O doutor que atende através da internet
Telemedicina é tratamento médico à distância. Dados e informações são transmitidos através da internet ou via celular entre médicos e pacientes, permitindo tratamentos mais precisos e custos menores.
Um empresário suíço descobriu que esse setor pode ser uma mina de ouro…na América Latina. Sua empresa se tornou em poucos anos uma multinacional da telemedicina com filiais em vários países, incluindo o Brasil.
Apenas uma pequena placa indica que Global Telemed está localizada nesse discreto prédio em Wessen, pequeno vilarejo turístico às margens do lago Walensee, na fronteira entre os cantões de Glarus e St. Gallen. Quem abre a porta é o próprio chefe da empresa, Hans Ulrich Spiess. Sua sala é ampla e espaçosa, dando vista através de grandes janelas para um cenário alpino de cartão postal. “Sim, é realmente um privilégio trabalhar num lugar desses”, afirma.
O suíço trabalhou quase toda a sua vida no grupo de empresas do “tycoon” empresarial, grupo do suíço Stephan Schmidheiny até chegar ao posto de diretor executivo (CEO) e mais tarde se aposentou. Com um bom capital para investir, decidiu que a melhor ideia era começar um novo negócio. Telemedicina foi uma coincidência.
“Foi quando visitei um médico especialista a pedido do meu clínico-geral. Ele me solicitou a mesma bateria de exames que eu já havia feito antes. Então pensei que seria uma ótima ideia se houvesse a transmissão direta dessas informações através da internet”, lembra-se Spiess. E ao analisar as tendências demográficas no mundo – a de uma população que envelhece cada vez mais rápido – a telemedicina pareceu ser um grande negócio. “É uma tendência lógica.”
Para concretizar seus planos, Spiess se associou em 2001 a uma pequena empresa suíça que já atuava no ramo. Seu objetivo era adquirir know-how e investir na América do Sul. “Escolhi o continente não apenas pelos contatos que já tinha feito no continente como CO das empresas de Schmidheiny, mas também pelo espírito de abertura dessas pessoas. As estruturas aqui na Suíça são mais complicadas, sobretudo para inovações como a telemedicina”, justifica.
Primeiros passos
Suas primeiras tentativas de abrir um negócio no setor não foram muito frutíferas. Em 2001, o suíço abriu a ETMS do Brasil com ajuda de um médico cardiologista de Uberlândia, em Minas Gerais. Ao mesmo tempo, começou também a sondar médicos no Chile para saber se haveria mercado para aparelhos de telemedicina. Nos dois países teve problemas.
“O começo foi bastante complicado. No Chile, ninguém conhecia esses produtos. Muitos médicos até achavam que iriam perder pacientes”, relata o suíço. Durante três anos nada aconteceu, o que obrigou uma reação. “Então juntei-me com um amigo e parceiro de negócios de longas datas na América Latina e fundei, em 2004, a Global Telemed.”
O primeiro projeto-piloto era a cessão, por três meses, de aparelhos especiais de eletrocardiograma (ECGs) a 30 pequenos hospitais, incluindo até um na remota Ilha de Páscoa. “Esses aparelhos examinavam os pacientes e enviavam um sinal acústico para um centro em Santiago, onde médicos especialistas podiam ler automaticamente os exames e dar, então, um diagnóstico”, conta Spiess.
O teste foi um sucesso, o que levou o ministério chileno da Saúde a solicitar mais instrumentos para aparelhar 600 hospitais. Com as novas dimensões do negócio, o empresário investiu mais. “Decidimos desenvolver um novo software para funcionar como uma espécie de Windows da medicina”, lembra-se. Para isso ele contratou informáticos e também estudantes da Universidade de Santiago de Chile para desenvolver módulos do novo programa.
O trabalho durou um ano e foi concluído em 2006. Depois o software se transformou em uma plataforma integral de telemedicina envolvendo todas as áreas. “Não só permite fazer diagnósticos complexos à distância, mas também acompanhar quadros médicos dos pacientes ou administrar pagamento de faturas”, detalha, revelando também que o programa já foi entendido a mais de mil hospitais no Chile.
No Brasil
Durante alguns anos as atividades da Global Telemed no Brasil ficaram estagnadas. Porém a partir do desenvolvimento do software, a empresa fortaleceu sua posição. “Graças à experiência no Chile já sabíamos com quem havíamos de falar para abrir mercados”, diz. Em 2002 tinha cem clientes e fazia 600 eletrocardiogramas por mês. Em 2006, a empresa estava presente em todo o país e realizava cinco mil ECGs por mês. Em 2007 ITMS Brasil afirmava ser responsável por 10% de todos os ECGs transmitidos via internet no Brasil.
“Nossos planos são chegar a 30 mil ECGs por mês e 100 mil em todo o grupo até o final de 2010”, afirma orgulhoso Hans Spiess. O otimismo foi reforçado após sua holding ter conseguido abrir as portas do mundo acadêmico. Em 2008, a filial brasileira firmou uma parceria com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) na qual estruturou uma central de atendimento de telemedicina da instituição.
O próximo passo é mais ambicioso. “Estamos em negociação para ter uma parceria exclusiva com o Hospital do Coração em São Paulo”, afirma o empresário. O projeto seria o aparelhamento das ambulâncias do hospital com os aparelhos telemóveis BlackBerry, equipados para realizar exames complexos e enviar os dados para as centrais.
Como funciona
Enquanto fala dos seus planos futuros, Hans Spiess tira um pequeno aparelho de uma gaveta. “Esse aqui é o nosso eletrocardiógrafo portátil”, explica apontando para a pequena caixa. O empresário explica que ela faz em apenas dez segundos um eletrocardiograma completo.
Depois os enfermeiros ou médicos generalistas telefonam para uma central de telemedicina e transmitem o sinal gravado. O mesmo sinal também pode ser enviado por internet. Os dados são então gravados em um banco de dados para fazer o chamado “prontuário eletrônico”.
Cardiologistas de plantão analisam o eletrocardiograma e escrevem um laudo. Este depois é enviado de volta. Nos casos de emergência, os cardiologistas da ITMS contatam imediatamente os médicos generalistas, oferecendo até suporte à decisão médica. “Imagine o tempo que se economiza para decidir como tratar uma pessoa que sofreu um acidente grave?”, ressalta Spiess.
Hoje a Global Telemed está presente não apenas no Brasil e Chile, mas também Colômbia, Peru, Argentina e Venezuela. Por enquanto não há interesse em investir na Suíça. “Um mercado muito cimentado”, justifica. Porém frente à tendência cada vez mais acentuada de envelhecimento da população, Spiess não descarta que até sua terra natal possa ser também um terreno muito próspero para ganhar dinheiro.
Alexander Thoele, swissinfo.ch
Telemedicina é a oferta de serviços ligados aos cuidados com a saúde, nos casos em que a distância é um fator crítico.
Tais serviços são providos por profissionais da área da saúde, usando tecnologias de informação e de comunicação para o intercâmbio de informações válidas para diagnósticos, prevenção e tratamento de doenças e a contínua educação de prestadores de serviços em saúde, assim como, para fins de pesquisas e avaliações.
Tudo no interesse de melhorar a saúde das pessoas e de suas comunidades. (OMS)
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