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Nova tendência na pecuária

Quando é necessário, até as vacas podem ser operadas (foto: J.Gabriel Barbosa) J.Gabriel Barbosa

Observam-se, na Suíça, novas orientações quanto à criação de gado. Muitos pecuaristas se especializam: uns se dedicam à produção leiteira, outros à criação de gado de corte.

Entenda melhor como funciona o setor da pecuária.

O gado na Suíça pode ser dividido em três categorias principais, explica o fazendeiro Eric Voléry, de Aumont (Friburgo).

– Para a vaca exclusivamente leiteira, opta-se pela raça Holstein ou Red Holstein.

– Quem procura produzir menos leite mas deseja dispor de um animal também bom de carne, cria as raças Simmental, Monbéliarde ou Brune (esta de cor castanho-escuro).

– Quem quer gado para o corte, cria em particular um rebanho das raças Limousin, Charolais ou Angus… O leite da vaca dessas raças serve apenas para alimentar o bezerro.

O veterinário Jean-Luc Charbon, de Estavayer-le-Lac (Friburgo) confirma, de fato, a atual tendência do pecuaristas suíços de se especializarem num segmento: “Há os pecuaristas voltados à produção de carne ou de leite, ou, ainda, os que decidem criar raças relativamente rústicas que produzem menos leite, mas dão boa carne. Esse tipo de gado consome forragem menos nutritiva que sai, porém, mais barato”.

“É um tipo de produção que surgiu nos últimos 20 anos”, observa Charbon, acrescentando que a última categoria se encontra em particular nas regiões montanhosas. “É gado que pasta o que encontra”, diz. “O que não se ganha em leite, ganha-se em economia de alimento…”

Mais de 4 meses em estábulo

Há, aliás, no estado do Valais, sudoeste suíço, a raça Hérens que entra também nessa categoria. São reses menores, resistentes, produzem menos leite, mas se adaptam melhor ao relevo montanhoso da região.

Naturalmente o gado pode aproveitar de pastos naturais quando neles há capim. No inverno é recolhido aos estábulos onde recebe forragem. São compartimentos apertados, onde os animais ficam presos. (Até o rabo das vacas é amarrado para evitar que espalhe sujeira. Quando não é cortado, o que aliás é mais raro, porque irrita as organizações de proteção dos animais).

A acolhida do rebanho no estábulo ocorre às vésperas do inverno, fim de novembro-início de dezembro. Os animais vão ficar confinados pelo menos 4 meses. Só em abril, depois do degelo, podem ficar o dia inteiro nos pastos, onde, porém, quase nada encontram ainda de substancial.

(Há toda uma regulamentação que obriga o fazendeiro a fazer os animais saírem ao ar livre pelo menos 3 a 4 vezes por semana. Naturalmente, enquanto eles estão confinados, devem receber forragem. O estábulo, em toda sua superfície, deve ter suficiente claridade para leitura de um jornal, lembra um pecuarista. A norma de claridade é de 15 lux ! Outra norma: no verão precisam ficar pelo menos 90 dias nos pastos).

Ritmo da forragem

O fazendeiro Olivier Richard, de Belfaux (ao lado de Friburgo), tem o seguinte esquema de alimentação de suas vacas leiteiras.
06:00 horas – feno. 07:00 – cereal. 07:30 – feno. 09:00 – restolho (feno de 2° ou 3° cortes) e batata. No fim da tarde a mesma alimentação é fornecida ao gado, das 6:30 às 18:30 h.

Note-se que, como Olivier Richard fornece leite para fabricação de gruyère, não pode dar forragem proveniente de silos, porque a presença de bactérias na silagem poderia interferir no processo de maturação do queijo.

Um outro método de alimentação do gado nos estábulos consiste em misturar todos os ingredientes – há máquinas especiais para isso. A forragem é dada, então, depois da ordenha, por volta das 7-8 horas, informa Eric Voléry, de Aumont, estado de Friburgo..

Ração adaptada

A vaca deve receber uma alimentação rica em fibras, lembra Jean-Luc Charbon. A vaca leiteira precisa de uma alimentação mais rica em energia que uma vaca que dá 5-6 litros de leite para amamentar o bezerro.

