Eurocopa não teve efeito econômico duradouro
A Eurocopa, disputada de 7 a 29 de junho em quatro cidades suíças e quatro austríacas, não melhorou a imagem da Suíça no exterior nem teve efeito sustentável para a economia do país.
É o que conclui um estudo da Secretaria Federal de Esportes (Baspo, na sigla em alemão), divulgado nesta segunda-feira (17/11), em Berna. “Não é possível comprovar uma sustentabilidade resultante da Euro”, dizem os autores.
A imagem da Suíça em seus dois principais países vizinhos – Alemanha e França – praticamente não melhorou. “O aspecto mais sustentável que permanece é a lembrança de um grande evento”, disse o coordenador do estudo sobre o impacto econômico da Euro 2008, Hansruedi Müller, do Instituto de Pesquisas do Lazer e do Turismo (FIF), de Berna.
Ele acrescentou que o ganho de imagem foi superestimado. “A Suíça correspondeu à expectativas, mas não as superou.” O mesmo estudo mostra que os suíços costumam superestimar sua imagem no exterior.
A metade dos torcedores estrangeiros entrevistados durante a Eurocopa disse que voltaria à Suíça nos próximos anos. Os suíços ganharam boas notas pela hospitalidade, a segurança, a atmosfera e o transporte.
A pesquisa revelou também o ceticismo dos suíços em relação ao sucesso econômico do torneio. Os pesquisadores pagos com recursos públicos tentam convencê-los do contrário e afirmam que, com um faturamento total de aproximadamente 1,5 bilhão de francos, um rendimento bruto de 870 milhões e um volume de trabalho correspondente a 7 mil empregos, os resultados de curto prazo foram próximos das previsões máximas feitas em 2007.
Jogo de números
De fato, em maio de 2007, estudos oficiais previram um impulso de 637 milhões a 859 milhões de francos para a economia suíça – números impressionantes, mas insignificantes se comparados ao Produto Interno Bruto do país, que é 500 bilhões de francos. Além disso, eram previstos efeitos de longo prazo para o turismo.
Os autores do estudo da Baspo deram uma explição para a fraca ocupação dos hotéis durante a Euro: muitos visitantes (em Basiléia 39% e em Genebra 22%) se hospedaram em casas de parentes e conhecidos, em “campings selvagens” ou dormiram no carro. Mesmo assim, 245 mil pernoites em hotéis foram atribuídos à Eurocopa.
Na infra-estrutura, foram investidos entre 38 e 56 milhões de euros, dependendo do cálculo, disse o autor do estudo sobre esse aspecto, Christian Moesch.
Apesar da produção de montanhas de lixo, o balanço ambiental do torneio foi considerado razoável. “É uma pena que não foi desencadeado um processo sustentável. Os estádios, por exemplo, não fizeram uma certificação. Isso foi uma chance perdida”, disse Müller.
As conclusões do estudo servirão para a definição de uma estratégia para grandes eventos esportivos. “Trata-se, por exemplo, de saber se a Suíça tem condições de organizar os Jogos Olímpicos de Inverno”, disse o diretor da Baspo, Matthias Remund. Representantes das associações esportivas suíças vão discutir os resultados da pesquisa na quinta-feira (20/11), em Magglingen, estado de Berna.
Previsões exageradas
Os dados apresentados nesta segunda-feira não surpreendem. Segundo uma análise publicada pelo jornal Der Bund, de Berna, as pesquisas demonstram que as previsões sobre efeitos econômicos de grandes eventos esportivos são sempre exageradas, provavelmente por serem encomendadas pelos organizadores.
O economista britânico Stefan Szymanski constatou isso, por exemplo, na Copa de 2002 no Japão e na Coréia do Sul. Estudos sobre a Eurocopa 2000 na Bélgica e na Holanda demonstraram que os dois países não tiveram qualquer ganho econômico, esportivo ou de imagem com o evento.
O Instituto Alemão de Pesquisa Econômica, de Berlim, chegou a uma conclusão semelhante em relação à Copa 2006 na Alemanha: “nenhum efeito econômico mencionável para a economia como um todo”. Quem lucrou foi a Fifa (em 2006) e a Uefa (em 2008).
swissinfo, Geraldo Hoffmann (com agências)
Segundo uma pesquisa divulgada no final de setembro passado, a Suíça sequer teve um ganho de imagem com a Eurocopa. No chamado Nation Brands Index, o país caiu da quinta para a oitava posição.
O especialista britânico Simon Anholt, que coopera com a Presença Suíça (agência estatal de turismo) entrevistou 20.157 adultos em 20 países na terceira semana de julho.
Os resultados desmentiram as expectativas de 92% dos suíços que, segundo a Baspo, previam uma “apresentação positiva da Suíça no exterior” em função da Euro.
“Isso não passou de um desejo. No exterior, a Euro 2008 não teve qualquer influência sobre a imagem da Suíça”, disse Anholt.
Enquanto os efeitos para a imagem do país foram superestimados, os custos do evento (140 milhões de francos) foram subestimados em mais 20 milhões de francos. Só no cantão de Genebra os gastos públicos com o torneiro superaram em 4,4 milhões o orçamento previsto.
Críticos da Eurocopa questionam se os 140 milhões de francos gastos com o evento não teriam sido melhor investidos em educação, pesquisa e projetos de apoio à juventude ou para reduzir os impostos.
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