Suíça marca presença no mercado brasileiro de carbono
Em um momento em que todos discutem metas para combater os efeitos do aquecimento global, o mercado de créditos de carbono começa a se fortalecer como alternativa econômica viável para estimular a redução das emissões de gases provocadores do efeito estufa.
Com esse mecanismo, uma empresa poluidora pode comprar créditos de carbono, ou seja, pagar outra empresa ou projeto para que evitem emissões em seu lugar.
Entre os países considerados emergentes, como China, Índia e África do Sul, entre outros, o Brasil surge como aquele que tem maior potencial para negociar créditos de carbono.
Apesar de ainda incipiente, o mercado brasileiro de carbono começa a se estruturar e a estreitar contatos com o exterior. Nesse contexto, uma empresa suíça, a Mercuria Energy Trading, com sede em Genebra, ganhou destaque em 2008 por sua participação ativa na compra de créditos de carbono leiloados pela maior e mais poluída cidade brasileira: São Paulo.
O leilão das RCEs (Reduções Certificadas de Emissões) correspondentes a 713 mil toneladas de carbono foi organizado conjuntamente pela Prefeitura de São Paulo e pela Bolsa de Valores do Estado de São Paulo (Bovespa).
A Mercuria arrematou a totalidade do lote leiloado, pelo valor de 13,68 milhões de euros. Cada tonelada de carbono foi arrematada ao preço de 19,20 euros, o que gerou um ágio de 35,2% em relação ao preço inicialmente estipulado de 14,20 euros.
Do total de créditos de carbono comprados pela empresa suíça, 454.657 foram adquiridos junto ao Aterro Sanitário Bandeirantes, localizado no bairro de Perus, na zona norte da cidade de São Paulo. Outras 258.657 RCEs foram negociadas com o Aterro Sanitário São João, localizado no bairro de São Mateus, na zona leste da capital paulista.
Os gases produzidos pela decomposição do lixo nos dois aterros são utilizados na geração de energia elétrica, sendo 170 mil megawatts/hora por ano no Bandeirantes e 200 mil megawatts/hora por ano no São João. Os dois projetos possuem usinas geradoras de eletricidade a partir desses gases, sobretudo o gás metano, e a energia gerada, segundo a Prefeitura, é suficiente para abastecer uma cidade com 700 mil habitantes.
Empresa bem posicionada
Responsável pela participação da Mercuria no mercado de carbono global, Jean-François Steels justifica o interesse da empresa: “A negociação de carbono é importante para a Mercuria, pois se trata de uma nova commodity energética e uma oportunidade para diversificarmos nossa carteira de investimentos. Existe uma relação direta entre o carbono e outras commodities com as quais trabalhamos, como petróleo, gás natural, carvão e eletricidade”, diz.
Segundo Steels, o novo mercado oferece praticidade às empresas envolvidas: “Por exemplo, se o custo de produção do gás estiver maior do que o do carvão, os produtores terão tendência a preferir trabalhar com o carvão em detrimento das usinas a gás. Como as usinas a carvão emitem mais CO2 do que as usinas a gás, o produtor vai poder então comprar créditos de CO2 para compensar essas emissões adicionais”.
A Mercuria, segundo Steels, está bem posicionada em nível global para compreender a dinâmica do mercado de créditos de carbono e as interrelações deste com as outras commodities energéticas comercializadas: “Alguns de nossos clientes como, por exemplo, as refinarias de petróleo européias, precisam comprar créditos de carbono para compensar suas próprias emissões. Mas, eles podem não ter acesso direto aos intercâmbios internacionais de carbono com os brasileiros ou os demais vendedores de tais créditos, tal como os produtores e os consumidores finais de tais créditos podem não estar presentes no mercado. Por isso, você precisa de empresas como a Mercuria para conectar a oferta e a procura e também quantificar o risco inerente a este mercado”, diz.
Brasil protagonista
O executivo da empresa suíça ressalta a importância brasileira no mercado internacional de créditos de carbono: “O Brasil é uma fonte muito importante de créditos de carbono, em conjunto com a China e a Índia. Como a economia brasileira cresce, a sua necessidade de energia está crescendo também. Escolhendo modos de produção menos dependentes do carbono, como parques eólicos e centrais hidrelétricas, o Brasil tem um papel importante a desempenhar na redução global das emissões de carbono”.
A Mercuria, segundo Steels, aposta no crescimento do Brasil como protagonista da luta contra o aquecimento global: “A perspectiva de inclusão de créditos gerados a partir de atividades que promovem o reflorestamento ou o evitam o desmatamento poderá abrir algumas possibilidades muito interessantes para o Brasil e poderá contribuir para a preservação da floresta amazônica”, diz.
O leilão de créditos de carbono foi acompanhado pelo presidente do Conselho de Administração da Bovespa, Gilberto Mifano, e pelo prefeito reeleito de São Paulo, Gilberto Kassab, que prometeu utilizar os recursos negociados com a Mercuria em projetos de melhoria social e ambiental nos bairros próximos aos dois aterros sanitários.
swissinfo, Maurício Thuswohl, Rio de Janeiro
O leilão no qual a empresa suíça Mercuria Energy Trading arrematou 713 mil toneladas de créditos de carbono foi o segundo já realizado pela Prefeitura de São Paulo e a Bolsa de Valores do Estado de São Paulo (Bovespa).
No primeiro leilão, realizado no final de 2007, foram negociadas 808.450 toneladas de dióxido de carbono. As RCEs (Reduções Certificadas de Emissões) foram adquiridas junto ao Aterro Sanitário Bandeirantes que, em 2008, negociou com os suíços.
No ano passado, o lote de RCEs foi arrematado de forma integral pelo grupo belgo-holandês Fortis, que pagou o equivalente a R$ 34 milhões pelos créditos de carbono. O valor pago na ocasião foi de 16,2 euros por tonelada, o que deu à compra um ágio de 27,6% sobre o preço inicialmente estipulado.
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