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Professor suíço prevê queda irreversível do dólar

O dólar perdeu mais de 10% em seis meses. Keystone

A crise acentuou a queda do dólar e ele não voltará aos seus níveis anteriores, afirma Sergio Rossi, professor de Economia da Universidade de Friburgo.

O nota verde poderá ter o mesmo destino da libra inglesa 60 anos atrás: simplesmente ser substituída, prevê o professor na entrevista a seguir.

O valor do dólar norte-americano está muito baixo. No início da semana passada, 1,03 franco suíço e 1 euro valia 1,49 dólar. Essa cotação assinala o começo do declínio da moeda dos Estados Unidos, analisa o professor de política monetária Sergio Rossi.

swissinfo.ch: O dólar perdeu mais de 10% em seis meses. O que causou essa queda brutal?

Sergio Rossi: Primeiro foi a importante queda das taxas de juros do Federal Reserve (Fed): o banco central americano visa atualmente de 0 a 0,25%. Isso significa que os depósitos em dólar praticamente não ganham nada.

Em segundo lugar, as altas de impostos anunciadas para compensar o déficit orçamentário abissal do setor público provoca uma saída de capitais dos Estados Unidos. Finalmente, o risco de inflação no país torna o dólar pouco atrativo no plano mundial.

swissinfo: A inflação é uma ameaça?

S.R.: É. Para conter a crise, o governo norte-americano injetou bilhões de dólares no sistema financeiro, atualmente diluídos no balanço dos bancos. Quando a recessão acabar, esse dinheiro vai voltar a circular e provocará inflação. Dentro do Fed (banco central), algumas pessoas começam a defender uma alta dos juros para conter a inflação.

Isso porque é preciso mais ou menos dois anos para que esse tipo de medida influencie os preços e o consumo.

swissinfo.ch: A falta de atratividade da divisa força os bancos centrais a vender dólares para comprar outas moedas?

S.R.: Claro que eles gostariam de fazê-lo, mas não podem: se eles vendessem seus dólares para comprar yen ou euro, a taxa de câmbio do dólar cairia ainda mais e desvalorizaria as reservas. A China, que tem as maiores reservas em dólar, já anunciou sua vontade de diversificar seus haveres. Para isso, disse que não compraria mais tantos títulos da dívida pública norte-americana a longo prazo, como fez no passado.

swissinfo.ch: Como o dólar domina há 60 anos, sempre teve compradores de títulos da dívida dos Estados Unidos – o que permite que o país viva a crédito. Isso está mudando?

S.R.: Há cerca de um mês, o tesouro público dos Estados Unidos emitiu títulos da dívida a longo prazo. Alguns não encontraram compradores. Isso é novo e nos interpela. De fato, em tempos de crise, o dólar tem mais atrativos do em tempos normais. Essa moeda tem mais liquidez e o sistema financeiro norte-americano é mais desenvolvido do que o de muitos países, o dólar ganha valor e cai nos períodos mais calmos. Eu receio, contudo, que depois da crise os investidores apliquem em outras moedas ou outros países. O que está claro é que o dólar vai cair ainda mais.

swissinfo.ch: Então o dólar está perdendo sua supremacia?

S.R.: Está. Ele deverá ceder seu lugar a outra moeda.

swissinfo.ch: Que moeda poderá substituí-lo: o euro, o yuan chinês?

S.R.: O Banco Central Europeu não quer que o euro seja a nova referência. A China também não quer impulsionar o yuan. Na verdade, usar uma moeda nacional como referência internacional não é uma solução perene. No final de um certo período, isso acaba sendo prejudicial ao país emissor dessa moeda. Isso ocorreu com a libra inglesa – oficialmente substituída pelo dólar em 1944 – e vemos agora com a moeda norte-americana.

swissinfo.ch: E qual seria a solução?

S.R.: Seria necessário ter coragem para criar uma moeda supranacional, emitida pelo FMI (Fundo Monetário Internacional), como preconizava Keynes nos anos 1940. Trata-se de uma decisão política, mas ao que parece os que decidem não estão dispostos a tomar. Em contrapartida, a ideia de uma “cesta” de divisas variadas como referência parece mais viável, mas a transição levaria de 10 a 15 anos.

swissinfo.ch: Portanto, quando os países do Golfo Pérsico falam de deixar de faturar o petróleo em dólar em 2018, como revelou o The Independent, isso parece realista?

S.R.: Os países do Golfo têm mais comércio com a Europa do que com os Estados Unidos. Enquanto suas receitas de exportação forem essencialmente em dólar, eles sofrerão os efeitos das flutuações do câmbio dessa divisa. Diversificar a moeda de faturamento é uma solução para esse problema. Outra seria criar uma moeda única dessa região.

Ela deveria ser introduzida em 2010 por seis países do Golfo, mas a crise forçou seus governos a adiar o projeto. A questão é política. Cabe lembrar que quando Saddam Hussein anunciou que queria fixar o preço do barril em euro e não mais em dólar, os Estados Unidos atacaram o Iraque.

Linda Bourget, La Liberté/swissinfo.ch

O preço do metal atingiu níveis históricos esses últimos dias. A alta é atribuída a três fatores:

> o efeito mecânico – se o dólar está desvalorizado, é preciso mais dólares para comprar a mesma quantidade de ouro.

> valor refúgio – Quando os mercados estão instáveis, os investidores compram ouro. É uma precaução válida também quando há inflação. Muitos preferem comprar ouro do que manter sua fortuna em uma moeda que pode perder valor.

> atividade dos especuladores, quanto mais compram mais a cotação do ouro sobe.

“Entre um vendedor de petróleo e um consumidor, existe em média oito transações puramente especulativas. Os Estados procuram minimizar esse fenômeno”, explica Sergio Rossi. Para escapar desse papel regulador do Estado, os especuladores tendem a comprar ouro e outros metais.”

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