Nova moda suíça: o “leasing” de vacas.
Fazendeiro suíço encontra uma fórmula lucrativa para sair da crise na agricultura: o aluguel temporário de vacas para fãs urbanos da vida no campo e restaurantes no cantão de Berna.
Paul Wyler e sua esposa agora não sabem como administrar a grande quantidade de solicitações, vindas até mesmo de países como Guatemala e África do Sul.
Os agricultores suíços já estão na modernidade. Enquanto uma grande parte das famílias que moram no campo já pensam em desistir do trabalho na agricultura, devido a pouca rentabilidade e falta de interesse das novas gerações pela dura vida nas montanhas, outras utilizam a Internet na procura de novas fontes de renda.
Paul Wyler, um fazendeiro suíço na comuna de Brienz, na região de montanhas alpinas do cantão de Berna, teve uma idéia brilhante: ele aluga suas vacas por temporada, através de um sistema de leasing. Seus clientes são, sobretudo, habitantes de grandes cidades e os restaurantes da região.
Interesse até em outros países
“Nunca imaginamos que o sistema pudesse fazer tanto sucesso. Depois que os jornais publicaram matérias sobre a nossa oferta e o nosso site, chegamos a receber 100 e-mails de pessoas interessadas. O problema agora é saber como administrar os pedidos vindos de países como a Guatemala ou a África do Sul”, conta Helga Wyler, esposa do fazendeiro Paul Wyler e, ao mesmo tempo, responsável pela administração da fazenda.
O preço mínimo de um contrato de leasing de uma vaca da família Wyler é de 380 francos suíços (US$ 277). Sua duração está limitada ao período da estiagem, que vai de meados de junho até meados de setembro. Nessa época as vacas suíças costumam subir acima dos mil metros para pastar a grama fresca e úmida das montanhas.
Um cliente que se interesse pelo negócio deve visitar essa área para escolher seu animal. “Alguns procuram vacas com uma aparência específica, como é o caso de um morador de Zurique, que procurava absolutamente um animal preto com pintas brancas”, lembra Helga Wyler.
Depois de firmado o contrato, o cliente tem apenas uma obrigação: ele deve visitar uma vez o animal escolhido e ajudar, por pelo menos quatro horas, o funcionário responsável pelo cuidado das 50 vacas e fabricação do leite na fazenda. Ele, sua esposa e mais seis filhos são os únicos que habitam, durante toda a primavera e verão, uma choupana nessa área alpina de pastagens.
Vida dura nas pastagens alpinas
A fazenda das montanhas localiza-se a 1.911 metros de altitude. Nesse cenário idílico de flores, campos verdes, habitações rústicas de madeira e pinheiros, destaca-se a imponente presença da montanha Faulhorn, com 2.681 metros de altura.
Porém a tranqüilidade do local engana. O trabalho que espera o locatário de uma das vacas é duro. “A vida no alto da montanha é extremamente simples. A choupana não tem nem aquecimento elétrico. Quem trabalha lá tem de acordar as seis da manhã para ordenhar as vacas. Afora outras atividades, uma das obrigações mais importantes é retirar as pedras das pastagens. Elas surgem depois de todo o inverno e estão espalhadas por todos os lados. Esse trabalho é importante, pois as vacas podem tropeçar numa delas e cair num precipício ou quebrar a perna. Todos os anos perdemos algumas. Nossos hóspedes só descansam as cinco da tarde, depois da última ordenha”, explica Helga Wyler.
Queijo é o fruto do leasing
Porém o leasing de vacas não significa apenas trabalho. Todo o queijo produzido por uma vaca pertence ao cliente que a alugou.
“Nós propomos aos clientes vacas de acordo com a quantidade de leite que elas produzem. Ele é faturado entre 50 e 75 centavos por litro. A essa soma juntam-se 40 centavos dados de bônus a cada litro de leite destinado a produção de queijo. Para armazená-lo, cobramos mensalmente 40 centavos por quilo. Isso faz com que, nas contas, o leasing de uma vaca custe em média 700 francos suíços (US$ 510)”, resume o agricultor Paul Wyler.
Porém o cálculo compensa. “Cada vaca permite a produção de 60 a 130 quilos de queijo. São necessários 11 litros de leite para fabricar um quilo de queijo. Nas montanhas, as vacas dão entre oito e quinze litros por dia. No final das contas, nossos clientes estão pagando 16 francos pelo quilo de queijo, ao invés de 24 ou 28 francos, como é cobrado nos supermercados”.
Trabalho no campo é remédio contra estresse
Mas não é apenas o aspecto econômico do leasing que atrai os clientes da família Wyler. As pessoas que alugam uma vaca estão mais a procura da vida no campo, contrastando com o dia-a-dia estressante e poluído das grandes cidades.
“Muitos suíços têm sua origem no campo, mas estão vivendo hoje em dia nas cidades. Essas pessoas não têm condições de ter uma fazenda por falta de tempo ou dinheiro, mas gostariam muito de trabalhar esporadicamente conosco. O leasing é uma idéia para atendê-las e também para nos ajudar, pois não conseguimos vender todo o queijo da fazenda”, explica Helga Wyler.
A exemplo de outros fazendeiros dos Alpes suíços, a família Wyler quer continuar a agricultura, mas precisa de novas fontes de renda e formas modernas de produção.
A madeira das suas florestas é beneficiada numa carpintaria própria. Os queijos são fabricados à lenha e não têm conservantes. Todo esse material é transportado de helicóptero. Porém a subida na fazenda alpina é penosa. “A subida é de três horas de caminhada”, lembra ceticamente Helga Wyler ao repórter da swissinfo.
swissinfo, Alexander Thoele
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