Duas redes de supermercado que dominam a Suíça
Na Suíça, dois logotipos laranja dominam o comércio varejista: Migros e Coop.
O fato que o segundo acaba de ultrapassar o primeiro em vendas não muda nada nessa situação quase única na Europa. E como fica o consumidor nessa história?
Migros já não é mais o número um dos grandes supermercados suíços. Ao comprar o atacadista europeu TransGournet, o grupo Coop ultrapassou o seu eterno rival em termos de volume de negócios. Mesmo se o montante exato da transação não foi comunicado, estima-se que o “outro logotipo laranja” tenha um peso atual de 27 bilhões de francos, dois a mais do que o “M” de Migros.
Juntos, Migros e Coop vendem 70% de tudo o que os habitantes da Suíça comem e bebem. Essa é uma situação única no continente, com exceção do caso da Finlândia e, em uma menor escala, da Dinamarca. Mas nesses dois países nórdicos, o duopólio disputa com outros atores que podem representar até 10% do mercado. Já no país dos Alpes, após a compra do supermercado de descontos Denner por Migros, nenhuma outra empresa chega o esse tamanho.
Também desde o início de novembro, um estudo realizado em seis países europeus pela Associação das Indústrias de Marca (Promarca) mostrou que Migros e Coop têm as maiores margens de lucro do setor: respectivamente 37% e 33,1%, contra uma gama que vai de 33,7% a 14,5% nos outros países avaliados.
Margens de lucro confortáveis e o duopólio quase perfeito: isso significa que os dois gigantes suíços determinam o mercado?
Questão de preços
Na questão das margens, Coop considera que “as margens brutas são uma abordagem incorreta para tal análise”. Assim, “Coop, com seus supermercados em todas as regiões do país, com seu compromisso com a sustentabilidade ambiental, a durabilidade, o serviço e as condições sociais dos seus empregados, não pode calcular com as mesmas margens que um supermercado de descontos, com um sortimento limitado e serviços reduzidos nas lojas”, argumenta um porta-voz do grupo.
Ao final, Coop afirma ter uma margem de lucro líquido de apenas 2,4%, enquanto que Migros, 3,4%. São números claramente inferiores aos do resto do setor alimentar na Suíça (10%) e mesmo do comércio europeu de varejo.
Então, por que os gêneros alimentícios na Suíça são, em média, 45% mais caros do que no resto da Europa ocidental, como mostrou um recente estudo do banco UBS?
Damian Künzi, analista no banco Credit Suisse, observou que a diferença se torna imediatamente menos dramática quando a Suíça é comparada com seus quatro vizinhos diretos (Alemanha, Áustria, Itália e França). Aqui o nível geral de preço é “apenas” 11% superior, e 19% se apenas o setor alimentar é levado em conta.
Concorrência?
Essa diferença se deve principalmente à forte regulamentação da agricultura. Nos setores onde a proteção legal contra as importações foi abolida, a diferença de preços desapareceu em grande parte, como demonstrou o caso dos queijos. “Portanto, é crucial que as fronteiras sejam abertas”, ressalta Walter Stoffel, professor de direito comercial na Universidade de Friburgo.
“De fato, a estrutura competitiva não é ideal. Mas o mercado suíço é pequeno. Se na França existem cinco ou seis grandes operadores, não Suíça não haveria provavelmente espaço para mais do que três”, acrescenta este que presidiu a Comissão Federal pela Concorrência de 2003 a junho de 2010.
Ele cita também o exemplo do Carrefour, um grupo do qual os “gigantes” suíços Coop e Migros se tornam em “anões” quando postos ao lado, mas que também acabou se retirando da Suíça. Razão: a rede não via formas de se desenvolver no mercado helvético “fazendo o mesmo que Migros e Coop.”
“Mas em termos de concorrência, é importante que exista uma ‘ameaça’ vinda do exterior, sobretudo nas margens de lucro”, avalia Walter Stoffel. “É o que fazem Aldi e Lidl (redes alemãs de supermercados e que se instalaram há pouco na Suíça). Eles atacam um pequeno nicho, mas fazem muita coisa se movimentar.”
O exemplo já é clássico: ao se inspirar no modelo inglês (o país que melhor resistiu à chegada das redes alemãs de desconto), Migros e Coop se anteciparam à chegada delas. Segredo: elas criaram suas próprias linhas de produtos a preços baixos e, no caso da Migros, isso ainda foi ressaltado pela compra da rede de supermercados Denner.
Aldi e Lidl, que se estabeleceram respectivamente no mercado suíço em 2005 e 2009, “abalaram” o mercado alimentar suíço, como constata também Damian Künzi. “Agora nós nos ocupamos dos preços e o fosso entre a Suíça e os países vizinhos foi reduzido efetivamente graças à concorrência das grandes redes de desconto, que levou os dois gigantes helvéticos a expandir sua gama de produtos de preço reduzido”, diz o analista bancário.
“Tudo ocorreu muito bem, como foi saudado na época pela Comissão de Concorrência”, confirma Walter Stoffel. “Isso mostra que essa entrada no mercado provocou um efeito competitivo.”
Consumidor olha menos para as despesas
O fato é que Aldi e Lidl, duas empresas que são claramente muito maiores do que Coop e Migros, acabaram ao final tendo de se contentar com 5% do mercado suíço. Já na Alemanha (de onde são originadas), a população faz 40% das suas compras nelas e em outros supermercados de descontos.
A explicação está na mentalidade alemã, que combina o “frugal é bom” com “ser econômico é chique”, não é tão comum na Suíça. “Aqui o comportamento dos consumidores é diferente”, considera Dimitri Wittwer, especialista em marketing na Universidade de Berna. “As pessoas pagam voluntariamente por um selo de produto ‘biológico’, por um produto originado de comércio justo ou de melhor qualidade.”
Migros
25 bilhões de francos em volume de negócios.
850 milhões de francos em lucros, 3,4% das venda.
84.000 funcionários
590 pontos de venda, somando uma superfície de 1,2 milhões de metros quadrados.
Coop
18 bilhões de francos em volume de negócios.
430 milhões de francos em lucros, 2,4% das venda.
53.000 funcionários
1900 pontos de venda, somando uma superfície de 1,7 milhões de metros quadrados.
Números de 2009 arredondados. Fonte: relatórios de gestão do Migros e Coop
Duopólio: juntos, Migros e Coop controlam aproximadamente um terço de todo o comércio de varejo da Suíça. Levando-se em conta apenas os setores de alimentação e bebida, sua parte eleva-se a 70%.
Concorrência: em 2009, a rede alemã de supermercados Lidl se instalou na Suíça, cujo mercado já era bastante competitivo. Seu rival na Alemanha, Aldi, chegou em 2005 no país. Ao final de 2010, as duas redes terão 220 pontos de venda e somar aproximadamente 5% do mercado, como mostrou um estudo do banco Credit Suisse.
Extensão. A chegada das duas redes alemãs desencadeou uma consolidação no setor. Em 2007, Migros recebeu a autorização para comprar o concorrente Denner. Já Coop pode assumir as lojas vazias deixadas pela empresa francesa Carrefour, além de comprar a rede de lojas de produtos eletrônicos Fust.
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