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Tecnologia e força para combater a falsificação de relógios

Provas: marcas suíças falsificados enviados para avaliação dos especialistas da Federação da Indústria Relojoeira. swissinfo.ch

Rolex, Breitling, Cartier ou TAG Heuer: poucas marcas de prestígio da relojoaria suíça estão a salvo da indústria milionária do plágio. Em vários países do mundo, ela produz falsificações cada vez mais próximas das originais, o que torna ainda mais difícil o trabalho dos especialistas.

Para combater o problema, o “task force” de combate a pirataria da Federação da Indústria Relojoeira Suíça utiliza meios como detetives, forças policiais e até mesmo microscópios de alta definição.

Quando lançou o “Fifty Fathoms” em 1953, Blancpain sabia que estava escrevendo história. O primeiro relógio moderno de mergulho foi criado pelos mestres relojoeiros do fabricante suíço a pedido de um capitão da marinha francesa para suportar até 50 braças (91,45 metros) de profundidade. Sua fama cresceu ainda mais em 1955, quando foi visto nos braços do explorador francês Jacques-Yves Cousteau, mergulhadores e do diretor Louis Malle no filme “O Mundo do Silêncio”, vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cinema de Cannes, em 1956.

Em 2007, Blancpain decidiu relançar o relógio que é considerado até hoje uma lenda entre os colecionadores. A nova linha do “Fifty Fathoms” chegou ao mercado em 2007 com três novos modelos: automático, cronógrafo e tourbillon. O mais simples custa 13 mil francos. Cada um dos modelos que sai da manufatura no pequeno vilarejo Le Brassus, nas montanhas do Jura, no cantão de Vaud, é assinada pessoalmente pelo mestre relojoeiro.

Esta e outras histórias de sucesso, que fizeram a fama das marcas “made in Switzerland”, ajudaram a indústria helvética a vencer a batalha contra os concorrentes japoneses. Porém agora o inimigo é muito mais poderoso: pirataria.

“Poucos dias depois do relançamento mundial do “Fifty Fathoms, sites na Internet já ofereciam falsificações como esta aqui. O colecionador pensou que havia comprado uma verdadeira antiguidade. Antes de entrega, a alfândega interceptou-a e nos enviou para análise. O prejuízo, de sete mil euros, ficou para o comprador”, explica Michel Arnoux, chefe do serviço de antipirataria da Federação da Indústria Relojoeira Suíça (FH, na sigla em francês), com o plágio nas mãos.

Combate à pirataria

Michel Arnoux e seus três colaboradores são os “detetives” encarregados de uma missão quase inglória: combater uma indústria que movimenta bilhões e inunda o globo com todo o tipo de produtos, dos industriais até medicamentos.

Nos laboratórios da FH em Bienne, pequena cidade ao norte de Berna, eles dispõem de equipamento sofisticado como microscópios eletrônicos, computadores e escaneadoras para avaliar as centenas de falsificações que recebem mensalmente.

“Essas falsificações foram confiscadas em várias partes do mundo. Recebemos aproximadamente 1.200 unidades por ano”, detalha Arnaux, apontado para várias cópias de marcas famosas espalhadas em cima de uma bandeja. “Nós as registramos, indicando origem e a data em que foram encontradas. Depois fazemos análises mais acuradas para tentar identificar o fabricante”.

Enquanto explica, os especialistas da pequena unidade escaneam no microscópio diversos modelos confiscados. Eles tentam identificar os mínimos detalhes e comparam com outros registros. “Qualquer máquina deixa sempre uma espécie de marca registrada nas peças que modela. Dessa forma nós conseguimos muitas vezes descobrir a origem das falsificações, inclusive até mesmo as mais perfeitas”, diz Arnoux.

Caso policial

Ele se lembra do caso de um mestre relojoeiro italiano. “Quando a polícia conseguiu prendê-lo, ele afirmou que falsificava relógios de marcas de prestígio apenas há poucos meses, pois estava endividado. Porém nós já tínhamos um histórico de rastros deixado por eles nas suas cópias e provamos que ele fazia esse trabalho há mais de dez anos. Condenado, o italiano pegou quatro anos de prisão”, conta Arnoux.

Os dossiês preparados pelo serviço antipirataria são detalhistas. Eles podem ser feitos a pedido dos fabricantes de relógios associados à FH para identificar a origem das cópias, mas até mesmo para conseguir diferenciar falsificações dos originais. “A pirataria chegou hoje a um nível de qualidade, que muitas vezes só especialistas conseguem descobrir a verdade”, analisa Yves Bugmann, chefe da divisão legal da FH.

