Escassez de ovos impulsiona alternativas veganas

A pior onda de gripe aviária em anos levou ao abate de centenas de milhões de aves e fez os preços dos ovos dispararem em países como Estados Unidos e Suíça. Enquanto governos tentam conter a crise, empresas que produzem ovos veganos celebram um crescimento acelerado.
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Desde janeiro de 2022, foram registrados mais de 1600 surtos de gripe aviária nos Estados Unidos. Trata-se do primeiro surto do gênero desde 2016. Os vírus da gripe aviária do subtipo H5N1 são extremamente virulentos e podem causar até 100% de mortalidade em galinhas. De acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) nos EUA, até o momento, mais de 168 milhões de aves morreram ou foram abatidas devido à detecção do vírus A(H5) da gripe aviária altamente patogênica (HPAI, na sigla em inglês).
A perda de aves poedeiras fez com que o custo dos ovos subisse a preços recordes nos EUA, obrigando o governo a mostrar que estava levando o assunto a sério.
“O governo Biden fez pouco para lidar com os repetidos surtos e os altos preços dos ovos que se seguiram. Ao contrário disso, o governo Trump está levando a questão a sério”, escreveuLink externo a secretária de Agricultura dos EUA, Brooke Rollins, no Wall Street Journal em fevereiro, ao anunciar um bilhão de dólaresLink externo em financiamento para proteger o setor avícola no país e reduzir os preços dos ovos, além da compensação paga aos agricultores pelo abate de suas aves.
“Os agricultores estadunidenses precisam de auxílio e os consumidores do país precisam de alimentos a preços acessíveis. Para todas as famílias que estão lutando para comprar ovos: nós ouvimos vocês, estamos lutando por vocês e a ajuda está a caminho”, escreveu Rollings.
O setor avícola da Europa também foi afetado. De acordo com os dados informados ao Sistema Mundial de Informações sobre Saúde Animal (WAHISLink externo), cerca de 134 milhões de aves domésticas morreram ou foram abatidas devido à gripe aviária na Europa desde 2021. O mercado europeu de ovos ainda não se recuperou.
Vários casos de influenza aviária altamente patogênica foram relatados entre aves domésticas e selvagens na Suíça. As propriedades agrícolas nas áreas afetadas foram solicitadas a confinar suas aves em recintos fechados por períodos específicos, mas não houve abates em massa.
A demanda dos consumidores por ovos cresceu. As explicações mais óbvias para isso são a transição de imagem dos ovos como alimento saudável e a tendência de uma dieta rica em proteínas. Em setembro passado, o governo suíço teve que aumentar a cota de importação de ovos de baixa tarifa em mais 7.500 toneladas (um aumento de 43%) para suprir a demanda. A aproximação da Páscoa está trazendo um aperto maior aos supermercados. A Migros, maior cadeia de supermercados da Suíça, teve que explicar a seus clientes a razão pela qual suas prateleiras estão parcialmente vazias.
“Em 2024, a demanda por ovos aumentou em torno de 10%, enquanto a procura por ovos frescos suíços caipiras cresceu ainda mais. A oferta simplesmente não consegue acompanhar o ritmo dessa demanda”, comunicouLink externo a rede de supermercados através de seu site.

A Migros depende de importações de outros países europeus para dar conta do aumento da demanda na Suíça. Isso também tem sido difícil.
“No entanto, há limites para essas importações, já que um aumento na demanda por ovos também pode ser observado em outras partes da Europa”, consta do comunicado da rede.
Alternativas à base de plantas como plano B?
Substituir os ovos por alternativas de origem vegetal pode levar à consolidação de um nicho do setor de alimentos – um nicho que pode justamente se beneficiar da escassez de ovos. Esses produtos não são tão conhecidos quanto as alternativas à carne, mas pegam carona nas tendências de escolhas de estilos de vida mais éticos e de maior respeito ao meio ambiente. E visam os adeptos do flexitarianismo – opção que restringe, mas não abole totalmente a ingestão de alimentos de origem animal.
Uma dessas empresas é a Just EggLink externo, sediada em São Francisco, que fabrica produtos substitutos de ovos a partir de feijão mungo (feijão moyashi). A empresa está apresentando um crescimento significativo devido à escassez de ovos no mercado.
“Estamos crescendo cinco vezes mais que no ano passado e cinco vezes mais que as vendas de ovos de galinha. 91% dos nossos consumidores não são veganos nem vegetarianos, e 56% dos compradores da Just Egg retornam para uma segunda compra (ou mais), sinalizando uma mudança permanente nos hábitos de compra de ovos”, diz Thomas Rossmeissl, diretor de marketing da empresa.
Essa é uma tendência que pode ser observada também na Suíça, onde o setor de tecnologia de alimentos é conhecido por apresentar produtos inovadores.
“Sim, temos observado um aumento notável no interesse por nossas alternativas aos ovos, que são à base de plantas, como resultado dos surtos contínuos de gripe aviária. Principalmente por parte de grandes empresas que consideram o ovo uma matéria-prima estratégica”, diz Silvan Leibacher, cofundador e diretor-executivo da EggFieldLink externo.
A startup suíça usa leguminosas como grão-de-bico e ervilhas para reproduzir o sabor e a consistência de ovos inteiros, claras de ovos ou gemas de ovos usados para assar ou cozinhar. A EggField entrega seus produtos a padarias e restaurantes suíços, bem como a distribuidores internacionais como a Bäko Germany e a German Producers.

“Neste trimestre, registramos um volume de 53% a mais nas vendas em comparação com o mesmo período no ano passado – a substituição de ovos é definitivamente um assunto no setor”, completa Leibacher.
As multinacionais suíças de alimentos, como a Nestlé e a Lindt & Sprungli, não têm sido significativamente afetadas pela escassez, já que os ovos representam uma proporção muito pequena de suas matérias-primas. Mesmo assim, a EggField já vem despertando o interesse de empresas do setor alimentício que buscam um plano B.
“Mais de 40 grandes fabricantes de alimentos em toda a UE estão testando nossos produtos no momento, a fim de mitigar o risco potencial futuro de escassez de suprimentos e novos aumentos de preços”, relata Leibacher.
Edição: Marc Leutenegger/ts
Adaptação: Soraia Vilela

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