana
Salão da Bicicleta na Itália serve de aperitivo para o mundial de Mendrisio. A Suíça marca presença com componentes de altíssima qualidade usados em bicicletas de alto desempenho.
O mundo corre sobre duas rodas, em silêncio, na feira de Rho, perto de Milão. O Salão da Bicicleta abre as portas da 67° edição com a presença dos principais fabricantes da Europa e dos Estados Unidos, entre eles os italianos, os dinamarqueses, os austríacos, os franceses e os suíços.
A feira acontece a menos de cem quilômetros de Mendrisio, sede do Mundial de Bicicletas, a partir do dia 23 de setembro. Para os amantes do esporte, quer como lazer ou como competição, eis uma chance de ver as novidades do mercado e descobrir os segredos dos campeões, com antecipação.
A sede futurística da feira de Rho impressiona pela estrutura de aço e vidro em forma de vela, numa perfeita harmonia com o meio ambiente, com a paisagem, ideal para receber as bicicletas, numa mensagem de respeito à natureza. Elas ocuparam um pavilhão inteiro. Dentro dele tem um pouco de tudo, pistas para moutain bike, áreas externas de testes, estandes de peças – do parafuso da roda ao capacete estilizado e personalizado, passando pelos acessórios de segurança e pelas marchas, indo do aro em carbono ao guidão aerodinâmico.
Uma boa bicicleta é feita com cerca de 30 peças. Numa primeira vista elas praticamente passam despercebidas, se perdem diante do conjunto final. Mas um olhar mais atento mostra os detalhes que fazem a diferença e o preço de uma bicicleta. Os garfos, as barras de sustentação do selim, os pedais, as rodas, os freios, as armaduras, podem ter as mais diferentes origens e características de qualidade, peso e resistência. E tudo chega encaixado, aparafusado, montado perfeitamente, com precisão e, em muitos casos, com componentes suíços, principalmente aquelas bicicletas destinadas a alto desempenho.
Qualidade suíça
Uma das bicicletas mais caras do Salão, um modelo para triátlon da Scott, de quase cinco mil euros, tem o aro da roda, o garfo dianteiro, a suspensão, da empresa DT Swiss, uma das mais importantes produtoras de peças do mundo e a primeira a produzir todos os itens de uma roda. A fabricante americana de bicicletas, com a sede européia em Friburgo, na Suíça, usa em diferentes modelos material made in DT Swiss. Parcerias tecnológicas ajudam a desenvolver e a descobrir novos limites para suspensões, amortecedores para as bicicletas usadas em condições extremas. Muitos desses componentes são usados pela concorrência de outros países como a vizinha Áustria, por exemplo.
Mas as pesquisas vão ainda mais longe, de carona dos carros de Fórmula Um, que por sua vez, aplicam testes da indústria aeronáutica. O guidão da Oval Concept, empresa suíça por excelência, é “filho” de uma colaboração da escuderia Jordan, hoje Force Índia, a partir da idéia de um engenheiro, amante do ciclismo e integrante da equipe que está surpreendendo na atual temporada das pistas.
A busca pelo desempenho de altíssima qualidade levou, naturalmente, à aplicação dos estudos de aerodinâmica nas bicicletas, ou melhor, em alguns de seus componentes. O principal deles, o que primeiro enfrenta a resistência do ar, é o guidão. Para melhorar a desempenho, os projetistas desenharam entradas e saídas para o ar para diminuir ao máximo a turbulência do ar que “colide” com o corpo do ciclista, roubando algumas frações de segundo.
Qualquer semelhança com os bólidos da F1 não é mera coincidência. “O importante è que como qualidade e desempenho, em carbono e com o sistema jetstream temos um produto de ponta. O nosso titular da empresa é amigo de um dos engenheiros da escuderia e desenvolvemos juntos este componente. Os suíços possuem uma ótima relação com a bicicleta, mais na mountain bike que aquela de rua, eu diria”, disse a swissinfo, o representante da Oval Concepts, Maurizio Ratti.
História
O atual design futurístico beira as raias da ficção científica se fosse pensado na década de trinta. Algumas bicicletas de época estão em exposição bem em frente ao estande suíço. As bicicletas possuem duas rodas, um guidão…mas os pontos em comum terminam aí. O contraste é inevitável.
