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Fazendo chocolate Lindt com Roger Federer

Da esq. à dir.: Roger Federer, o mestre-chocolateiro Urs Liechti e e Ernst Tanner, diretor-geral da Lindt. cortesia

Para comemorar o início do período natalino, Lindt & Sprüngli, o líder suíço na produção de chocolates finos, organizou uma grande festa popular com espetáculo de iluminação, mercado de Natal e visitação à fábrica nas proximidades de Zurique.

Um dos convidados mais ilustres era o tenista Roger Federer, que além de ser vizinho da fábrica, também revelou ser um verdadeiro “chocólatra”.

Só o título do convite já dava água na boca. “Lindt Chocolate Day” prometia ser uma grande festa popular de uma das marcas mais populares e finas de chocolate do país dos Alpes. Além do tradicional mercado natalino, a direção da empresa havia anunciado a vinda do tenista suíço Roger Federer, que desde outubro de 2009 se tornou garoto-progapanda da marca, algo inédito nos seus 165 anos de existência.

Localizada em Kilchberg, a fábrica marca toda a região não apenas pelo seu desenho clássico, mas também por emanar um forte aroma adocicado, que costuma atrair até turistas a esse pequeno vilarejo às margens do lago de Zurique.

As árvores estavam decoradas com bolas natalinas. Na entrada do novo prédio, uma fileira de coelhos de chocolate ensinava o caminho até o salão, onde os convidados podiam trocar de roupa. As regras de higiene obrigam: qualquer visitante que entre na linha de produção precisa colocar uma touca na cabeça, vestir um jaleco e lavar as mãos. Depois as portas do “paraíso” foram abertas ao grupo, formado em grande parte por jornalistas e clientes especiais.

Alta tecnologia

Ao contrário da imagem romântica, os produtos da Lindt não saem de panelões onde mestres-chocolateiro misturam cuidadosamente os ingredientes. Hoje em dia, os braços foram substituídos por máquinas e o cérebro por computadores. Na linha de produção, quase inteiramente automatizada, a massa de cacau já chega pronta depois dos grãos terem sido torrefados em uma fábrica em Olten. Ao contrário de muitas empresas na Suíça ou no exterior, que costumam comprar a matéria-prima dos maiores fabricantes mundiais de chocolate, Lindt domina todas as etapas de produção, passando da torrefação das sementes de cacau, do preparo da massa até o produto final.

Descarregada em uma das gigantescas máquinas, a massa escura de cacau passa por diversas etapas, indo da mistura de ingredientes, refino e conchagem até chegar a um dos vários tipos de formas. Depois de resfriadas, as barras são embaladas. Em algumas salas, a temperatura é mantida sempre a 18 graus. “Assim garantimos a qualidade do chocolate”, explica um técnico.

O setor de bombons é ainda mais complexo. Máquinas especiais preparam as diferentes misturas, seja através das receitas clássicas dos mestres-chocolateiros, ou encomendas exclusivas. As pequenas delícias são guardadas em um grande depósito de prateleiras, onde robôs fazem a seleção para preencher as caixas de sortidos e as colocam nas esteiras. Braços com leitura ótica tiram os bombos e levam aos seus espaços correspondentes nas embalagens. Porém eles não são perfeitos. “Muitas vezes sobra um espaço vazio e nossas funcionárias têm de preenchê-lo com a mão”, afirma o técnico, apontado um grupo de mulheres frente a caixões de bombons e a esteira rolante.

Um detalhe picante explica o que ocorre com bombons que caem no chão, ocorrência comum frente à velocidade elevada da produção. “Eles são guardados e depois utilizados na alimentação animal“, disse o funcionário, revelando também que os animais privilegiados são suínos.

Arte de fazer chocolate

Depois da visita à fábrica, o grupo de convidados foi levado a uma sala de degustação. Um dos novos produtos oferecidos era da série “Lindt Passion Chocolat”, uma mistura de chocolate negro, caramelo e ‘fleur de sel’, uma espécie de sal finíssimo retirado da espuma das salinas. Essa barra, uma das mais caras (cinco dólares) encontradas atualmente nas prateleiras dos supermercados suíços, foi um desafio para os mestres-chocolateiro. “Eles precisaram de dois anos para desenvolver essa receita”, contou uma das confeiteiras presentes.

Ao lado, dois outros confeiteiros convidavam os presentes a tentar fabricar o próprio chocolate. A massa era mantida derretida em panelas especiais. Com uma concha, o primeiro a se aventurar colocou o chocolate em uma fôrma simples. A espátula era utilizada para raspar e dar a forma da barra. “Agora vocês podem escolher um desses ingredientes, que já utilizamos para afinar os nossos produtos”, replicou a jovem vestida com um avental branco e um chapéu de cozinheiro, apontando para recipientes plásticos contendo amêndoas picadas, fatias de avelã caramelizada, raspas de laranja, pistaches picado, framboesas secas e pedacinhos de crocante.

“Mesmo o sal pode combinar muito bem com o doce, já que ele faz ressaltar bem alguns sabores”. Ela lembra que a arte de fazer chocolate também é bastante complexa, não se limitando apenas a mistura de ingredientes. “O mestre-chocolateiro precisa saber como temperar a massa, diminuindo ou elevando a temperatura corretamente”, replicou a jovem. Isso explica porque a compra a matéria-prima de um grande fabricante de atacado como a multinacional Barry Callebaut não basta para se tornar um verdadeiro artesão.

