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Debate entre ministros denota progressos

É consenso que as pesquisas em biocombustíveis devem prosseguir Keystone

Os ministros e chefes de delegações ocuparam a agenda do penúltimo dia da Primeira Conferência Internacional sobre os Biocombustíveis, em São Paulo.

Os debates foram mais proveitosos do que geralmente acontecem entre ministros, com direito a uma confrontação à distância entre Cuba e Estados Unidos, e terminou com um apelo do Brasil pela colaboração na pesquisa do biodiesel.

Com exceção de Cuba, que continua a persistir na oposição entre produção de alimentos e de agrocombustíveis, parece haver consenso acerca da oportunidade de desenvolvimento sócio-econômico e da necessidade ambiental, de estender a produção de biocombustíveis, de maneira sustentável, a um grande número de países tropicais na América Latina, África e Sudeste Asiático.

Posteriormente, um ministro norte-americano disse que “o impressionava que se continue a associar os biocombustíveis com a alta dos preços dos alimentos” quando um estudo divulgado recentemente pela Fundação Getúlio Vargas, indicava “mais uma vez que não existe correlação.”

Alimentos e biocombustível

Na abertura dos debates de quinta-feira (20), o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse que “produzidos de forma sustentável, os biocombustíveis representam parte da solução para enfrenter três grandes desafios da atualidade: a segurança energética, a mudança do clima e o combate à fome e à pobreza”.

Mais adiante em seu discurso, Amorim afirmou que “uma das ironias dos debate que se instalou sobre a relação entre biocombustíveis e segurança alimentar é a inexplicável falta de referências, nesse debate, ao fato de que os países mais atingidos por crises alimentares jamais produziram uma gota de biocombustivel.”

Sustentável, sustentabilidade etc.

Aliás, sustentável e sustentabilidade são, de longe, as palavras mais usadas na conferência. “É porque muita gente não sabe bem o que é”, disse à swissinfo um funcionário de uma das organizações da ONU.

Ao ouvir os discursos elogiosos ao bioetanol brasileiro e os insistentes pedidos de outros países de cooperação e transferência de tecnologia, especialmente africanos, devemos estar no limiar de uma “mudança geopolítica”, nas palavras do ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues.

Intervenção da Suíça

A Suíça, prudente como sempre, tomou a dianteira com a primeira lei de baixa de tarifas a certos biocombustíveis, explicou a delegação suíça em intervenção oficial: precisam ter um rendimento 40% maior aos combustíveis fósseis, não provocar danos ambientais e respeitar condições dignas de trabalho. Como dizia recentemente à swissinfo o ministro do Meio-Ambiente, Energia, Transportes e Comunicações, Moritz Leuenberger “os direitos humanos não podem ser sacrificados em prol da mobilidade.”

Agradecimentos à parte pelo Brasil ter organizado a conferência, alguns exemplos demonstram o entusiasmo: “nos fascina a experiência do Brasil, a África não está condenada à agricultura primitiva e os investimentos são bem-vindos” declarou um ministro dos Camarões. Um ministo africano chegou a falar da “boa gastronomia de seu país” ao descrever as vantagens para os investidores em biocombustiveis.

“O Brasil é um modelo para nós todos”, disse a chefe da delegação sueca. “O presidente Lula exerceu uma liderança na bioenergia que pode ser a obra prima da sustentabilidade”, declarou um ministro alemão.

Mais pesquisas

A China, por exemplo, revelou na conferência que desenvolve projetos de biocombustíveis com produtos não-alimentícios, tais como insumos de milho, sorgo e celulose.

O Japão tem a mesma preocupação em não usar alimentos e desenvolve pesquisas em celulose, bagaço de cana-de-açúcar (em parceria com o Brasil) e palha de arroz. Sua delegação enfatizou a necessidade de desenvolver tecnologias de produção de biocombustíveis para áreas de seca e terras não-aráveis.

A Jordânia, que depende totalmente de combustível importado, está estimulando a pesquisa com os biocombustíveis e tem meta de chegar a 20% de sua matriz energética com de fontes renováveis até 2020.

Associados com Brasil e Estados Unidos

Também em São Paulo, os governos do Brasil e Estados Unidos decidiram expandir
a cooperação em biocombustíveis do Memorando de Entendimento, assinado pelos dois países em 2007, para promover objetivos comuns de segurança energética, desenvolvimento sustentável e proteção do meio ambiente. O entedimento ocorreu em encontro do ministro de Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, e o secretário de Estado da Agricultura dos Estados Unidos, Ed Schafer. O objetivo é pesquisar e difundir tecnologias de segunda geração de biocombustíveis, com a participação de empresas dos dois países.

Cinco novos países – Guatemala, Honduras, Jamaica, Guiné-Bissau e Senegal – serão incluídos como parceiros, além de El Salvador, Haiti e El Salvador que já faziam parte do acordo inicial.

Projetos em andamento

No âmbito bilateral, o ministro Celso Amorim e o secretário Ed Schafer saudaram a assinatura do acordo, em 3 de outubro último, entre o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Petrobras (CENPES) e o National Renewable Energy Lab (NREL), dos Estados Unidos, visando a acelerar o desenvolvimento conjunto e a integração de sistemas de processamento e distribuição de biocombustíveis com base em tecnologias de “segunda geração”. A cooperação é resultado da troca de missões de cientistas e especialistas, assim como de visitas de alto nível que se realizaram durante o ano corrente sob a égide do MoU Brasil-Estados Unidos.

No grupo inicial de países, Brasil, Estados Unidos e os organismos parceiros (BID, OEA, e Fundação das Nações Unidas) alocaram mais de 4,3 milhões de dólares a doze projetos em andamento. Os países beneficiários estão trabalhando para desenvolver suas indústrias nacionais de biocombustíveis para reduzir sua dependência energética.

Com relação ao pinhão manso, um variedade de palmácea, planta mais promissora na produção de biodiesel, o Brasil procura parceiros que também pesquisem essa planta, uma vez que a Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – calcula que ainda serão necessários dez anos para a exploração industial da planta.

swissinfo, Claudinê Gonçalves

A Primeira Conferência Internacional sobre Biocombustíveis, em São Paulo, termina nesta sexta-feira, com a V Sessão Intergovernamental e a cerimônia de encerramento com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

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