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Crise ameaça sistema financeiro mundial

Nas Bolsas, o ambiente é de pessimismo e desconfiança Keystone

A crise do crédito nos Estados Unidos transformou-se em crise confiança. A situação pode piorar ainda mais? Leia a opinião dada por dois economistas suíços.

A crise dos créditos imobiliários nos Estados Unidos provocou uma crise de confiança. Agora as dúvidas se referem à gravidade da recessão e se ela vai contaminar o resto do mundo. Questiona-se ainda até quando a baixa nas bolsas de valores continua. Em toda parte, especialistas tentam analisar a situação e alguns prevêem os piores cenários.

Chefe de estratégia do Banco Cantonal de Vaud (BCV), Fernando Martins da Silva mantém a cabeça fria. Ele julga “muito pouco provável” uma grande crise dos mercados financeiros e da economia real.

Na situação atual, os bancos esprestam menos e as taxas sobem, sobretudo nos Estados Unidos. A desconfiança entre os atores no mercado financeiro aumenta e cada um teme que seu interlocutor esteja à beira da falência.

Em último caso, a falência de instituições financeiras poderia induzir uma “situação de iliquidez” no mercado de capitais. Com menos dinheiro disponível, os atores financeiros teriam de vender ativos, mesmo que posicionadas em investimentos rentáveis. Resultado: uma baixa de preços dos ativos financeiros e perdas em cascata.

“Teoricamente, as bolsas podem cair muito no caso de falências numerosas, até o valor nominal das ações. Isso seria um cenário de catástrofe, com 20 a 30% de desemprego. Estamos muito longe disso”, explica Fernando Martins da Silva.

Paralisia do sistema

O início da pior fase seria a queda sistemática das instituições financeiras como os bancos e os fundos especulativos (hedge funds), privados de liquidez no esquema “ninguém-confia-mais-em-ninguém”.

A liquidação forçada de numerosos ativos provocaria a paralisia do sistema. Ora, a economia real precisa do mercado de capitais para se financiar e pagar suas faturas. Com investimentos e consumo congelados, tanto pelas empresas como nos particulares, uma recessão mundial e mesmo uma crise não seriam cenários improváveis.

Fernando Martins da Silva recusa-se a imaginar desemprego em grande escala e aumento da pobreza. Para ele, há constrastes importantes entre a grande depressão de 1929 e a situação atual.

A indústria, por exemplo, não está com grande capacidade ociosoa como naquela época. Os bancos centrais não retêm crédito, muito pelo contrário. A grande sorte é que a inflação é baixa e não “engole” todo o dinheiro injetado no sistema.

Socorro

Se a situação se agravar, Fernando Martins da Silva acha que haveria intervenção dos poderes públicos, como ocorreu no salvamento do sistema bancário sueco no início dos anos 90.

Poderia haver uma nacionalização temporária de uma parte dos bancos e dos créditos podres. Os poderes públicos criariam fundos que retomariam uma parte das dívidas.

“A situação não é grave a esse ponto”, mas essas garantias dos governos permitiriam a retomada do sistema econômico e financeiro. Se, contudo, for necessário”, cogita Fernando Martins da Silva.

Paul Dembinski é mais cético. “Creio que os bancos centrais fazem tudo para tentar evitar que joguem a criança junto com água do banho”, analisa o diretor do Observatório das Finanças de Genebra e professor na Universidade de Friburgo.

Uma questão de nível

Para ele, o pior cenário não é somente teórico. Ele dependerá da confiança no sistema bancário e de crédito.

Paul Dembinski imagina um “período de solução da crise extremamente doloroso”. Ao problema estrutural de economia financeira se somarão os balanços das empreas, bancos e do consumo.

“Nenhum setor da economia será poupado. Só vão sobreviver os elementos mais diretamente ligados às necessidades cotidianas das pessoas: comer, vestir, ter um teto para morar”

Num livro (*) a ser publicado nos próximos dias, Paul Dembinski faz um diagnóstico a longo prazo de certas práticas e valores, sobretudo da economia, que levaram o sistema ao ponto de ruptura. “Estamos frente ao uso extremo do “material humano” que alimenta o modo de funcionamento da economia”, afirma o economista.

“Tenho tendência a ler a situação atual em termos de problema sistêmico. Não digo que estamos na última crise nem no colapso. Mas é, no mínimo, um sobressalto.”

swissinfo, Pierre-François Besson

* Finança servente ou finança enganosa?, edição Desclée de Brouwer, em francês.

O Banco Cantonal de Vaud (BCV) está entre os cinco principais bancos do país. É o segundo banco cantonal (estadual), depois do Banco Cantonal de Zurique. Fundado em 1845, 67% do capital é do Cantão de Vaud.

Defensor da responsabilidade individual e coletiva, o Observatório da Finança é um instituto de estudos. Seu objetivo é sensibilizar os meios financeiros à procura do bem comum. Foi fundado em 1966.

Atualmente, os principais organismos de previsão afirmam qu a economia suíça vai continuar a crescer nos próximos meses.

O Institututo KOF, da Escola Politécnica Federal de Zurique (EPFZ) trabalha com um crescimento do PIB de 2,1% em 2008 e de 2% em 2009.

O Banco Central Suíço (BNS) prevê um crescimento entre 1,5 e 2% este ano. O Crédito Suíço prognostica 1,9% e a Secretaria Federal de Economia (SECO), 2,1%.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) é mais prudente para a economia suíça, pevendo 1,5%. No entanto, os técnicos do FMI consideram que, nos dados atuais, a economia suíça deverá superar a crise financeira sem grandes estragos.

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