Federer conquistado com bombons

A aula de fazer chocolate foi seguida pelo encontro com Federer. A ideia da Lindt de convidar o tenista detentor de 16 títulos de Grand Slam e um career Grand Slam (vitória nos quatro torneios do Grand Slam, recorde partilhado com cinco tenistas) para ser o garoto-propaganda ocorreu após uma derrota sofrida em Xangai no inverno de 2008. Ernst Tanner, o diretor-executivo e presidente do conselho de administração, enviou para Federer uma caixa de bombons e um convite pessoal para visitar a fábrica em Kilchberg. O desportista, que mora em Wollerau, um vilarejo poucos quilômetros distante da fábrica da Lindt, aceitou. Da visita surgiu a proposta, prontamente aceita pelo atleta. Um jornal econômico estima que Federer ganha anualmente quatro milhões de francos com o patrocínio.

Questionado pela swissinfo.ch se sua imagem combina com chocolate, Federer abriu o baú do passado. “Pode ser que eu comia em excesso quando era criança, pois não tinha ideia. Mas hoje prefiro degustar o chocolate”, disse, revelando também suas preferências de consumo. “Costumo comer um pouco antes da partida ou depois, com amigos, para relaxar”. E para justicar o trabalho de marketing, ele ressalta patriotismo. “Cresci com chocolate como toda criança suíça e por isso tenho orgulho de estar trabalhando para a Lindt.”

Roger Federer, que para seus fãs representa legítimas qualidades suíças, não titubeia ao ser confrontado com os problemas de imagem sofrido da Suíça, sobretudo após a quase falência de um dos seus maiores bancos ou disputas fiscais com países vizinhos. “Não sou político, mas sim um bom tenista. Tenho muito orgulho de representar o meu país, pois acho que seus valores são muitos bons. Temos grandes produtos de exportação como os da Lindt e outras marcas também, com os quais em alguns casos estou feliz em estar associado. A Suíça continua tendo uma imagem no mundo e quando as pessoas me veem, muitas pensam na qualidade e excelência suíça”, declarou à swissinfo.ch

Investimento no Brasil

Ao seu lado, Ernst Tanner não escondia o orgulho de ver sua marca associada ao tenista de sucesso. Considerado por muitos analistas, como um dos mais competentes executivos da Suíça, ele revelou à swissinfo.ch também ter planos para o Brasil. “Nosso primeiro projeto era ter um bom estabelecimento nos Estados Unidos. Há quinze anos éramos ‘mister nobody’ e agora estamos tão bem ancorados, que nossa marca nunca irá mais desaparecer. Agora os próximos países são Japão, China, Rússia e Brasil, em minha opinião os próximos mercados emergentes.”

A posição do fabricante de chocolate de Kilchberg no maior país da América do Sul já é confortável na atualidade. “No Brasil somos líderes no setor de duty free. Devido ao fato de as pessoas comprarem nossos produtos quando chegam em casa, temos então já um mercado interno. Agora estamos analisando com profundidade o mercado brasileiro e posso anunciar que nossa empresa estará mais ativa no país nos próximos dois a três anos.”

O anúncio não parece ser um blefe, sobretudo frente aos resultados da empresa – só em 2009, a Lindt teve globalmente um faturamento de aproximadamente US$ 2,5 bilhões. Além disso, Tanner mostrou-se conhecedor das dificuldades de investir no Brasil. “É muito provável que a gente tenha de produzir localmente, pois o Brasil é um país difícil nessas questões de taxas de importação. Os produtos devem passar rapidamente pelas aduanas, pois senão eles derretem. Por isso então queremos fabricar alguns produtos localmente, mesmo que os mais complexos, que exigem um maior investimento, continuem saindo aqui de Kilchberg.”

Empregando mundialmente 7.409 funcionários, a empresa suíça tem seis fábricas na Europa e duas nos Estados Unidos. Além disso, mantém 17 filiais próprias e outros distribuidores independentes em outras partes do mundo.

Faturamento (2009): 2,525 bilhões de francos (aproximadamente US$ 2,5 bilhões). Do faturamento, 6,2% é gerado na Suíça, 57% na Europa (dos quais os principais mercados são Alemanha, França e Itália), 26,8% na América do Norte e 9,8% no resto do mundo.

Sua sede está localizada em Kilchberg, vilarejo localizado às margens do lago de Zurique.

1845: David Sprüngli-Schwarz e seu filho Rudolf Sprüngli-Ammann criam pela primeira vez na sua confeitaria em Zurique, David Sprüngli & fils, pela primeira vez chocolate sólido.

1879: desenvolvimento do “conche”, um processo de fabricação utilizado para dar a delicadeza do chocolate (graças à ação de conchas, nesta etapa a pasta é misturada, esmagada, bem homogeneizada, é um processo que se prolonga por horas ou até vários dias. No decurso da conchagem é adicionado manteiga de cacau). Assim surgiu o primeiro chocolate que “derrete” na boca.

1899: compra da firma Rod. Lindt & fils, assim como da marca e do processo secreto de fabricação pela Chocolat Sprüngli AG. Marca passa a se chamar Fábrica de Chocolate Lindt & Sprüngli AG.

1977-1993: início da internacionalização da marca.

1986: Lindt & Sprüngli passa a ser cotada na Bolsa de Valores.

1994: Transformação em um holding.

1997: Faturamento ultrapassa a marca do bilhão (em francos suíços).

1994-2010: internacionalização da marca com aquisições externas (1994 – Hofbauer na Áustria , 1997- Caffarel na Itália e 1998 – Ghirardelli Chocolate Company nos EUA) e abertura de filiais próprias no exterior.

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