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Diemtigtal: o vilarejo que virou parque natural

Vales suíços distantes dos circuitos turísticos sofrem com o declínio demográfico e o esquecimento. Para combater o problema, muitos investem no seu principal recurso: a natureza.

Diemtigtal, nos Alpes bernenses, conseguiu até ser declarado parque regional natural. Jornalistas estrangeiros foram convidados a conhecê-lo.

Um vale verdejante, chalés de madeira e vacas pastando nos Alpes: o cenário idílico de uma Suíça que parece ter parado no tempo se revela depois de uma viagem de aproximadamente duas horas partindo de Zurique. Ao sair da rodovia, o veículo percorre um caminho de estradas estreitas e pequenos vilarejos até chegar a um remoto vale a oeste. À direita, montanhas. À esquerda, montanhas. Seja bem-vindo à Diemtigtal, o mais recente parque regional natural do país.

Para alívio dos 2.200 habitantes do vale que engloba oito minúsculos vilarejos, todos pertencentes à comuna de Diemtigen, a resposta positiva da Secretaria Federal de Meio Ambiente (Bafu, na sigla em alemão), saiu em 6 de setembro. Com a aceitação do pedido, impacientemente aguardado há alguns anos, Diemtigtal poderá manter por dez anos o selo de “parque regional natural”. A denominação é dada a regiões campestres habitadas, que se destacam pela natureza excepcional, com o objetivo de promover seu desenvolvimento sustentável.

A reação ao anúncio foi imediata. “Agradeço à população do vale, que sempre apoiou essa ideia desde o início”, declarou Ueli Sahli, diretor do projeto, à imprensa. Ele estima o apoio financeiro do governo federal e cantonal (estadual) na ordem de 300 mil francos por ano. O dinheiro servirá para manter ou criar trilhas temáticas, além de apoiar programas voltados para o turismo ecológico.

A área do novo parque é de 135,4 quilômetros quadrados, formado em grande parte por vales, florestas, pradarias alpinas e montanhas. O relevo é acidentado com vários desníveis: o ponto mais alto é a montanha de Männlifluh, 2.652 metros acima do nível do mar, e o ponto mais baixo está a 640 metros acima do nível do mar. A população majoritária é suíça. “Não temos muitos estrangeiros por aqui”, revela Markus Mösching, administrador da comuna.

Vida no campo 

Ao contrário de muitas outras regiões alpinas no país, onde o turismo é a principal atividade econômica, 60% da mão de obra no Diemtigtal trabalha na agricultura e em pequenas empresas como serrarias ou comércio. E mesmo o turismo também tem suas próprias características. “A grande parte dos turistas é interna e costuma vir ao vale apenas para passeios diários”, explica Bruno Reber, gerente da Diemtigtal Tourismus, o órgão local de turismo.

A proposta de transformar o vale em um parque natural foi apresentada à população e aprovada pelos eleitores em plebiscito em 2009. O motivo do apoio está no próprio conceito do projeto. “Em primeiro lugar a preocupação das pessoas era de que a economia local não sofresse restrições e, ao mesmo tempo, o ponto forte ficasse no aproveitamento ecológico da natureza, além obviamente da sua proteção”, diz Markus Mösching durante uma apresentação a jornalistas estrangeiros.

O administrador da comuna também lembra que Diemtigtal vive atualmente uma fase de grandes mudanças. “Ainda hoje somos a maior região agrícola alpina da Suíça, mas hoje existe uma forte tendência de concentração da produção, pois os velhos agricultores não encontram mais sucessores. As novas gerações procuram outras perspectivas profissionais”, ressalta Mösching. Para facilitar a transição, os responsáveis locais desenvolveram formas de trazer os turistas diretamente às fazendas através de ofertas como a “AlpGenuss”, um passeio de um a vários dias aos chalés nas pradarias nos pontos elevados nas montanhas onde são produzidos durante os meses quentes do ano o típico queijo alpino.

Outra forma encontrada de aproveitar das características locais são as trilhas temáticas. Uma delas leva visitantes a um passeio através dos vilarejos para admirar antigos chalés de madeira, alguns dos quais construídos no século 16. Outra trilha foi construída por moradores locais em uma floresta ao pé da montanha com o objetivo de atrair famílias. “Na trilha contamos em diversos postos com alguns brinquedos interativos, a história do anão Grimmimutz e da bruxa Pfefferhexe. Ela foi escrita por um professor de escola primária que vive na região”, conta a jovem Pamela Wyss, funcionária da Diemtigtal Tourismus, acrescentando que outras trilhas permitem a observação de animais selvagens ou pássaros.

Dormir na palha 

As atrações do parque regional natural do Diemtigtal foram apresentadas a jornalistas estrangeiros no início de setembro pela Suíça Turismo, o órgão nacional de turismo do país. Além da apresentação dos detalhes, os participantes foram convidados a fazer as trilhas, viver algumas manifestações culturais do vale como a chamada “luta suíça”, muito semelhante à luta romana, e também experimentar os produtos típicos como queijos.

Um dos jornalistas era Luciano Velleda, editor-chefe da revista Lonely Planet. Depois de dois dias de visita, ele estava convencido da ideia de criação do parque. “Acho que ele atinge o seu objetivo de oferecer para o turista o lado rural da Suíça, permitindo ao mesmo tempo o contato com a população local”, afirma. Por vir de São Paulo, a maior metrópole da América do Sul, o brasileiro ficou impressionado ao ver como se vive na Suíça fora das grandes cidades. “Uma coisa que me impressionou foi o fato dos moradores dos vilarejos não se importarem de não ter iluminação pública à noite e o silêncio nas ruas.”

Para reforçar a experiência, a comuna organizou para um grupo de jornalistas uma noite dormindo em cima de palha em um estábulo no alto dos Alpes. Para a maior parte dos estrangeiros, vindos de várias partes do globo, acordar pela manhã e tomar um copo de leite recém-tirado com uma vista panorâmica para o vale, já mostrou que a simplicidade é capaz de oferecer as maiores aventuras. E é isso que Diemtigtal quer oferecer, como ressaltam seus habitantes. 

O Departamento Federal de Meio Ambiente (Bafu, na sigla em alemão) aprovou a criação de oito parques regionais naturais: Diemtigtal, Gantrisch, Chasseral, Thunersee-Hohgant (todo no cantão de Berna), Binntal (Valais), Ela (Grisões), Gruyère-Pays d’Enhaut (Fribourg e Vaud) e o Jurapark Aargau (Argóvia e Solothurn).

Atualmente a Suíça dispõe de um parque nacional (Parque Nacional Suíço), 11 parques regionais e 1 parque de vivência natural (Wildnispark Zürich-Sihlwald).

A área total corresponde a 7.300 quilômetros quadrados (18% do território nacional).

O Bafu apoia os parques através de um orçamento de 9,5 milhões de francos. A partir de 2012 serão dez milhões.

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