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Os mestres chocolateiros da Lindt

Urs Liechti mostra como tirar um coelho dourado de um chepéu.

O coelhinho dourado de Páscoa é um dos produtos mais conhecidos da Lindt & Sprüngli. Porém o sucesso do fabricante suíço de chocolates deve-se também à criatividade e engenhosidade dos seus mestres chocolateiros.

swissinfo visitou a sede da empresa em Zurique e descobriu como trabalha um deles, Urs Liechti.

Desde que o empresário suíço Rudolph Lindt criou o método do concheamento no século XIX para fabricar um chocolate que derretesse na boca, seus produtos passaram a ser sinônimo de qualidade.

Afora os conhecidos coelhos de chocolate cobertos por papel alumínio dourado, o leque de produtos da empresa inclui as bolas de chocolate “Lindor”, uma série de chocolates finos amargos e varias outras especialidades.

Liechti tem o invejável trabalho de ser o chefe de desenvolvimento de produtos na Lindt Suíça. Ele e sua equipe de colaboradores passam o dia inteiro experimentando diferentes misturas e tipos de chocolate.

No seu laboratório – que emana um delicioso aroma de chocolate – os mestres chocolateiros desenvolvem vários produtos. Mais recentemente eles estão criando uma nova série de chocolates leves e de frutas para ser lançado na primavera de 2008.

Liechti explica que a equipe faz entre 100 e 300 provas durante as pesquisas. Eles anotam durante o trabalho todas as receitas. A maior preocupação é não perder nenhuma receita que possa se tornar um sucesso de vendas.

“Eu como entre 100 e 150 gramas de chocolate diariamente”, conta Liechti, cuja barriga não parece estar saindo de linha.

Liechti revela que criar as famosas caixas de confeitos é o trabalho mais penoso. Razão: os chocolates têm de ser diferentes um dos outros, mas a combinação de forma e gosto precisa ser perfeitamente balanceada. Um dos últimos projetos do seu departamento é criar novas receitas para o bem-sucedido “Petits Desserts” (pequenas barrinhas diversas de chocolate vendido em caixas) para o relançamento no outono de 2007.

Caixas

São necessários dois anos e meio para desenvolver uma caixa de chocolates diversos. No caso do “Petits Desserts”, o departamento de marketing observou uma tendência que leva o consumidor de novo para a comida caseira e as receitas no estilo da vovó. O próximo passo é converter a idéia em chocolate.

A equipe tentou literalmente centenas de receitas para ver qual funciona melhor na forma de chocolate. Nem todos os experimentos funcionaram…

“Uma das receitas que tentamos foi a do bolo de cenoura, algo tipicamente suíço. Porém a questão é como colocar a cenoura no chocolate. Isso é praticamente impossível. Mas no final nós conseguimos chegar nesse objetivo”, conta.

Os mestres chocolateiros não puderam utilizar cenouras frescas para fazer o marzipã, pois dava um gosto muito próximo do mofo. Por isso eles utilizaram cenouras secas, combinando com avelãs torradas e amêndoas.

“O gosto é muito próximo do bolo de cenoura coberto com chocolate ao leite. Mas infelizmente o departamento de marketing não ficou muito satisfeito, pois apesar da receita ser boa para o mercado helvético, eles estavam pensando mais nos mercados internacionais”, explica Liechti.

“A maior preocupação deles era pensar que nos outros países os clientes poderiam achar que bolo de cenoura é bom para coelhos, não para quem gosta de chocolate”.

A partir do momento que o produto desenvolvido foi testado com consumidores-modelos, a equipe tem de se assegurar que o novo chocolate pode ser fabricado em escala industrial, mantendo ao mesmo tempo o seu sabor, mesmo se a produção for em outro país.

Chocolate negro

Um dos destaques do trabalho de Liechti e seus mestres chocolateiros foi a linha de chocolates finos amargos “Excellence”.

Os benefícios trazidos à saúde pelo consumo do produto com altas concentrações de cacau – as barras podem ter entre 55 e 99% de cacau – são hoje do conhecimento público, graças à ampla cobertura da imprensa.

Apesar das considerações médicas, Liechti está convencido que o chocolate negro também se transformou numa moda, assim como o consumo de vinho fino ou de espécies raras de café.

“Muitos gostam apenas de comer pequenos pedaços, assim como se estivessem tomando um espresso italiano. Eles dizem que é bom fazer uma pausa de cinco minutos, sentar e deixar o chocolate se derreter lentamente na língua para degustar todos os sabores do cacau”.

Um das barras mais exóticas da linha “Excellence” é a de chocolate negro com pimenta malagueta, que balanceia o doce com o sabor ressaltado do vegetal. O produto está fazendo um grande sucesso entre os amantes do chocolate desde que foi lançado em novembro de 2006.

A invasão do chocolate amargo também já chegou a países onde tradicionalmente os consumidores preferem os produtos mais doces como o chocolate ao leite: Alemanha e países anglo-saxões. Ele também se tornou muito popular no Japão.

Culturas

Descobrir o gosto do consumidor local é um dos segredos do sucesso da empresa suíça. Por isso ela mantém oito fábricas e centros de desenvolvimento espalhados pelo mundo.

Isso significa que é possível comprar as bolas “Lindor” com menta nos Estados Unidos, mas não na Suíça, onde as pessoas preferem mais as combinações com avelã e amêndoas.

Liechti não esconde que adora o que faz. Ele nunca está cansado de comer chocolate, mesmo quando termina o seu dia de trabalho.

“Eu acho que eu sou a pessoa mais feliz do planeta”, declara ele antes de colocar mais um pedaço do “ouro negro” na boca.

swissinfo, Isobel Leybold-Johnson

Consumo per capita de chocolate no mundo:
1. Suíça (2006): 11.9 kg
2. Bélgica (2004): 9.5 kg
3. Alemnha (2004): 11.1 kg
4. Áustria (2004): 10.1 kg
5. Grã-Bretanha (2004) 9.4 kg
10. EUA (2004): 5.3 kg
16. Japão (2004) 2.2 kg

O coelhinho dourado nasceu em 1952. A história conta que um garoto ficou encantado quando viu um coelho entrando no seu jardim numa manhã de março, mas muito triste depois que ele desapareceu pulando para dentro dos arbustos.

O pai do menino, um mestre chocolateiro da Lindt, confortou-o ao prometer fazer um coelhinho de chocolate. Ele fez um com chocolate ao leite, coberto de uma folha dourada e com um pequeno sininho no pescoço preso em um laço vermelho, para que possa ser encontrado mais facilmente.

Desde então, o coelhinho dourado se transformou numa “instituição” da Páscoa suíça. Ele é vendido em vários tamanhos em chocolate amargo, com leite ou branco, em mais de 50 países onde existe a tradição de festejos da Páscoa.

Lindt & Sprüngli deu seus primeiros passos em 1845 como uma pequena confeitaria em Zurique, cujo nome ainda era Sprüngli & Son. Em 1899 ela foi adquirida pelo empresário bernês Rodolphe Lindt.

Lindt foi o inventor do método de concheamento, que possibilita o chocolate a derreter na boca. A invenção mudou completamente o processo moderno de fabricação do chamado “ouro negro”.

A Lindt tem oito fábricas espalhadas pelo mundo e seus produtos vendidas nos quatro cantos do planeta. A multinacional suíça também é proprietária das marcas Caffarel (Itália) e Ghirardelli (EUA).

Ela emprega 7 mil funcionários e sua receita líquida em 2006 foi de 2,6 bilhões de francos (US$ 2,1 bilhões).

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