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Onde Airbus é visita rara

Bern-Belp, um dos menores aeroportos internacionais da Europa. swissinfo.ch

Bern-Belp é o aeroporto internacional da capital suíça. Com duas linhas internacionais e uma pista de apenas 1.510 metros, ele é um dos menores e mais idílicos da Europa.

Cercado de fazendas, tratores e vacas, o aeroporto também se adapta aos hábitos do povoado vizinho: em dia de enterro, os aviões mudam as rotas.

Os passageiros do avião bimotor tipo Dash8-300, da companhia austríaca Intersky, se sentem como aventureiros. Depois de embarcar em Berlim, eles chegam em Bern-Belp após uma hora de viagem. O local está a 510 metros acima do mar.

Ao contrário do que é comum em grandes aeroportos como o de Gatwick, em Londres, ou Charles De Gaulle, em Paris, em Berna uma pequena escada é carregada à mão por dois funcionários e ajustada na porta do avião. O passageiro desce os degraus e avista um aeroporto que mais parece um aeroclube.

Tudo é pequeno e belo como num parque infantil: a torre de controle, o prédio e até as aeronaves ao redor são minúsculas, grande parte delas monomotores. O cenário é o mais marcante, sobretudo quando o dia está claro e os Alpes podem ser vislumbrados no horizonte.

No ar, um cheiro que lembra o interior. O aeroporto está cercado de pequenas fazendas com vacas e aquelas casas de madeira típicas suíças, como as de cartões postais. O ônibus que leva os turistas para o centro da cidade atravessa a única estrada, de mão única, e vai cortando o vilarejo. Se o caminho não for interrompido por um trator ou animal, a viagem dura apenas vinte minutos.

“Aqui todos são VIP”

Charles Riesen, é o diretor de Bern-Belp. Além de administrar o aeroporto, ele é professor de aviação nas horas vagas, tendo mais de cinco mil horas de vôo e 11 mil pousos.

“Muitas pessoas me conhecem pessoalmente, incluindo passageiros e habitantes do povoado de Belp”, explica Riesen. O contato é importante. Por isso é que o balcão de atendimento aos pilotos em Bern-Belp está cheio de avisos de enterro que serão realizados nos próximos dias.

– Sabendo seus horários, nós pedimos que os aviões peguem uma outra rota. Dessa forma evitamos que o ruído dos motores incomode os padres durante as cerimônias fúnebres – ressalta o diretor do aeroporto.

Tanto cuidado não é pouco, pois existem casos mais graves de conflitos com moradores como é o caso do aeroporto de Zurique, cujas dimensões e tráfego têm causado uma guerra pouco diplomática entre suíços e alemães das regiões por onde os aviões sobrevoam antes de pousar.

Aeroporto oficial do governo

Bern-Belp pode ser considerado pequeno. Sua pista tem apenas 1.510 metros de comprimento e não é feita para o pouso de aviões de grande porte da Boeing ou Airbus. No site oficial, seus administradores até ironizam sua qualidade de mini-aeroporto. A legenda na galeria de fotos do setor de “fãs”, escrita em letras minúsculas, descreve dessa forma um Airbus A319 que passeia sobre a pista antes da decolagem: – “Um visitante raro!”.

Para se ter uma idéia de proporção, o aeroporto internacional de Frankfurt, um dos maiores do mundo, tem três pistas de quatro mil metros cada uma.

Em Berna trafegam monomotores e bimotores do aeroclube local, pequenos jatos, os aviões das três linhas internacionais que ainda funcionam no aeroporto e outras companhias charter, que trazem turistas ingleses para esquiar nas montanhas suíças ou levam suíços para destinos nos balneários europeus.

Dos vôos regulares, além do vôo diário para Londres, o passageiro pode viajar três vezes por dia para Munique e duas vezes para Roma, porém nesse caso fazendo uma parada técnica em Lugano.

Porém um dos orgulhos de Charles Riesen é que Bern-Belp funciona também como aeroporto oficial do governo federal suíço. Seus ministros e outros funcionários importantes dispõem de três jatinhos e dois helicópteros para viagens e transporte de convidados.

Crise no mercado

Bern-Belp não é apenas uma porta de entrada para a capital helvética, mas também uma empresa privada, com acionistas e sem subvenção estatal.

O pequeno aeroporto não escapou à crise e às transformações brutais vividas pelo setor de transporte aéreo nesses últimos anos. Desde a virada do século o número de passageiros diminui constantemente: de 196 mil para 172 mil em 2002 e um ano depois (2003) para 164 mil.

As más notícias começaram em 2002 com a falência da Swisswings e da Air Switzerland, que nem tinha dinheiro para pagar o leasing dos seus aviões. O golpe mais grave ocorreu um ano depois, quando a Swissair, companhia e orgulho nacional, fechou suas portas depois de uma crise sem precendentes.

Desde então, o pequeno aeroporto viveu a chegada e partida de inúmeras companhias aéreas: Air Alps (vôos para Amsterdam), Amadeus (vôos para Düsseldorf), Intersky (vôos para Berlim), EAE (vôos para Bruxelas). Todas cancelaram suas linhas.

“Infelizmente esse comportamento se tornou típico no negócio de aviação”, lamenta Riesen. “Muitas companhias aéreas não têm mais visão de futuro ou estratégia, pois na verdade elas só pensam no lucro rápido e não estão dispostas a voar se uma linha está dando prejuízo”.

O diretor tem, porém, esperanças de que os negócios irão melhorar. Ele aponta para o seu maior trunfo: as montanhas nevadas do cantão de Berna. Na sua opinião, companhias aéreas inteligentes poderiam criar linhas para levar os turistas ingleses e alemães diretamente às estações de esqui da região.

Para isso ele já está até aumentando a extensão da pista de pouso. Em 2006, ela terá 1.730 metros de comprimento, o que irá permitir o pouso de aeronaves maiores. “Eu estou otimista com o futuro”, diz Riesen.

swissinfo, Alexander Thoele

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