O especialista realça também a necessidade de a ração ser adaptada em função da finalidade da produção. As vacas destinadas à produção de carne precisam, em geral, de muito menos nutrientes, podendo receber ração muito menos rica em proteínas e energia, mas sempre precisam de celulose para fazer a pança trabalhar.

Já uma vaca de forte produção leiteira, necessita muito mais de proteínas, energia, e, igualmente, de muita fibra, que aportam a palha ou componentes da ração , como o capim e o feno.

Pode-se já ter uma idéia de que, em país de clima frio como a Suíça, trabalhar na pecuária em grande escala implica enormes investimentos. Sem falar nas fazendas nas montanhas, onde o inverno é mais longo e os pastos em terrenos acidentados.

Visitamos várias fazendas do estado de Friburgo. Todas de pequeno ou médio portes.

Alguns exemplos

FAZENDA MARKUS SOMMER, em Montilier
34 hectares. Tem apenas 15 novilhas para cria.
Planta cenoura, batatinha, milho, trigo, cevada e vagem

FAZENDA YVES BERSIER, Cugy
Tem 13 hectares, 13 vacas,10 novilhas, 10 bezerros
Em três hectares planta em partes iguais, frumento (espécie de trigo), milho, e tricale (híbrido de centeio e trigo). Os dez hectares restantes são utilizados como pasto.

FAZENDA ANDRÉ CHRISTINAT, Nuvilly
Tem 22 hectares e cria 15 vacas, 15 novilhas e 11 bezerros.
Planta colza e milho.

FAZENDA ANTON FRANK, Aumont
Dispõe de 12 hectares. Cria 8 vacas da raça Brune (boa de carne).
Planta 3 hectares de frumento, 1 hectare de colza e 1 hectare de milho.

FAZENDA HUBERT PIDOUX
Totaliza 20 hectares. Cria 27 vacas e 7 novilhas da raça Charolais (para o corte).
Planta cevada, milho e soja.

Fenômeno de concentração

Na Suíça qualificam-se fazendas de pequeno porte as que têm menos de 30 hectares. A partir de 30, mais ou menos, fala-se de médio porte. As de grande porte são aquelas de 50 ou mais hectares, cada vez mais numerosas. Registram-se 1276 atualmente. Em 1985 eram 623.

Segundo as últimas estatísticas disponíveis (2001) as fazendas de até 3 hectares diminuíram 65% de 1985 a 2001. As de 3 a 10 hectares 41%. As de 10 a 20 hectares 25%.

Por outro lado as de 20 a 50 hectares aumentaram 40% e as 50 hectares 104%. O fenômeno de concentração, portanto, é evidente. O alto funcionário do Ministério suíço da Economia, Luzius Wasescha, prevê que em cerca de 10 anos, 30% dos produtores rurais vão desaparecer, lembrando que esse processo se tem acelerado desde 1994.

Subsídios

Falando a swissinfo meses atrás, Wasescha lembra que a Suíça é um país de nível de vida elevado, preços altos e “onde a produção agrária, de pequeno valor agregado, não consegue ter preços competitivos para, dessa forma, financiar os próprios custos. É por isso que ela precisa ser protegida”.

A questão um tanto complexa dos subsídios à agricultura é um capítulo à parte. A agricultura suíça figura entre as mais subsidiadas da Europa. Representam no orçamento geral do país de 8% a 10 por cento dos gastos.

Um dos argumentos freqüentemente avançados é a necessidade de segurança alimentar e proteção da paisagem. O que nem sempre convence os países em desenvolvimento que gostariam de exportar seus produtos para o mercado suíço.

swissinfo, J.Gabriel Barbosa

Nota-se que nos últimos 20 anos vem aumentando o número de pecuaristas suíços que prefere especializar-se. Uns optam pela produção de leite, outros pela produção de carne.

Tanto o gado leiteiro quanto o gado de corte precisa de abrigo no inverno, quando fica confinado em estábulos.

Há toda uma regulamentação sobre o tratamento que deve receber. Inclusive o pecuarista que fornece leite para a fabricação de queijo não pode alimentar a vaca com forragem.

A agricultura suíça é fortemente subsidiada. Entre as justificativas apresentadas figuram segurança alimentar e proteção da paisagem.

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