Câmera suíça vai fotografar Marte
A Universidade de Berna recebeu uma prestigiosa encomenda: a construção de uma câmera que vai captar imagens tridimensionais da superfície de Marte.
O professor Nicholas Thomas, da Divisão de Ciência Planetária e Pesquisa Espacial da Universidade, dirige a parte suíça do projeto, que também deve contar com a participação da indústria do país.
O convite para participar na construção da câmera é uma “oportunidade fantástica” para o instituto, declarou Thomas à swissinfo.ch.
Tudo começou em janeiro deste ano quando Thomas recebeu uma ligação telefônica sobre a “ExoMars Trace Gas Orbiter” de seu colega Alfred McEwen, da Universidade do Arizona, com quem já tinha trabalhado em outro projeto de observação de Marte.
Ambos decidem apresentar uma candidatura para trabalhar na nova missão conjunta entre a National Aeronautics and Space Administration (Nasa) e a Agência Espacial Europeia (ESA).
O objectivo é pesquisar os gases da superfície de Marte.
A missão é tirar fotos tridimensionais coloridas da superfície do planeta para descobrir possíveis locais de pouso ou depósitos de metano.
“Talvez as pessoas vão associar o metano com as vacas suíças”, brincou, “mas estamos interessados mesmo é na explicação geológica”.
Uma vez que as fontes forem localizadas, a câmera será capaz de focalizá-las em seus mínimos detalhes.
“Para mim, esse é o momento mais emocionante. Nós seremos então capazes de pesquisar e analisar esses locais para ver se eles têm alguma coisa a ver com a presença de vida. – Mas eu estou cético, pelo menos com a câmera vamos poder estudar os aspectos geológicos”.
Vida em Marte?
Sentado em seu escritório no Instituto de Física da Universidade de Berna, Thomas falou à swissinfo.ch do seu fascínio pela física e particularmente pelo que acontece em outros planetas.
“Foi meu professor do colégio, na Inglaterra, que despertou minha paixão pela física”, sorriu. “Ele tinha um nome muito longo, e era um cara muito severo, um típico professor britânico. Nós aprendemos muito com ele”.
“Eu nunca quis ser um astronauta, que realmente não é minha praia. E nem ficar procurando ET por aí”, disse. Seu interesse se concentra nas leis que regem a física dos planetas e das estrelas.
“Quando se tem condições diferentes, onde é muito mais frio ou mais quente do que na Terra, pode-se ver coisas fascinantes acontecendo. É incrível!”
É verdade que o objetivo da missão é descobrir vida em Marte?
“Isso é basicamente o sentido de tudo o que fazemos”, disse. “Eu não acredito que exista vida em Marte, mas não sabemos com certeza absoluta”.
Três bilhões de anos atrás era muito mais quente em Marte. Não poderia ter havido vida no planeta vermelho na época – “talvez de uma forma muito primitiva”.
“É uma pergunta que vale a pena ser respondida”.
A câmera suíça
O contrato para a fabricação de uma câmera para pesquisar a superfície de Marte pode ser considerado um impulso para a ciência na Suíça.
O departamento do professor Thomas é responsável pela carenagem e peças mecânicas da câmera do telescópio, que gira 180 graus, permitindo tirar fotos em estéreo (com som gravado simultaneamente por dois ou mais pontos convenientemente espaçados de modo que, quando tocado, dê uma sensação de relevo espacial).
Para a construção de partes do dispositivo, o Dr. Thomas realizará um concurso com a indústria suíça.
O lançamento não deve acontecer antes de 2016, mas considerando tudo o que tem de ser feito, o prazo acaba sendo relativamente curto, disse.
O telescópio tem de ser concebido, construído e testado a tempo para ser entregue no segundo trimestre de 2013.
Os componentes eletrônicos poderão então ser montados e novos testes realizados. Em seguida, será entregue à Agência Espacial Europeia, onde será montado na sonda espacial, seguido por mais testes para finalmente poder ser entregue à Nasa, nos EUA. Uma vez lá, ele será montado no foguete e testes finais serão realizados antes do lançamento.
Velho conhecido
O professor Thomas está bem acostumado com Marte. Já em 2001 participou no desenvolvimento do projeto “High Resolution Imaging Science Experiment (HiRISE)”, no Arizona. A sonda continua sua órbita em volta do planeta desde 2006, tirando fotos com uma resolução nunca antes alcançada (ver galeria de fotos).
Desde então, ele e sua equipe em Berna observam a superfície de Marte à procura de elementos interessantes para a ciência.
O professor explica que às vezes tem a oportunidade de tirar algumas fotos especiais. Para ele, esse é o momento em que a adrenalina começa a fluir de verdade, quando decide em que ponto se pode descobrir algo interessante.
“É estressante, mas divertido”, disse.
O antigo professor de física com nome comprido deve sem dúvida se sentir orgulhoso de seu ex-aluno.
Três instituições estão envolvidas na construção da “High Resolution Stereo Colour Imager”, câmera que será anexada ao “Exomars Trace Gas Orbiter”:
Universidade do Arizona, lidera o projeto e é responsável por todos os dados.
Universidade de Berna, fabrica e testa o mecanismo de rotação do espelho do telescópio e os pés para montar a câmera sobre uma plataforma.
Ball Aerospace, em Boulder, Colorado, responsável pela concepção do instrumento, de todas peças eletrônicas e a montagem da câmera.
A câmera pode produzir imagens estéreo, tornando visível a superfície de Marte em três dimensões.
A partir de 2016 será útil para localizar gás e possíveis locais de pouso para outras missões.
Na equipe suíça trabalham 12 cientistas, seis europeus, incluindo um suíço, e seis americanos.
É o primeiro projeto conjunto entre NASA e ESA.
O telescópio vai custar 6 milhões de dólares. O projeto todo é estimado em 30 milhões de dólares. Grande parte do orçamento será coberto pela NASA, uma pequena parte pelo Instituto Suíço de Astronáutica.
(Adaptação: Fernando Hirschy)
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