Suíços procuram novo impulso na Índia
A Suíça está confiante que as negociações de livre comércio com a Índia poderão ser concluídas em breve, mas grandes diferenças ainda precisam ser resolvidas.
A presidente indiana Pratibha Patil e uma delegação de 45 empresários indianos estão na Suíça para dois dias de conversações no sentido de aumentar as relações bilaterais, incluindo a cooperação financeira e tecnológica.
A Índia está entre os quatro principais parceiros comerciais da Suíça na Ásia. O volume de comércio entre os dois países foi de 3,6 bilhões de francos (3,95 bilhões de dólares) no ano passado.
Em seu discurso na segunda-feira (3) na capital Berna, Patil disse que há “enormes sinergias” entre as duas economias e “grande espaço para melhoria na interação econômica atual”.
“Em áreas-chave como tecnologia limpa, proteção ambiental e tratamento de resíduos urbanos, as indústrias suíças podem nos fornecer soluções inovadoras”, disse a presidente.
“A Índia também tem o reconhecimento mundial de seus recursos humanos… e emergiu como um hub para a produção de alta qualidade a custo competitivo.”
Desde 2008 que a Suíça, como membro da Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA), vem negociando um acordo de livre comércio com a Índia que deve ser concluído até o final do ano.
Janela de oportunidade
Martin Zbinden, chefe da Divisão de Acordos de Livre Comércio da Secretaria de Estado da Economia (Seco), está otimista que essa meta possa ser cumprida.
“Este ainda é o objetivo comum, ou talvez no início do próximo ano”, disse à swissinfo.ch. “Estamos acelerando o ritmo das negociações com mais duas sessões inteiras planejadas para este ano.”
Estão previstas eleições na Índia em março próximo e algumas mudanças de pessoal são esperadas, mas ambos os lados reconhecem que há uma “janela de oportunidade” para finalizar o acordo, segundo o chefe da Seco.
Zbinden, que está envolvido em numerosos acordos de livre comércio, disse que os negociadores indianos não eram necessariamente mais difíceis do que outros.
“Cada país defende seus interesses nessas negociações, incluindo a Suíça”, observou.
“Mas a Índia está bem ciente do seu potencial econômico, sua influência e a importância de seus mercados.”
Para a ministra suíça das Relações Exteriores Micheline Calmy-Rey, que também detém a presidência rotativa deste ano, o acordo ambicioso daria “um novo impulso às relações”.
Obstáculos
Mas resta resolver ainda uma série de pontos divergentes.
A Suíça está buscando melhorar o acesso ao mercado indiano para a sua indústria química, farmacêutica, de máquinas e relojoeira. Mas a Índia se recusa a baixar as taxas alfandegárias para determinados produtos desses setores, que representam 30% do comércio bilateral.
“As pequenas empresas indianas ativas nesses setores correm grande risco”, disse Isolda Agazzi, da ONG suíça Alliance Sud.
A Suíça tenta também reforçar os direitos de propriedade intelectual. Ela quer estender a proteção de patentes dos produtos farmacêuticos para impedir que os produtores indianos de medicamentos genéricos sejam beneficiados dos testes clínicos desenvolvidos por outras empresas.
Mas os grupos de ajuda ao desenvolvimento argumentam que o arrocho na proteção de patentes prejudicaria a produção de genéricos na Índia.
Agazzi disse que a Suíça provavelmente teria de seguir a União Europeia, que também está mantendo conversações de livre comércio com a Índia, e abrir mão de algumas exigências.
Vistos de trabalho
Outro obstáculo é o maior acesso ao mercado suíço para o setor de serviços da Índia, especialmente o relacionado às tecnologias de informação e comunicação (TIC), e menos restrições de imigração.
O mercado de trabalho da Suíça se abriu para os cidadãos da UE e dos países da EFTA em 2002, enquanto que os vistos para outros países estão limitados a trabalhadores altamente qualificados.
Este ano, as autoridades suíças vão entregar apenas 8500 vistos para pessoal de fora da UE que queira trabalhar na Suíça por mais de alguns meses, apresentando inúmeras dores de cabeça para as empresas TIC.
E enquanto setor TIC da Índia continua crescendo rapidamente, a Suíça estima que deve enfrentar um déficit de 32 mil trabalhadores qualificados em TIC até 2017.
No mês passado, o Ministério da Economia publicou um relatório com 40 medidas para evitar a escassez geral de trabalhadores qualificados esperada para 2020. Ele propôs explorar melhor o mercado de trabalho nacional e, ao mesmo tempo, incentivar uma imigração limitada a certas áreas.
A questão dos trabalhadores estrangeiros na Suíça provou ser uma batata quente durante o ano eleitoral atual.
“Precisamos de um aumento controlado por quotas, e estimular mais as empresas a investir na qualificação de pessoal”, disse Andreas Knöpfli, presidente da Swico, a federação das empresas TIC da suíça.
As relações comerciais entre a Índia e a Suíça começaram com a criação da Companhia de Comércio Volkart em Bombaim, em 1851.
Existem hoje cerca de 127 empresas suíças com uma forte presença na Índia. Por outro lado, as empresas indianas têm sido menos dispostas a se instalarem na Suíça, com cerca de 100 empresas presentes – a maioria com atividades limitadas.
Uma série de grandes empresas indianas TIC criaram operações na Suíça, como Infosys, Cognizant, Polaris e Birlasoft.
O valor do investimento indiano em TIC na Suíça aumentou de cerca de 350 milhões de francos (US$ 420 milhões) em 2009 para 450 milhões no ano passado.
O comércio acumulado em todos os setores entre os dois países havia subido de 1,56 bilhão em 2004 para 3,5 bilhões até o final de 2008.
A Suíça tem um longo histórico de relações diplomáticas e econômicas com a Índia.
Em 14 de agosto de 1948, a Suíça foi o primeiro país a assinar um tratado de amizade com a Índia, pouco após a sua independência.
Desde 1961, a Suíça mantém na Índia um programa de cooperação para o desenvolvimento econômico.
Até 2010 o programa deve ser redimensionado, focalizando o trabalho mais nas áreas de energia, clima, ciência e tecnologia.
Adaptação: Fernando Hirschy
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