Criatividade para atrair turistas às montanhas
Regiões fora dos circuitos turísticos mais conhecidos na Suíça lutam contra o esquecimento e o êxodo rural. Romoos, nas montanhas do cantão de Lucerna, criou uma trilha e um parque natural voltado às crianças.
Para as famílias, essa é a melhor e mais barata forma de conhecer a biosfera de Entlebuch, tombada pela UNESCO. swissinfo.ch esteve por lá.
As estatísticas mostram que os turistas não estão em falta na Suíça, mesmo com a atual forte valorização da moeda local, o franco. Se os vizinhos europeus começam a escassear, outros vêm no seu lugar, sobretudo de países emergentes como a Índia e a China. Porém os destinos são sempre os mesmos: conhecidas estâncias de férias nos Alpes ou cidades como Zurique, Lucerna ou Genebra.
E o que sobra às regiões limítrofes? Muito pouco, como mostra o caso de Romoos, uma pequena comuna (município) localizada a 952 metros acima do nível do mar em uma região de colinas ao leste de Lucerna, no centro da Suíça. Com apenas 713 habitantes, ela vive quase que exclusivamente da agricultura e das subvenções cantonais. Além disso, luta contra a evasão do campo: desde 1860, sua população caiu em mais da metade.
Porém Romoos tem os seus trunfos. O primeiro é o Hotel Kreuz. Até a eclosão da I Guerra Mundial, essa grande construção em estilo vitoriano foi construído no coração do vilarejo em 1905 – e tombado pelo patrimônio histórico do cantão – recebia turistas de todas as partes da Europa. Eram, por exemplo, ingleses que vinham para fazer cura e aproveitar o ar puro e a natureza das montanhas. “Depois eles nunca mais voltaram”, escreve o livro da história local. Hoje o hotel pertence à comuna e foi alugado a uma nova administração.
Outro ponto forte do vilarejo é a sua localização dentro da reserva de biosfera de Entlebuch, tombada em 2001 pela UNESCO. O que a região oferece é uma natureza quase intocada – 43% da área ainda são cobertas de florestas” – onde a ocupação é realizada “de forma harmoniosa”, como avaliaram os especialistas do órgão internacional. Esse caráter fez com que Roomos ficasse conhecida como “o faroeste” de Lucerna.
País do “Zyberli”
Para combater os problemas de Roomos como êxodo rural, falta de oportunidades de trabalho e atrair novos moradores, o governo local decidiu convidar em 2001 os habitantes a apresentar ideias. Uma delas foi unanimidade: construir o “Zyberliland Romoos”, um parque natural voltado para família em volta do “Zyberli”, uma espécie de ameixa selvagem, típica da região.
Assim Elis Aregger, uma das moradoras, escreveu um livro para crianças contando a história dos “Bergmannli”, seres fantásticos que trabalhavam sem afinco para trazer a riqueza da região e gostavam de comer um doce fabricado com os frutos. O relato conta que eles são explorados pelos seres humanos até serem expulsos do vale. Somente a valorização da natureza consegue trazê-los de volta, conta a lenda.
Na parte prática, equipes dos habitantes, com ajuda das empresas locais, construíram trilhas temáticas na floresta onde as crianças são capazes de se orientar graças às marcas deixadas pelos “Bergmannli” nas árvores ou pedras, na realidade pés cortados na madeira e pintados de vermelho. Em diversas estações elas vivem a história da lenda como, por exemplo, na mina de ouro: o córrego local, no qual foram instaladas pequenas rodas-de-água e canaletas. Em outro ponto a trilha chega ao “castelo”, uma grande estrutura de madeira, onde as crianças podem escorregar, escalar, saltar e caminhar no meio da floresta.
E quando a fome chega, as famílias podem tirar as linguiças da mochila e fazer fogueiras em pontos preparados através da trilha, onde os moradores de Roomos até disponibilizam madeira, palha e espetos de pau. Depois de caminharem até meia hora, as crianças chegam ao vilarejo dos “Bergmannli”, pequenas cabanas construídas com gravetos dentro da floresta.
Programa de família
Urs Meier veio com sua esposa, e dois filhos, uma menina de três e um menino de cinco anos, para fazer o percurso. “Nós procuramos por toda a Suíça trilhas voltadas às crianças. O importante é que elas ofereçam alguma coisa para ocupá-las e motivar a continuar caminhando”, explica ao repórter da swissinfo.ch. “Assim, aos poucos, elas vão começando a tomar gosto pelo esporte”, explica o morador Valais, cantão ao sul do país e distante mais de duas horas de carro.
Depois que terminam de grelhar as salsichas, o pai coloca dez francos na caixinha de metal instalada ao lado da fogueira. É a quantia pedida pelos moradores para os trabalhos de entretenimento do local. Uma quantia módica comparada aos valores cobrados por regiões extremamente turísticas como St. Moritz, no leste do país. Porém, apesar da simplicidade, a satisfação é a mesma. “Vir ao Zyberliland foi um grande passeio para nós”, declara Urs Meier.
É um pequeno vilarejo localizado ao leste de Lucerna, na Suíça central.
Habitantes: 713 (2008)
Proporção de estrangeiros: 0,7%
Religião: 91,4% da população é católica romana
Taxa de ocupação: 46%
71,6% dos habitantes trabalha na agricultura
A Suíça é um país montanhoso e seus habitantes gostam de caminhar.
Em média, eles fazem 130 milhões de horas de caminhadas por ano.
O país tem mais 60 mil km de trilhas sinalizadas, quase tanto quanto estradas.
A biosfera de Entlebuch foi reconhecida pela UNESCO em 2001.
Ela abrange um território de 395 quilômetros quadrados. Cerca de metade é ocupada pela agricultura e 43% por florestas. Dois por cento do território são áreas habitadas, em grande parte pequenos vilarejos.
Dos 17 mil habitantes, cerca de oito mil têm atividade remunerada. Um terço trabalha na agricultura e um terço no turismo. Por falta de alternativas, como postos modernos de trabalho, grande parte dos vilarejos sofre com o problema do êxodo rural.
Com o selo da UNESCO, o caráter único da região de Entlebuch em relação ao resto da Suíça foi reconhecido: sua harmonia entre a ocupação e a preservação sustentável da natureza.
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