No lugar do ferro batido, ligas de alumínio e carbono. O tradicional freio, constituído de pequenos bastões de borracha, cede lugar a modernos sistemas de frenagem a disco. No passado, o leiteiro, o ferreiro, o carpinteiro eram profissionais que usavam a bicicleta como meio de transporte, como oficinas ambulantes. Ainda hoje, em muitos países do mundo, a bicicleta é usada para entregar as compras de supermercado a domicílio, ainda que isto seja cada vez mais raro.
Seja como for, a bicicleta nunca perdeu o seu fascínio e a sua utilidade. Modelos antigos, estilo vintage, continuam a fazer sucesso entre os fabricantes. O leque de opções cresceu muito. Hoje, existem bicicletas para descidas livres de montanha, trilhas, estrada, acrobacias, cidade, velódromo, enfim…uma gama de variedades que parece não ter fim. “Na categoria down hill maraton os suíços são realmente muito fortes, na frente de todos está Renè Wildhaber, e atrás dele chegam estão tantos outros suíços, temos que ir atrás dele”, diz para a swissinfo, Gianandrea Lecco, presidente da Mysticfreeride.
Mendrisio, mundial
Uma visita ao Salão representa ainda uma oportunidade de conhecer a evolução deste meio de transporte ao longo das décadas e alguns nomes que escreveram as páginas históricas do esporte, como os suíços Hugo Klobet e Ferdi Kluber. Os dois eram os favoritos em todas as competições no começo da década de 50. Uma mostra dedicada ao italiano Fausto Coppi recorda o duelo com Klobet na Volta da Itália em 1950, vencida pelo suíço. No ano seguinte, Klobet ganharia ainda o Tour de France, já conquistado por Kluber uma edição antes.
Uma mostra com 33 painéis fotográficos dedicado ao grande campeão italiano revela um pouco daquele período de ouro do ciclismo. Era uma época romântica do esporte, através de estradas de terra batida, e com uma preparação física e cuidados nutricionais ainda muito longe dos métodos científicos adotados nos dias de hoje.
E o que existe de mais moderno vai ser colocado à prova durante o Mundial de Mendrisio, com percursos entre as montanhas do Alpes e os lagos, numa das regiões mais bonitas da Europa. Ali, os competidores das seis provas previstas de estrada correm o risco de perder a concentração. Em 1953, o mítico Fausto Coppi venceu a edição de 1953, em Lugano. Eddy Merckx venceria em Mendrisio, 19 anos depois.
O circuito mundial volta em terras suíças depois dos mundiais de Lugano, em 1996, de estrada, e o de Mountain Bike, em Monte Tamaro, em 2003. Um dos percursos premia uma passagem pela subida de Torrazza di Novezzanno, trecho do inesquecível duelo entre Felice Gimondi e Eddy Merckx, de 1971.
Burgos históricos, fósseis de Monte San Giorgio – tombados pelo Patrimônio Histórico da Humanidade – e vilarejos de montanha vão ser testemunhas da luta do homem contra o cronômetro em meio a uma natureza pura que vai fazer valer à pena cada gota de suor escorrida em nome do esporte.
Guilherme Aquino, swissinfo.ch
O Salão da Bicicleta conta com 267 expositores, recorde de participantes nesta 67° edição e vai ate o dia 21 de setembro.
O governo italiano promete incentivos da ordem de 14, 5 milhões de euros para a compra de bicicletas.
200 km de pistas para bicicletas deverão ser construídas na Itália.
O sistema de bike-sharing em Milão conta com 4.000 bicicletas.
O atleta suíço Fabian Cancellara venceu uma medalha de ouro e outra de bronze no ciclismo, durante a Olimpíada de Pequim, em 2008
O campeonato mundial de Mendrisio acontece entre os dias 23 e 27 de setembro.
250 mil espectadores devem acompanhar de perto as provas do Mundial.
Em 2000, existiam cerca de 3.500 km de ciclovias na Suíça, colocando-a em terceiro lugar entre os países europeus atrás da Alemanha e Holanda.
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