Soja orgânica da reforma agrária brasileira chega à Suíça
A busca por uma alimentação mais saudável e por produtos agrícolas mais confiáveis faz com que a produção, a comercialização e o consumo de alimentos orgânicos cresçam a cada ano, nos países ricos e nos países em desenvolvimento.
Com a soja não é diferente.
Presente nas duas pontas desse mercado, a empresa suíça Gebana AG, com 30 anos de experiência na importação e distribuição de alimentos, consolida sua posição como uma das mais confiáveis “pontes” entre produtores e consumidores de orgânicos em todo o mundo.
Atuante em países como Tunísia e Burkina Faso, além dos Estados Unidos e de praticamente toda a Europa, a Gebana AG tem no Brasil o carro-chefe que impulsiona a comercialização de seus produtos orgânicos, com destaque para a soja.
Iniciada em 1997, após um contato estabelecido com agricultores orgânicos do município de Capanema, no estado do Paraná, a presença da empresa suíça no país determinou a criação, em 2002, da Gebana Brasil, em parceria com investidores brasileiros.
Expansão no Brasil
Desde então, a Gebana vem expandindo sua atuação para outras regiões do Brasil. Em 2008, a empresa atingiu um novo patamar em sua relação com os produtores de alimentos orgânicos brasileiros ao assinar pela primeira vez um contrato de grande porte para a exportação para a Suíça de soja e gergelim orgânicos produzidos por agricultores de um assentamento da reforma agrária.
No conhecido município de Ponta Porá, localizado no estado de Mato Grosso do Sul, ao lado da fronteira entre o Brasil e o Paraguai, fica o Projeto de Assentamento Itamarati, que abriga cerca de 80 famílias voltadas para o plantio e produção de orgânicos.
O contrato de comercialização firmado no fim do ano passado entre a Gebana e o Núcleo de Agroecologia da Associação dos Produtores Orgânicos do Mato Grosso do Sul (Apoms) prevê a comercialização inicial de 70 toneladas de soja produzidas neste assentamento.
As conversas entre a Gebana e os pequenos agricultores sul-matogrossenses, no entanto, começaram algum tempo antes, como explica o gerente-geral da empresa suíça, Adrian Wiedmer:
“Em 2005, a Gebana Brasil iniciou um contato com a Apoms, e esta associação nos apresentou os produtores do Assentamento Itamaraty. Iniciamos as conversas com os produtores de lá em 2006 e negociamos uma primeira compra na safra 2007/2008, de apenas dez hectares de soja e gergelim”.
Desta vez, o contrato entre a Gebana e os agricultores do Itamarati foi estabelecido em patamares bem maiores, e os primeiros 30 hectares de soja orgânica destinada ao mercado suíço foram plantados em outubro do ano passado por um grupo inicial de dez famílias assentadas.
Mercado em expansão
Secretário do Núcleo de Agroecologia do Assentamento Itamarati, Vitor Carlos Neves, comemorou o fechamento do negócio com a empresa suíça: “Nosso exemplo está chamando a atenção das empresa interessadas em produtos de qualidade e livres de venenos. Nos próximos anos, pretendemos expandir nossa produção de gergelim, amendoim, milho de pipoca e girassol, entre outros produtos, para atender à demanda do Brasil e do exterior”, disse à imprensa, logo após a conclusão das negociações.
A Gebana, por sua vez, aposta no crescimento do mercado de orgânicos na Suíça, na Europa e nos Estados Unidos: “O interesse é grande pela soja e por outros produtos orgânicos produzidos por agricultores familiares. O problema, muitas vezes, é a confiabilidade, mas a Gebana tem a sorte de ter uma muito boa reputação, além de ser a única empresa do ramo de soja orgânica no Brasil que sempre apostou no trabalho com a agricultura familiar, e não com os grandes produtores”, afirma Adrian Wiedmer, citando um mercado em franca expansão: “Vendemos para Alemanha, França, Espanha, Finlândia, Holanda, Áustria, Suíça e Estados Unidos”.
A aposta na internet como instrumento para intensificar as vendas de produtos orgânicos também continua sendo uma das marcas registradas da Gebana: “O volume de negócios pela internet ainda é pouco, não ultrapassa os 5% do total, mas sua importância é grande porque os clientes que compram pela internet estão sempre interessados, nos criticam e nos ajudam a crescer’, diz Wiedmer.
Parceiros e acionistas
Para comercializar de maneira abrangente e satisfatória seus produtos orgânicos, a Gebana trabalha com alguns parceiros importantes, como Brasil Bio, BioSuisse, Demeter e Max Havelaar.
No Brasil, a empresa suíça tem atualmente quinze funcionários fixos, além do trabalho realizado em conjunto com as famílias de agricultores (somente em Capanema, são cerca de 250 famílias).
Em uma entrevista concedida à swissinfo em setembro de 2007, Wiedmer afirmou que os acionistas da Gebana (cerca de duzentas pessoas) ainda não haviam recebido nenhum dividendo da empresa. Indagado se a situação já é outra em 2009, o suíço foi otimista: “Não, ainda não. Mas, o dividendo mais importante para nossos acionistas é que a Gebana cresceu e ajudou a integrar cada vez mais produtores à cadeia de orgânicos. Eles recebem um preço melhor por seus produtos e fazem parte de um mercado mais estável. Tenho certeza de que [o pagamento de dividendos] é uma questão de tempo, pois um negócio transparente e que responde às necessidades de fornecedores e clientes só pode dar certo!”.
swissinfo, Maurício Thuswohl, Rio de Janeiro
Os detalhes do contrato de compra pela Gebana Brasil da soja e do gergelim orgânicos produzidos no Projeto de Assentamento Itamarati foram acertados durante a Feira Internacional Biofach América Latina.
Realizada em outubro na cidade de São Paulo, a feira foi organizada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). O contato entre a empresa suíça e os agricultores assentados foi intermediado durante o evento pela Superintendência Federal de Agricultura do Mato Grosso do Sul.
Segundo seus organizadores, a Biofach teve como principal objetivo “buscar novas oportunidades de negócio para os produtos orgânicos”.
O gerente-geral da Gebana, no entanto, minimiza os esforços do governo brasileiro nesse sentido: “Todos os contatos entre a Gebana e os produtores foram consolidados nas visitas efetuadas por nossos técnicos”, afirma Adrian Wiedmer.
Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch
Mostrar mais: Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch
Veja aqui uma visão geral dos debates em curso com os nossos jornalistas. Junte-se a nós!
Se quiser iniciar uma conversa sobre um tema abordado neste artigo ou se quiser comunicar erros factuais, envie-nos um e-mail para portuguese@swissinfo.ch.