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“Fórum Social Mundial só faz festa”

Milhares de pessoas participaram da marcha de abertura do FSM 2009. Keystone

O sociólogo brasileiro Sérgio Coutinho diz que o Fórum Social Mundial (FSM) "consegue apenas marcar a festa e atrair os convidados".

Autor do livro O Movimento dos Movimentos, ele acredita que o FSM não é ouvido internacionalmente porque só tem propostas genéricas e não mostra ação.

swissinfo: O que o Fórum Social Mundial é capaz de fazer e o que é inútil esperar dele?

Sérgio Coutinho: O Fórum Social Mundial já superou o maior dos seus desafios, que foi a continuidade. Conseguiu se estruturar internacionalmente para assegurar que um evento de proporções gigantescas continue ocorrendo a cada ano e que ainda mantenha edições temáticas e regionais. Infelizmente, tem enorme dificuldade para assumir a identidade de movimento por não ter ações tão contínuas quanto as reuniões. A razão de existir passou a ser servir como um grande ponto de encontro e garantir o Fórum seguinte. As deliberações em seus documentos oficiais são sempre genéricas e reformistas, nada que comprometa significativamente.

É possível chegar a um resultado concreto num fórum de 80 a 100 mil pessoas ou o que importa é o encontro, a festa?

As marchas que deram origem ao Fórum reuniam um número muito superior e conseguiram pressionar autoridades e executivos atrasando acordos multilaterais de investimentos. O Fórum consegue apenas marcar a festa e atrair os convidados.

Um dos objetivos do FSM é a “busca e a construção de alternativas ao neoliberalismo”. Qual é a alternativa ao neoliberalismo: um novo capitalismo ou um socialismo como o do trio Chávez-Morales-Correa?

Todo capitalismo é fundado na lógica do capital: reproduzir e acumular riquezas por meio do trabalho humano. Não faria diferença procurar um novo capitalismo, mas um socialismo que enfrente esses paradigmas. O trio populista Chavez-Morales-Correa é incapaz disso. Com frases de efeito e jogando com plateias miseráveis, brincam de governar. É triste que um evento que ainda mantém uma direção séria e responsável, como o Fórum Social Mundial, admire presidentes que não se articulam para enfrentar a miséria do mundo.

O FSM foi levado a Belém para chamar a atenção à questão da proteção da Amazônia e do clima, mas esses assuntos sumiram da agenda internacional com a crise econômica. As chances de o Fórum ser ouvido internacionalmente não parecem boas, não acha?

O Fórum nunca foi ouvido internacionalmente. Os grandes nomes que foram ouvidos não o foram por estarem no Fórum. Já eram ouvidos antes. Sobre o meio ambiente, o Fórum foi tão útil quanto a Rio-92, que, ao ter segunda edição dez anos depois, teve o constrangimento de constatar que todas as suas metas ainda estavam pendentes. O Fórum é uma festa, um evento que visa a se articular como movimento social, apenas não consegue porque agrega e articula pessoas e movimentos, mas não age.

Muitos participantes do FSM – inclusive jornalistas – têm dificuldades em perceber uma linha mestra do encontro. A agenda inclui coisas como “arrastões culturais”. O que é isso?

São festas menores. Como todo grande evento, o FSM também tem sua programação noturna. Há linha mestra: reformar o capitalismo para se tornar mais humano com a participação do Estado. Isso agrada a qualquer governo de centro-esquerda e a todos os populistas. É difícil encontrar quem discorde de propostas tão genéricas.

swissinfo, Geraldo Hoffmann

Mestre em Sociologia pela UFAL. Advogado e professor universitário em Maceió.

Consultor da Associação dos Deficientes Físicos de Alagoas (ADEFAL). Autor de “O Movimento dos Movimentos: possibilidades e limites do Fórum Social Mundial”.

Vencedor com este livro do I Prêmio Literário Cidade de Manaus na categoria Ensaio Sócio-Econômico.

O movimento dos movimentos – possibilidade e limites do Fórum Social Mundial consiste numa análise da ideologia própria ao Fórum como movimento social.

Para isso, o autor faz uma reflexão sociológica sobre a construção política dos movimentos sociais nos séculos XIX a XXI. As referências teóricas passam por Pierre Bourdieu, Ernesto Laclau, István Mészáros, além de uma revisão crítica dos cientistas sociais que têm discutido o significado dos novos movimentos sociais no atual século, como Boaventura de Sousa Santos, Naomi Klein e John Holloway.

São examinados os documentos produzidos pelo Forum Social Mundial para conferir e analisar criticamente seus objetivos para o mundo.

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