“Queremos liberdade, mas nem tanto”
Como os agricultores de um país reagem aos desafios da globalização? Na Suíça, os representantes do setor pedem mais liberdade, menos impostos e menos burocracia.
Durante uma coletiva de imprensa em Berna, a Federação Suíça de Agricultores apresentou suas idéias para um futuro, que se avizinha difícil.
O tempo está para mudança. Um bom camponês não precisa olhar ao céu para perceber a tempestade que se aproxima.
Para os deputados Hansjörg Walter e John Dupraz, respectivamente presidente e vice-presidente da Federação Suíça de Agricultores, esse é um bom momento de convidar à imprensa para explicar quais são as respostas do setor aos desafios atuais: globalização, crise energética e ecologia.
Nada mais é criticado no país dos Alpes do que seus agricultores. Para os consumidores, os preços dos produtos de base são muito mais elevados do que nos países vizinhos; no caso da carne, em quase 100%. Para os contribuintes, esse setor devora anualmente 2,426 bilhões de francos suíços em subvenções diretas e de apoio ecológico. Para os nostálgicos, o meio rural suíço tem se esvaziado dramaticamente nos últimos anos: especialistas afirmam que em 10 anos, 30% dos produtores agrícolas irão desaparecer.
Mais liberdade para o setor
“Um dos nossos grandes problemas é o aumento incessante de normas ecológicas, de proteção aos animais, ao consumidor aplicadas na agricultura suíça”, explica Hansjörg Walter. “Além disso, diversas antigas leis impendem a flexibilidade no campo, dificultando enormemente a transformação de uso das propriedades agrícolas para o turismo ecológico, por exemplo”.
O chefe da Federação Suíça de Agricultores se apressa em complementar seu discurso, afirmando que sua organização apóia a priorização da agricultura “bio” no país, um desenvolvimento observado nos últimos anos. “Porém precisamos desburocratizar o campo, para que os agricultores possam ser mais criativos e empresariais”.
Uma sugestão de empreendimento é o investimento em fontes energéticas renováveis. “Devido a atual crise energética mundial, consideramos que a Suíça também deveria incentivar esse setor, assim como ocorre em outros países”, afirma John Dupraz.
Para o agricultor suíço essa seria uma nova fonte de renda, acreditam os dirigentes da organização. Combustíveis poderiam ser fabricados a partir da batata ou outros cereais. Biomassa serviria para o aquecimento de casas.
Conservadores, mas realistas
Apesar de Hansjörg Walter ser parlamentar da União Democrática do Centro, um partido de direita que é contra a abertura de fronteiras para trabalhadores estrangeiros, ele defende uma outra posição como representante dos agricultores suíços.
“A realidade, é que nós temos dificuldade de contratar suficiente mão-de-obra para as colheitas”, declara Walter. Apesar dos acordos bilaterais, que tornaram mais fácil a vinda de cidadãos de países da União Européia, muitos produtores agrícolas suíços não conseguem pagar os salários atualmente exigidos no país ou na UE. Países como a Espanha já aplicam essa política, como é o caso dos marroquinos nas plantações espanholas.
Questionado por um jornalista sobre a posição do seu partido, Hansjörg Walter explica que defende os interesses de uma classe produtora.
Liberdade, mas nem tanto
A comparação entre a agricultura austríaca e suíça é uma constante na imprensa. No país vizinho, o setor viveu um longo período de crise logo após a adesão da Áustria à União Européia e o fim da proteção do mercado interno. Hoje em dia, seus agricultores são considerados um dos mais dinâmicos na Europa. Um exemplo é o setor de laticínios, onde a Áustria se tornou nos últimos anos um grande exportador.
Porém Jacques Bourgeois, diretor da Federação Suíça dos Agricultores, não acredita que a liberalização total é a solução par a agricultura. “Lembro que na Áustria 70% dos produtores praticam agricultura em tempo parcial; na Suíça essa situação é inversa”.
swissinfo, Alexander Thoele
O setor agrícola representa 1,5% do PIB suíço e emprega 3% da população ativa.
As subvenções às exportações agrícolas suíças são atualmente de 200 milhões de francos.
No seu último relatório, a OCDE considerou “elevadas” as subvenções dadas pelo governo suíço à agricultura do país.
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