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Registro de produtos é resposta à globalização

16 produtos têm o registro federal AOC-IGP. swissinfo.ch

Com um certo atraso, a Suíça começa a certificar seus produtos agro-alimentares para garantir a origem e a qualidade de produtos tradicionais.

As primeiras experiências são positivas porque as vendas desses produtos certificados aumentaram.

Depois dos vinhos a Apelação de Origem Controlada (AOC) começa a ser extendida a outros produtos agro-alimentares suíços. Essa denominação garante que o produto é fabricado inteiramente na região de origem e respeita critérios de qualidade precisos.

O primeiro produto gastronômico suíço a ter oficialmente uma AOC foi o queijo Etivaz, em 2000. Trata-se de um queijo da região alpina do Cantão de Vaud, com um ligeiro sabor de nozes, defumado com madeira de pinheiro vermelho.

Posteriormes, outros onze produtos tradicionais receberam a AOC, entre o queijo Vacherin Mont-d’Or, que derrete no prato antes de chegar na boca e o açafrão de Mund, no cantão do Valais, tão precioso quanto o ouro.

Quatro outros produtos, entre eles a carne seca dos Grisões e do Valais, receberam uma Certificação Geográfica Controlada (IGP), ou seja, respeitando um método tradicional de produção, o produto não é inteiramente fabricado na região de origem.

O número de certificações deverá dobrar dentro de 2 ou 3 anos: pelo menos uma dezena de candidatos deverão inscrever-se no registro federal das AOC-IGP.

Muitas vantagens

As vantagens da certificação são evidentes. Primeiro para o consumidor que, cada vez mais, quer saber o que põe na mesa e se preocupa com os novos riscos alimentares.

“Para garantir a reputação e a venda de seus produtos AOC, as associações de produtores são as primeiras a fixarem critérios estritos de qualidade e controle”, afirma Frédéric Brand, responsável dos registros AOC-IGP, na Secretaria Federal de Agricultura (OFAG).

O produtores têm todo o interesse em fazê-lo porque a certificação aumenta a visibilidade do produto e a confiança do consumidor.

Os resultados são positivos. Em um ano, o Vacherin Mont-d’Or, por exemplo, aumentau suas vendas de 20%; o pão de centeio do Valais dobrou a produção e outros produtos não conseguem atender a demanda.

Além disso, as certificações AOC e IGP proporcionam uma proteção jurídica contra imitações ou falsificações. Têm ainda a vantagem de uma melhor circulação do produto pelas alfândegas, com isenção fiscal, e a conquista de novos mercados, sem concorrência desleal.

Produção pouco racional

«Podemos ser a favor ou contra a globalização. Mas, para sobrevier numa agricultura globalizada, é preciso se adaptar”, afirma Jacques Henchoz, presidente da Associação Suíça pela Promoção das AOC e IGP.

“Em certas regiões do mundo, é possível explorar de maneira racional mil hectares de terra. Mas nós, em nossos vales montanhosos, só podemos ter produtos de qualidade que atraem o consumidor pelo sabor que têm”, acrescenta Jacques Henchoz, considerado como o pai da primeira AOC suíça, atribuida ao queijo Etivaz.

Para manter a tipicidade, a produção deve seguir regras estritas. No caso do Etivaz, as vacas são alimentadas exclusivamente com capim, para que o queijo tenha o sabor da flora alpina; a transformação é feira de maneira artesanal, no fogo a lenha.

“O que fazemos é completamente irracioanal. Seria mais racional transformar todo o leite em queijo num grande centro de produção mas, nesse caso, o leite perderia as moléculas gordas durante o transporte”, explica Jacques Henchoz.

“No começo, muitos produtores não entendiam o porquê de tanto esforço, principalmente financeiros. Mas hoje, com essa certificação, eles tomaram consciência do valor do produto deles”, acrescenta.

O modelo francês

Na França, compreendeu-se há muito tempo a importância das AOC. A apelação começou a ser aplicada em 1935, para proteger os vinhos contra as falsificações.

A União Européia adotou o modelo francês em 1992, praticamente ao mesmo tempo que a livre circulação de mercadorias entre os 15 países-membros.
Quase 700 produtos, além dos vinhos, constam do registro europeu AOC.

O atraso da Suíça é justificado pelo fato da agricultura ter sido, durante muito tempo, protegida e subvencionada. Essa situação começou a mudar no final dos anos 90 com a entrada da Suíça na Organização Mundial do Comércio (OMC). Depois vieram os acordos bilaterais com a UE, em 1999, e ambos forçaram uma certa abertura no setor agrícola.

Outro fator é que ficou cada vez mais difícil combater as imitações de outros países europeus, como no caso dos queijos Gruyère e Emmental. As negociações com a UE são demoradas para obter o reconhecimento recíproco das AOC, até porque os países da UE ainda não resolveram entre eles todas as divergências, como no caso do queijo Feta, de tradicão grega.

“Perdemos muito tempo e também algumas indicações para o registro de origem. Foram precisos muitos anos para convencer certos produtores a adotarem uma denominação comum. Ou para persuadir os que não pertenciam a uma região de origem a renunciarem”, explica Frédéric Brand.


swissinfo, Armando Monbelli
(adaptação: Claudinê Gonçalves)

A França adotou o sistema de AOC em 1935, para proteger seus vinhos da imitação.
Em 1990, a apelação foi extendida a outros produtos agro-alimentares.
Em 1992, a União Européia adotou o sistema francês.
Em 2000, a Suíça atribuiu a primeira AOC.
Em 2004, 16 produtos suíços detém uma AOC ou IGP.

– A apelação de origem controlada (AOC) garante que todas as etapas de produção e transformação são feitas na mesma região geográfica.

– A indicação de origem controlada (IGP) atesta que pelo menos uma etapa da produção é feita em determinada região geográfica.

– Para os vinhos suíços, a AOC foi adotada em certas regiões vinícolas desde os anos 80. Até hoje, a regulamentação federal tem lacunas e não foi adotada por todos os cantões.

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