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Suíços apostam em alternativa ao agronegócio

Trabalhadores do MST plantando feijão. Keystone

ONGs e empresas do país estão investindo na produção orgânica proveniente da agricultura familiar.

Em visita à Suíça, onde esteve no âmbito de uma viagem à Europa promovida pela organização suíça E-Changer, uma das responsáveis das relações internacionais do Movimento dos trabalhadores rurais Sem Terra, Salete Carollo, procurou defender os pequenos produtores.

O aprimoramento do agronegócio barateou o custo dos alimentos e deu a população um maior poder de consumo e de escolha, mas também trouxe vários problemas, principalmente ligados às questões ambiental e social.

O desafio agora, segundo Salete Carollo, é a produção no campo sem impactos ao meio-ambiente, causados principalmente pelo uso de defensivos, pelo desmatamento e empobrecimento do solo.

Nas cidades a preocupação se dá com o aumento do êxodo rural provocado pela mecanização dos campos. Nos países pobres, a modernização da agricultura deixou muitos produtores à margem do processo, principalmente famílias que viviam da agricultura de subsistência, ou agricultura familiar, em pequenas propriedades rurais.

Estes pequenos agricultores foram privados de técnicas e métodos modernos, como irrigação, maquinários e insumos, perdendo a competitividade. “Precisamos agora é ter controle de toda a cadeia produtiva”, diz a militante do MST e também membro da Coopat, Cooperativa de Produção Agropecuária dos Assentados de Tapes, no Rio Grande do Sul.

Competência profissional

A cooperativa está sediada no assentamento Lagoa do Junco e reúne 26 famílias das 35 que vivem no local. Elas foram as pioneiras no cultivo de arroz orgânico, e hoje beneficiam a sua produção e mais 700 toneladas de outros assentamentos.

Para Carollo, o orgânico tem a vantagem de proteger a saúde do agricultor, do consumidor e de preservar o meio ambiente, sem contar que aumenta a renda, já que quem planta não fica subordinado à indústria de agrotóxicos e sementes.

A produção de arroz orgânico no Lagoa do Junco também conta com o apoio da organização suíça E-Changer, que fornece a competência profissional que faltava. “Procuramos não impor nossos pontos de vista e facilitamos a formação de redes de solidariedade norte-sul”, explica Bruno Clément, responsável pelas parcerias com os países em desenvolvimento.

E-Changer foi responsável pela certificação do arroz orgânico do assentamento, realizada por um agrônomo suíço enviado pela organização.

Comércio equitativo

Não são só as ONGs suíças que se interessam pelas alternativas ao agronegócio. A pequena multinacional Gebana SA, sediada em Zurique, faz trinta anos que importa e distribui alimentos produzidos pela agricultura ecológica seguindo os princípios do comércio equitativo.

A empresa desenvolve parceria com pequenos produtores do Brasil, do Burkina Faso e da Tunísia. No Brasil desde 1999, Gebana fornece aconselhamento sobre métodos de cultivo orgânico, organiza e financia as sementes, os fertilizantes e a utilização de meios orgânicos contra pragas.

Em troca, os agricultores se engajam em vender para a empresa suas colheitas, aplicando e cumprindo os critérios exigentes para a produção orgânica.

Crescimento verde

Em seu relatório sobre o conceito de “crescimento verde”, publicado em setembro, o grupo de pressão Alliance Sud apresenta como conciliar crescimento e redução de danos ambientais e à biodiversidade, e como reduzir o aproveitamento insustentável dos recursos.

O grupo reúne diversas ONGs suíças como Swissaid, Pão para o Próximo ou Caritas, e procura influenciar as políticas da Suíça para os países em desenvolvimento. Segundo o relatório, chamado Green Economy, a economia verde será um dos dois temas da conferência Rio+20, que será realizada em julho de 2012 no Rio de Janeiro.

O conceito, apoiado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, parece estar se desenvolvendo. O PNUMA recomenda que 2% do produto interno bruto mundial seja voltado aos investimentos “verdes” que permitam a transição para uma economia verde e a redução da pobreza.

Segundo o relatório da Alliance Sud, o crescimento verde parece ser a solução para conciliar crescimento, criação de emprego e meio ambiente diante dos problemas climáticos e de esgotamento de recursos.

O desenvolvimento das energias renováveis e outras “cleantechs” e o “enverdecimento” do resto da economia parecem promissores. Na Suíça, 53 mil empregos poderiam ser criados nas atividades relacionadas à proteção do meio ambiente até 2020, aponta o estudo.

Agricultura familiar

Para Salete Carollo, a agricultura suíça poderia servir de exemplo para a agricultura brasileira. “Por exemplo, com o estímulo que está ocorrendo por parte do governo da Suíça com as políticas de crédito à produção de produtos orgânicos”, diz.

A produtora de arroz orgânico do MST ficou admirada com a relação entre produtores e consumidores de orgânicos na Suíça. “Essa é uma experiência que nós no Brasil não deveríamos estar copiando, deveríamos estar aprendendo”, acrescenta.

Salette Carollo acha que a agricultura familiar ainda não foi consolidada no Brasil da mesma maneira que é na Suíça.

“Podemos avançar nesses tipos de concepções onde o consumidor tem uma relação direta com quem produz o alimento. E um alimento de boa qualidade.”

Entende-se por agricultura familiar o cultivo da terra realizado por pequenos proprietários rurais, tendo como mão-de-obra essencialmente o núcleo familiar, em contraste com a agricultura patronal – que utiliza trabalhadores contratados, fixos ou temporários, em propriedades médias ou grandes.

Segundo o economista Ricardo Abramovay, da FEA-USP, tal oposição é de natureza social – entre a agricultura que se apoia fundamentalmente na unidade entre gestão e trabalho de família e aquela em que se separam gestão e trabalho.

De acordo com o economista, o modelo adotado pelo Brasil, o patronal, não foi o que prevaleceu em países como os Estados Unidos, onde, historicamente, a ocupação do território baseou-se na unidade entre gestão e trabalho, e a agricultura baseou-se inteiramente na estrutura familiar.

Abramovay ressalta que os países que mais prosperaram na agricultura foram aqueles nos quais a atividade teve base familiar e não a patronal, enquanto que os países que dissociaram gestão e trabalho tiveram como resultado social uma imensa desigualdade.

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