Pequenos poupadores querem idéias para enfrentar a crise
Todas as praças financeiras são atingidas pela crise que saiu dos Estados Unidos. Na Suíça, a bolsa de valores já perdeu mais de 25% desde o início do
Correntistas normais do sistema bancário também tiveram perdas, mas não existem soluções simples.
Qual é a garantia?
Em caso de falência de um banco na Suíça, o total da garantia é de 4 bilhões de francos suíços e 30 mil francos, no máximo, por cliente. Também não importa que tenha dívidas (como a hipoteca da casa, por exemplo). Essa garantia também vale para a poupança-velhice do chamado 3° pilar.
Quem tem pequenas poupanças em dois bancos e se estes falirem, ela poderia receber até 60 mil francos e 90 mil com uma hipoteca em três bancos. O prazo de reembolso privilegia as menores poupanças.
As ações, obrigações e participações em fundos de investimento são consideradas como propriedade do cliente e não do banco, em caso de falência.
A garantia de 30 mil francos não concerne os clientes dos bancos estaduais (cantonais) e dos Correios. Esses estabelecimentos têm geralmente a proteção do governo federal e dos cantões.
As autoridades agem?
Frente à decisão de aumentar a garantia mínima dos depósitos para 50 mil euros nos 27 países membros da União Européia, a ministra interina das Finanças, Eveline Widmer-Schumpf, declarou que a proteção dos depósitos na Suíça “não é totalmente satisfatória” e que está “sendo verificada”.
Para Giovanni Barone-Adesi, professor de teoria financeira na Universidade da Suíça-Italiana, o sistema bancário suíço é mais sólido do que os outros. “Na Suíça, os bancos fizeram uma limpeza em seus balanços e, como o UBS, comunicaram com transparência.”
Contudo, existe um debate sobre a necessidade ou não de mudar o nível de garantia. “O governo não tem recursos para garantir o total dos depósitos nos bancos suíços, sabendo que a Suíça é uma das principais praças financeiras do mundo na gestão de fortunas”, estima Dusan Isakov, professor de gestão financeira na Universidade de Friburgo.
Estrategista no Banco Estadual de Vaud (BCV), Fernando Martins da Silva afirma que “se a garantia dos 27 países da EU provocar um afluxo de fundos da Suíça em direção aos 27, o governo federal deverá provavelmente reagir; mas a resposta deve ser dada pelos mercados, acrescenta.
“Não há dúvida que o UBS perdeu clientes, mas o dinheiro ficou na Suíça”, garante James Nason, porta-voz da Associação Suíça de Banqueiros (ASB).
De maneira mais geral, o Ministério das Finanças reitera que tem um cenário pronto em caso de um naufrágio dentro do sistema bancário suíço. As hipóteses citadas por observadores são nacionalização, fusão ou aquisição por um ou vários bancos do país.
O que um pequeno poupador deve fazer atualmente?
Há várias possibilidades. Para os pequenos poupadores que
já estão na bolsa ou têm obrigações e não estão com a corda no pescoço, Dusan Isakov recomenda que evitem vender agora. O medo é mau conselheiro. “É melhor ter paciência e esperar passar a tempestade.”
Fernando Martins da Silva acha que as turbulências vão continuar até a próxima primavera européia, pelo menos. Para o estrategista do BCV, é mais garantido ter uma carteira de investimento diversificada.
“Habitual em qualquer época na bolsa, a diversificação é especialmente importante hoje, inclusive para o risco de crédito”, afirma. Pistas: recorrer, por exemplo, a vários fundos de investimentos monetários ou em obrigações de vários bancos ou instituições financeiras.
Para os pequenos poupadores que não estão na bolsa, Dusan Isakov desaconselha o mercado de ações nos próximos três a seis meses. A incerteza é muito grande e não há sinal de que a queda vá cessar. Para a poupança atualmente nada melhor que a velha conta bancária (com pouco rendimento), de preferência em um banco médio para contornar as dúvidas acerca dos grandes bancos.
O pequeno poupador que pode suportar um certo risco, com prazo de dois a três anos, Fernando Martins da Silva vê atualmente “um dos pontos de entrada no mercado”. Mas cuidado, o período de volatilidade da bolsa não terminou (e a recessão vem aí) e é melhor investir pouco a pouco, em várias etapas.
Investimentos estatais (obrigações emitidas por governos) e certos fundos bem diversificados são recomendados, se quisermos evitar muita volatilidade, afirma Fernando Martins da Silva. “O Estado é solvente, explica Dusan Isakov. O valor refúgio absoluto é o Estado (obrigações estatais); é até melhor do que uma conta no banco.”
É melhor comprar ações defensivas como as da Nestlé ou Novartis?
A crise financeira antecipa a recessão. O preço dos ativos financeiros integram esse dado e, em caso de crescimento econômico negativo, até as ações dessas empresas podem perder valor. Arriscar requer uma boa informação, bom conhecimento das empresas em que queremos investir”, adverte Dusan Isakov.
Investir em ouro ou no setor imobiliário?
Dusan Isakov desaconcelha as matérias-primas, demasiado caprichosas, inclusive o ouro, cujo preço flutua muito. “Se tudo despencar, o ouro seria um valor refúgio. Mas não acredito nisso.”
Fernando Martins Da Silva considera que o ouro é interessante, mas em pequena quantidade. Além de valor refúgio eventual, o ouro sobe de preço em período de injeção de liquidez pelos bancos centrais e de juros baixos.
Com relação ao setor imobiliário na Suíça, Fernando Martins da Silva espera uma estagnação dos preços médios, mas a recessão imobiliária de 1991-1993 permitiu evitar os excessos especulativos de certos países europeus. Além disso, como poucos terrenos para novas construções, os preços não devem cair muito (salvo exceções locais). O setor imobiliário parece, portanto, um investimento razoável.
O que deve ser evitado?
Evitar concentrar o risco e os investimentos que não podemos vender rapidamente, recomenda o estrategista do BCV.
Para o pequeno investidor, produtos alternativos de tipo fundos Hedge devem ser evitados, julga Dusan Isakov. Eles são reservados aos profissionais. “Teremos surpresas ruins nessa área brevemente”, acrescenta.
Quanto ao pequeno poupador que perdeu toda a confiança no sistema financeiro e bancário, ele tem outra sugestão: alugar o cofre de um banco para depositar seu dinheiro.
swissinfo, Pierre-François Besson
As bolsas despencam e a questão é para onde vai o dinheiro? Para os investidores que venderam seus títulos, o dinheiro líquido está com eles.
“Quando se diz que 10 bilhões evaporaram” é verdade apenas se os investidores venderam com prejuízo”, explica o professor de gestão financeira Isan Dusakov.
De fato, a bolsa é um mercado onde o preço flutua. O investidor só perde concretamente quando o título é vendido por um valor muito inferior.
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