Clinica suíça quer mudar hospitais brasileiros
Não só produtos helvéticos fazem sucesso no mundo, mas também o "savoir-faire". É o que mostra o exemplo de uma clínica privada de Genebra, que agora exporta métodos de gestão hospitalar a outros países no mundo, inclusive ao Brasil.
Na lista, um novo conceito de bem-estar que faz do hospital um hotel cinco estrelas.
O espaço lembra mais um hotel de luxo do que um centro hospitalar. Ao invés da movimentação incessante de ambulâncias, pacientes pálidos andando pelos corredores com garrafas de soro ou médicos estressados gritando ordens às enfermeiras, a primeira impressão do visitante é o silêncio que impera no luxuoso lobby decorado com obras de arte, onde uma simpática atendente saúda visitantes e pede que esperem nas poltronas de couro ou passeiem no parque externo.
Nele a grama é cortada com a perfeição de um campo de golfe. A Clínica de Grangettes ocupa uma área arborizada de 25 mil metros na periferia de Genebra. Seus prédios estão cercados por pinheiros e outras árvores europeias, combinando perfeitamente com as diversas esculturas espalhadas pelo parque. “Chemins verticaux” (Caminhos verticais) é o nome de uma delas, de autoria do artista franco-suíço André Raboud, e lembra um portal japonês em granito preto. No restaurante da clínica, um cozinheiro francês com estrelas no guia gastronômico Michelin oferece refeições elaboradas a preços moderados. Funcionários, visitantes e pacientes compartilham às mesas no pátio externo e aproveitam do bom tempo, como se estivessem em um chalé nas montanhas.
“Nosso conceito é do vilarejo médico, um lugar aonde as pessoas vêm para encontrar todas as respostas aos seus problemas de saúde”, explica Philippe Glatz, presidente do conselho da instituição. Durante a visita às instalações da clínica, ele cumprimenta todos os funcionários que cruza pelos corredores pelo primeiro nome. “Aqui queremos que os pacientes se sintam em casa e não sejam massacrados pelo tratamento”, afirma. Essa filosofia explica o conforto incomum dos quartos, a maioria para uso individual, equipados com tevês planas, sofás, pinturas e vista para os jardins.
Um rio africano na clínica
Com 96 leitos, a Clínica de Grangettes é uma instituição privada especializada em urgências, cirurgia, cardiologia, medicina interna, maternidade, pediatria, radiologia, urologia e ortopedia. O corpo médico é composto por 150 médicos, que atende uma média anual de mais de quatro mil pacientes, além de realizar 90 mil exames e consultas. Dentre os seus destaques está o recém-inaugurado centro de radioterapia, onde um aparelho de três milhões de euros permite tratar casos de câncer evitando uma grande parte das operações, além de outros centros de ponta.
Outra “joia” da instituição é a nova unidade de urgências pediátricas, inaugurada em outubro de 2009. Construída por arquitetos renomados e financiada pela Fundação Wilsdorf (Rolex), o moderno prédio detém o maior aquário da Suíça francófona, com dez metros de altura e 15 mil litros de água doce. Perguntado sobre a utilidade desse espaço, que reproduz o ecossistema no lago de Tanganyika, na Zâmbia, Glatz responde com uma pergunta. “Quem costuma estar mais preocupado quando chega aqui? Os pais. O aquário serve para acalmá-los, mas também para tornar esse lugar mais acolhedor às crianças”, afirma, acrescentando também que a pediatria atende também as que não têm o seguro de saúde obrigatório, uma situação comum para muitos estrangeiros clandestinos.
Investimentos no Brasil
As condições e a tecnologia impressionaram Raimundo Colombo, governador de Santa Catarina, estado ao sul do Brasil. No final de maio, ele e sua comitiva visitaram a Clínica de Grangettes. Na ocasião, Philippe Glatz anunciou aos jornalistas presentes o contrato de gestão firmado com o hospital SOS Cárdio de Florianópolis, uma instituição dirigida por 20 cardiologistas na capital. Não foi o primeiro passo da empresa no exterior. “Já temos parcerias semelhantes funcionando desde 2009 na Arábia Saudita e, há pouco, na Rússia”, diz Glatz.
Os contatos no maior país da América Latina começaram há mais tempo. “Um dos nossos diretores adjuntos era brasileiro. Ele retornou ao Brasil em 2000 e dirige, desde então, uma fábrica de embalagens que montamos no país”, conta. Depois a Clinica de Grangettes foi solicitada algumas vezes a fornecer planos de gestão hospitalar por entidades locais, mas sem chegar à concretizá-los. Em 2010, os cardiologistas de Santa Catarina pediram uma solução para administrar um hospital com 75 leitos. “Nesse caso deu certo, pois eles eram profissionais altamente qualificados, mas que desejavam uma expertise maior, inclusive pensando também nas cooperações internacionais.”
Glatz ressalta que a ideia é transferir ao Brasil o conceito aplicado na clínica em Genebra. “São vários detalhes que poderemos implementar como a forma de receber o paciente, acompanhá-lo durante o tratamento e até mesmo como estruturar o hospital, do restaurante até as salas de espera”, detalha. Ele ressalta também que esse conceito foi criado também pela experiência suíça no setor. “Fomos um dos primeiros países do mundo a formar enfermeiras não confessionais e também o país aonde a formação de hotelaria chegou aos mais altos níveis”, lembra.
Isso explica outro investimento anunciado ao governador Raimundo Colombo: a construção de um hospital-referência em Florianópolis com 140 leitos. Nesse caso, os representantes da clínica no Brasil contrataram uma empresa de consultoria para fazer um estudo de viabilidade, no qual são previstos investimentos na ordem de 60 milhões de dólares. “Consideramos que existe uma demanda para esses serviços e, se conseguirmos convencer investidores nacionais e internacionais, o hospital já poderá estar funcionando a partir de 2014”, afirma Glatz.
O suíço revela que viajou pela primeira vez ao Brasil por questões privadas já em 1991. “Foi quando descobri todo o potencial desse país”. Porém quando decidiu investir no país dez anos depois, muitos colegas o desaconselharam devido à fama do país de ter uma economia conturbada e problemas com a corrupção. Ele não se arrependeu. “Hoje o Brasil está na moda, mas nós já estamos presentes.”
A Clínica de Grangettes foi fundada em 1918 pela suíça Barbara Borsinger, que se sensibilizou com a situação das crianças enfermas após uma grande epidemia de gripe em Genebra.
Em 1933 a instituição passou a atender adultos. De 1957 a 1978 ela foi administrada por religiosas. A partir de 1980, a clínica privada passou a ser administrada por um comitê gestor.
Atualmente suas principais especialidades são urgências, cirurgia, cardiologia, medicina interna, maternidade, pediatria, radiologia, urologia e ortopedia.
O corpo médico é composto por 150 médicos.
Infraestrutura: 96 leitos, 5 salas de operação e 4 salas da maternidade.
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