Crise do UBS se agrava e derruba presidente do banco
O maior banco suíço afunda cada vez mais na crise. No primeiro trimestre de 2008, o UBS teve prejuízos de 12 bilhões de francos suíços. Além disso, créditos imobiliários podres causaram perdas de mais 19 bilhões de francos. Uma nova injeção de capital se torna inevitável.
O UBS já acumula prejuízos de 40 bilhões de francos em conseqüência da crise imobiliária nos Estados Unidos – um recorde no mercado financeiro mundial.
O presidente do conselho de administração do banco, Marcel Ospel, anunciou sua renúncia nesta terça-feira, com uma justificativa insólita. Ele disse que prestou sua contribuição à solução dos problemas da instituição e que não concorrerá à reeleição na assembléia geral do próximo dia 23 de abril.
Ospel acrescentou que está “muito confiante em relação ao futuro do banco. Trabalhamos duro para atacar os problemas imediatos e criar as condições para uma atividade bem-sucedida do UBS no longo prazo”, afirmou num comunicado à imprensa.
Aumento de capital
Em conseqüência dos prejuízos astronômicos, está previsto mais um aumento de 15 bilhões de francos do capital do banco, desta vez com participação de todos os acionistas, como medida para manter a liquidez da instituição.
As novas ações provavelmente serão negociadas no final de maio e início de junho de 2008 nas bolsas da Suíça e de Nova York. Com o aumento do capital, o UBS quer “manter sua posição como um dos bancos mais sólidos e capitalizados do mundo”, diz a nota.
No início de fevereiro passado, um fundo estatal de Cingapura e um investidor da Arábia Saudita haviam injetado 13 bilhões de francos no banco.
Redução de “papéis podres”
Para o primeiro trimestre de 2008, o UBS espera um prejuízo líquido de aproximadamente 12 bilhões de francos, após perdas e amortizações de cerca de 19 bilhões de francos referentes a posições no mercado imobiliário estadunidense e a reestruturações na área de crédito.
Desde 31 de dezembro de 2007, o banco reduziu seus investimentos no mercado hipotecário dos EUA de 27,6 para cerca de 15 bilhões de dólares, e as aplicações em assim chamadas “posições A” de 26,6 para aproximadamente 16 bilhões de dólares.
A maior instituição financeira da Suíça anunciou a criação de uma nova unidade encarregada de administrar “determinados papéis sem liquidez no mercado imobiliário dos EUA”, cujo volume continuará sendo reduzido, “mas não a qualquer preço”, segundo o UBS.
Novo presidente
A crise hipotecária nos EUA atingiu duramente o UBS e colocou sua direção diante de um grande desafio, disse o vice-presidente Sergio Marchionne. Ele disse que Ospel comandou o banco numa época difícil e prestou contribuições decisivas à solução dos problemas.
“Marcel Ospel não é mais parte da solução dos problemas de seu banco. Com esse slogan, ele quis ficar no cargo durante a crise hipotecária. Mas o poderoso e influente executivo tem de terminar sua carreira com uma saída vergonhosa”, comenta o jornal Neue Zürcher Zeitung.
Otimismo precoce do mercado?
Críticos já haviam pedido há tempo a renúncia de Ospel, acusando-o de ter permitido o acúmulo de negócios de alto risco no valor de 80 bilhões de dólares.
Agora o conselho de administração deverá ser presidido por Peter Kurer, um jurista experiente, que integra a diretoria do banco desde 2002. Ele quer reconduzir o banco ao “caminho do sucesso, no interesse dos acionistas, clientes, funcionários e do bem-comum”.
Uma tarefa não deverá ser fácil, uma vez que as conseqüências da crise imobiliárias ainda não foram superadas. É imprevisível também de que forma o banco conseguirá sair da tempestade que enfrenta atualmente.
Depois que suas ações caíram de 80 para 28,86 francos, no começo do ano, o banco só vale mais 60 bilhões de francos. Apesar das perdas, o UBS não pretende mudar sua estratégia, que parece ter ainda a aprovação do mercado. Nesta terça-feira, as ações do banco voltaram a subir.
Os analistas prevêem que o UBS praticamente concluiu o processo de “purificação de seu portfólio” e que agora vai arrancar na direção de um futuro melhor. Por outro lado, advertem que o planejado aumento do capital poderá voltar a desvalorizar as ações do banco.
swissinfo, Geraldo Hoffmann (com agências)
Criado pela fusão em 1997 da Sociedade de Bancos Suíços (SBS) com o União de Bancos Suíços, o UBS é o maior banco suíço e segundo no mundo.
Em 2000, a primeira grande aquisição do novo grupo foi o PaineWebber, quarto maior banco de gestão nos Estados Unidos, preenchendo um vazio estratégico e regional na gestão de forturnas do UBS.
Em contrapartida, as compras dos «hedge funds» Long Term Capital Management e Dillon Read Capital Management foram desastradas. Ambos faliram por causa das dívidas.
Em julho de 2007, dois meses depois da falência do Dillon Read, o CEO Peter Wuffli demitiu-se de maneira surpreendente, sem justicativas claras. Em outubro, o UBS cortou 1.500 funcionátrios, inclusive executivos.
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