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Governo e produtores brigam pelo raclete

Uma mulher em trajes típicos corta uma porçao de raclete, que normalmente é acompanhado de batates e picles. Keystone

O queijo utilizado para fazer raclete, um dos pratos mais conhecidos da Suíça, só pode chamar “queijo de raclete” se for originário do cantão do Valais.

Essa é uma determinação do Departamento Federal de Agricultura, que está provocando uma polêmica com outros produtores suíços.

Tradição é cultura e, como tal, deve ser protegida. Por isso o DFA, órgão governamental suíço responsável por todos assuntos ligados à agricultura, já deu seu veto a cinqüenta petições contrárias a criação do selo de origem e garantia “Raclette du Valais”.

Ele significa sua decisão está selada: o queijo utilizado num dos pratos mais típicos da Suíça só pode se chamar “raclete” quando for produzido no cantão do Valais. Nesse caso, produtores suíços de outros cantões serão obrigados a mudar o nome do seu queijo, mesmo ele sendo utilizado para preparar a mesma especialidade.

A nova diretriz ainda tem um detalhe que aumenta sua polêmica: as novas regras poupam os fabricantes estrangeiros, que poderão continuar a vender queijo para raclete nos supermercados do país.

Maior produtor ameaça entrar na justiça

Para Emmi, a maior empresa de laticínios da Suíça, a nova diretriz é “completamente incompreensível” e afirma que irá entrar com um processo na justiça.

“Devido aos acordos bilaterais com a União Européia, há quatro anos o mercado suíço está aberto para produtores de queijo de outros países. Como os fabricantes do cantão do Valais não dão mais conta da demanda, o mercado suíço acabou sendo inundado por raclete estrangeiro”, afirma a empresa num comunicado a imprensa.

O Departamento Federal de Agricultura justifica sua decisão pelo fato do popular raclete ser uma receita original do cantão do Valais. Eles lembram que a tradição de derreter queijo contra o fogo direto já era documentada nessa região em 1574. Desde o início do século XX, raclete é não somente o nome da especialidade como também do queijo utilizado no seu preparo.

Segundos as leis de controle de procedência, para que a denominação “raclete” possa ser utilizada por produtores de outros cantões, é necessário que o queijo seja desligado da sua região de origem. Uma pesquisa representativa realizada pelo Departamento Federal de Agricultura mostra, porém, que 43% dos consumidores na Suíça ainda associam o raclete a sua origem no cantão do Valais.

87% do raclete não vêm do Valais

Representantes da Emmi lembram, por outro lado, que 87% do raclete produzido na Suíça (12 mil toneladas) não são originários do cantão do Valais. Por essa razão, o queijo pode ser considerado mais a denominação de uma especialidade do que um produto de uma região específica. Para a Emmi, o raclete do cantão do Valais não serve para os fornos elétricos utilizados pela grande parte dos consumidores suíços.

A briga entre o governo e os produtores de raclete de outros cantões continua. Ela só será decidida nas altas instâncias do Tribunal Federal de Justiça.

swissinfo e agências

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