Mundo encontra-se em Davos

Hoje abre a 36a edição do Fórum Econômico Mundial. Até 29 de janeiro, 2.340 personalidades do mundo político, econômico e, pela primeira vez, do esporte, se encontram em Davos, nas montanhas suíças.
O tema principal em 2006 é a ascensão de novas potências econômicas como a China e Índia.
Os habitantes de Davos já estão acostumados. Em pleno inverno, durante cinco dias por ano, sua pequena cidade encravada num vale montanhoso do cantão dos Grisões e distante 145 quilômetros de Zurique, se transforma no umbigo do mundo. De uma só vez, helicópteros militares, soldados, tanques e policiais cercam o local para receber os membros e convidados do clube mais exclusivo do mundo.
Hoje abre oficialmente a 36a edição do Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês). Em 2006, seus organizadores vão trazer 2.340 personalidades do mundo político, econômico, cultural e, pela primeira vez, do esporte, vindos de 89 diferentes países.
Tradicional por misturar preocupações políticas ao mundo dos negócios, o encontro já se destacou no passado por colocar temas como a AIDS, a pobreza e o desenvolvimento na pauta de interesse dos empresários. Porém nesse ano os temas econômicos irão dominar os debates.
Das mil maiores empresas do mundo, 735 estarão representadas em Davos. Dentre eles pesos-pesados como Bill Gates (Microsoft), Carlos Ghosn (Renault), Michael Dell (Dell), ou 60 executivos de alto nível de companhias helvéticas como Daniel Vasella (Novartis), Peter Brabeck (Nestlé) e Marcel Ospel (UBS).
Eles e outras personalidades terão alguns dias de tranqüilidade para debater a questão que mais lhe interessa esse ano: a situação economia mundial.
Curiosamente esta não está dando sinais de fraqueza, pois nos últimos três anos o crescimento global chegou a ficar acima dos 4%. Mas o que levanta muitas questões é o surgimento de novas potências no cenário político e econômico como a China e a Índia e os problemas atuais dos EUA. A conseqüência dessas transformações é o tema principal do WEF em 2006.
Muitas dúvidas
Uma delas são os Estados Unidos. Até quando os americanos poderão continuar a consumir e viver com déficits orçamentários e comerciais que não param de crescer? Até quando países asiáticos irão sustentar com sua poupança o comportamento perdulário da última grande potência do globo?
Além dessas perguntas, os organizadores decidiram que o tema principal do WEF de 2006 é a ascensão econômica da China e da Índia. Qual será o papel dessas duas potências na política mundial? Quais são as conseqüências econômicas e ecológicas desse desenvolvimento?
A presença de 15 chefes de Estado, além de 60 ministros, dará o peso político necessário ao encontro. Dentre os visitantes ilustres confirmaram sua presença o presidente do Afeganistão, Hamid Karsai, o primeiro-ministro do Iraque, Ibrahim Dschafari, e o presidente do Paquistão, Pervez Musharraf.
Fazendo as horas da casa, o WEF 2006 será aberto pelo presidente da Confederação Helvética, Moritz Leuenberger. Muito esperada é também o discurso de abertura da chanceler alemã Angela Merkel.
Além dos políticos também foram convidadas personalidades do mundo do esporte e da cultura, como Pelé, os músicos Bono Vox (U2) e Peter Gabriel, o escritor Paulo Coelho e a atriz americana Angelina Jolie.
Brasileiros em Davos
O Fórum Econômico Mundial não é apenas um encontro social, mas serve também como plataforma neutra para representantes governamentais. Eles aproveitam o clima informal de Davos (as gravatas são proibidas) para fazer avançar negociações complicadas fora do foco da mídia.
Um exemplo é dado pelas complicadas negociações da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC), que será retomada em reuniões paralelas ao WEF.
O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, desembarca em Davos amanhã (26 de janeiro) para discutir com representantes dos Estados Unidos, Europa, Índia, Austrália e da África do Sul como como destravar as negociações sobre abertura de mercados agrícolas
O mesmo grupo reuniu-se várias vezes ao longo do segundo semestre de 2005, o que evitou o fracasso da Conferência Ministerial da OMC em Hong Kong, em dezembro passado. O objetivo é superar as celeumas geradas nessa mesma conferência, pôr em marcha as negociações e manter o objetivo de concluí-las até o final deste ano.
O foco se voltará sobre a resistência de União Européia em melhorar o acesso aos seus mercados agrícolas. O tom das diferenças já havia sido dado pelo seu comissário para o Comércio, Peter Mandelson, que chegou até afirmar em Hong Kong que o Brasil, os Estados Unidos e seus aliados formariam uma espécie de “gangue”.
Mandelson deverá estar presente em Davos. Nas discussões que se darão entre os dias 26 e 29, Amorim terá irá falar em nome do G-20. Dentre outras, ele irá exigir abertura considerável dos mercados agrícolas, o fim dos subsídios às exportações e a redução das subvenções a produtores agropecuários. Segundo os observadores, Amorim terá como aliado o representante de Comércio dos Estados Unidos, Rob Portman.
Além do ministro das Relações Exteriores, já confirmaram sua ida a Davos o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não irá nem a Davos, nem ao Fórum Social Mundial em Caracas, na Venezuela.
Participação suíça
O governo federal suíço ira enviar quatro dos seus sete ministros para o Fórum Econômico Mundial. Além de Leuenberger, irão participar do encontro o ministro da Economia, Joseph Deiss, o ministro das Finanças, Hans-Rudolf Merz e a ministra das Relações Exteriores, Micheline Calmy-Rey.
Deiss irá discutir com Rob Portman sobre as chances de um acordo de livre-comércio entre a Suíça e os EUA. Ao mesmo tempo ele irá se encontrar com os presidentes de seis bancos internacionais do desenvolvimento.
Enquanto isso, os altermondialistas também tentam se fazer escutar. Porém, ao contrário dos anos precedentes com Porto Alegre ou Calcutá, eles estarão dispersos em três diferentes encontros do Fórum Social Mundial: em Bamako (Mali), Caracas (Venezuela) e Karachi (Paquistão).
Na Suíça os críticos da globalização estarão concentrados em Zurique no evento “Davos alternativo”. Representantes de organizações de desenvolvimento, sindicatos e partidos de esquerda, dentre outros, irão debater a questão das desigualdades sociais no mundo.
– Os governos e as multinacionais fracassaram em resolver esse problema – afirma Karin Vogt, representante da Attac Suíça, uma das organizadoras do evento.
swissinfo com agências

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