Food-Design: comida entre a cozinha e o laboratório
Museu do Ofício em Winterthur organiza surpreendente exposição sobre a produção de alimentos e hábitos alimentares contemporâneos.
Diariamente laboratórios produzem novos alimentos, sabores e odores. Na Suíça, mais de 90% da comida é industrializada.
Com segurança, essa não é um evento para pessoas sensíveis, que não se preocupam com o que vem no prato de comida.
“Food Design: comida entre a cozinha, arte e o laboratório” é o título da exposição organizada pelo Museu de Ofícios de Winterthur, que percorre agora também outras cidades suíças como Berna.
“Os diversos escândalos que ocorreram nos últimos anos na indústria alimentícia européia, como a doença da vaca louca ou uso de hormônios, nos incentivaram a organizar uma mostra sobre os desenvolvimentos tecnológicos que ocorrem no setor alimentar”, explica Claudia Cattaneo, co-diretora do Museu de Ofícios de Winterthur.
Temas passam do fast-food à arte de cozinhar
Segundo os organizadores, o objetivo da mostra não é “tirar o apetite dos visitantes”, mas sim mostrar “o passado, presente e futuro da comida e da indústria de alimentos”.
A exposicao é dividida em estandes temáticos. Um deles é dedicado ao fast-food e mostra, através de um balcão feito de embalagens, como os hábitos alimentares modificaram-se nos últimos tempos.
“Já tivemos muitas visitas de crianças e jovens. Nas conversas que tive com eles, descobri que a grande maioria só tem tempo de sentar à mesa, para comer com a família, nos domingos. O dia-a-dia da nova geração é do alimento rápido, pré-fabricado, que qualquer um pode colocar a comida no forno de micro-ondas e esquentar em três minutos. Eu já pertenço à outra geração: minha família fazia sempre as três refeições em conjunto, e gostávamos do tempo passado à mesa”, conta Cattaneo.
Dois grandes congeladores, colocados frente ao estande “fast-food”, exibem sacos de alimentos pré-fabricados e congelados, que são utilizados pelos restaurantes no preparo dos seus pratos refinados.
“O custo de mão-obra na suíça é muito caro e os restaurantes preferem economizar, comprando alimentos pré-fabricados. Os clientes recebem um prato, e não sabem que a maior parte dos ingredientes não saiu das panelas, mas sim do forno micro-ondas”, revela a diretora do museu.
A indústria suíça de alimentos
Outra parte interessante da “Food Design” destaca a indústria de alimentos da suíça.
Uma delas é a Maggi, criada pelo suíço Julius Michael Johannes Maggi, nascido em 9. Oktober 1846 em Frauenfeld. Seu primeiro produto foi a famosa sopa de legumes em pó, criada em 1884 para melhorar os hábitos alimentares dos trabalhadores suíços e distanciá-los do consumo do álcool. Hoje a empresa pertence ao grupo Nestlé e é um dos gigantes do setor de “convenience food”.
Outras alimentos mostram a criatividade da indústria na criação de novos alimentos. O “Quorn” é um alimento criado nos anos 60 e hoje muito comum em países como a Suíça e a Inglaterra. Fabricado à base do cogumelo “fusarium venenatum”, o Quorn pode ter ao mais diferentes formatos: dependendo dos sabores incluídos, ele é encontrado nas prateleiras dos supermercados como bifes, salsichas ou patês.
Comer ainda é uma arte
Apesar do grande desenvolvimento da indústria alimentícia, ainda existe a “arte” de cozinhar.
“Nós queríamos mostrar que comer ainda é uma atividade que exige criatividade e técnica, utilizando elementos que se encontram na natureza”, afirma Claudia Cattaneo.
Por isso a exposição se encerra com uma mostra das centenas de utensílios que são utilizados nas melhores cozinhas do mundo.
A comida dos sonhos também foi colocada em vitrines: diversas pessoas contaram aos organizadores da exposição quais pratos elas gostariam de comer. Num estande circular, os pratos foram colocados dentro de prateleiras fechadas e podem ser vistos através de aberturas na parede.
Se adultos geralmente têm água na boca ao imaginar criações de cozinheiros como Paul Bocuse, as crianças são menos exigentes: um garoto suíço de 12 anos apresentou na “Food Design” seu prato dos sonhos: hambúrguer, coca-cola e batatas fritas.
swissinfo, Alexander Thoele
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