A pasta que ele abre mostra diversas fotos feitas em microscópio de um modelo da Rolex, uma das marcas mais copiadas do mundo. “Trata-se de um caso especial, pois essa falsificação utiliza movimentos originais da marca e também ouro, o que é raro”, explica Arnoux. Depois de uma análise acurada, seus especialistas descobriram que os falsificadores simplesmente utilizaram o movimento mais simples de outro relógio Rolex – “comprado certamente na Internet”. Outros detalhes minúsculos, como a qualidade do pino para ajustar as horas, também foram escaneados. “Falhas e outros problemas de qualidade confirmaram as nossas suspeitas”.

Segundo os especialistas da FH, as falsificações mais caras de relógios suíços utilizam geralmente movimentos mecânicos fabricados na China. Raramente elas também podem utilizar metais preciosos, como ouro de baixo quilate. “Nesses casos, só especialistas podem identificá-las. Uma possibilidade é fazer o teste com ácido para verificar o quilate do ouro”, afirma o chefe do serviço de antipirataria.

Um mostruário de vidro na sua sala contém diversos “troféus”, pequenas placas comemorativas dadas por agentes policiais de várias partes do mundo e também dezenas de relógios falsificados, alguns deles verdadeiras obras de mestre. Um exemplo é o modelo “Portugieser F.A. Jones” da marca IWC, uma das mais prestigiosas da Suíça. “Ele pode chegar a custar algumas centenas de francos, pois utiliza uma mecânica quase igual a do original”, se espanta Arnoux.

Na sua opinião, a pirataria também é um problema de consciência. “O consumidor que gasta tanto dinheiro para comprar um cópia pirata sabe o que está fazendo. Elas prezam as marcas, mas não querem gastar dinheiro. Alguns chegam a ter o original para usar em ocasiões especiais e a cópia para o dia-a-dia”, critica.

Pirataria na América Latina

A pirataria é um fenômeno internacional. Por isso a indústria relojoeira suíça tenta combater o problema através de vários instrumentos: campanhas publicitárias como a “Stop Piracy”, lançada em julho de 2005 para sensibilizar o consumidor; lobby frente aos legisladores em vários países, o que permitiu, dentre outras, criminalizar o porte de produtos falsificados em países como a Itália, França e a Suíça (ver matéria: Suíça vai confiscar relógios pirateados) e o apoio logístico a operações policiais em várias partes do mundo.

“Mantemos escritórios em regiões onde existe um trânsito muito forte de relógios falsificados”, revela Yves Bugmann. Os agentes em Hong Kong, Tailândia e Paraguai trabalham geralmente incógnitos e em conjunto com as autoridades locais. Apoiado pelo trabalho de detetives, eles ajudam a coordenar ações policiais. “Só no ano passado, foram seis operações das quais participamos, onde algumas dezenas de milhares de cópias foram confiscadas”.

O trabalho da FH se estende também para o treinamento de agentes alfandegários em vários países, explicando a eles como diferenciar os produtos originais dos falsificados. “Nesse caso trabalhamos também em conjunto com representantes de indústrias também atingidas pelo problema da pirataria, como a de perfume”.

Prejuízos milionários

Os prejuízos da indústria relojoeira helvética com a pirataria são incalculáveis. Segundo dados da FH, para 25 milhões de relógios exportados em 2006, no valor de 13,7 bilhões de francos, mais de 40 milhões de plágios circulavam no mercado.

“Estimamos as perdas anuais do setor em 800 milhões de francos. Algumas das maiores marcas chegam a ter um buraco de até um quarto do seu faturamento. O número de empregos perdidos na comunidade européia é de 100 mil”, declarou Jean-Daniel Pasche, presidente da FH, aos jornais. “Das 40 milhões de cópias em circulação, apenas duas milhões são confiscadas”.

Internet é o novo canal de distribuição

Se o canal clássico de distribuição dos relógios falsificados ainda continua sendo a rua, a Internet se tornou nos últimos anos no principal mercado para a indústria da pirataria. Um estudo da empresa genebrina de consultoria IC Agency citado no jornal de negócios “Handelszeitung” mostra que 15% das procuras na Internet estão relacionadas aos termos “relógios” e “cópias. Essa parte era apenas de 9% em 2004. Das marcas, a Rolex é a mais procurada: quase 90% das procuras de falsificações de relógios estavam relacionadas com os modelos do produtor genebrino. Logo depois vinham marcas como Breitling, Cartier, Omega e TAG Heuer.

Hoje em dia o comprador não precisa ir aos mercados para encontrar cópias das marcas mais conhecidas: a procura dos termos “Rolex” e “replica” no site Google dá dois milhões e 840 mil resultados. Alguns dos sites apresentados são verdadeiros “supermercados” de falsificações.

Segundo os analistas da IC Agency, a tendência é de equilíbrio entre as marcas em termos de falsificação. Nenhuma delas, mesmo as mais exclusivas, está a salvo de imitações.

Através de sites de leilão como o popular eBay são oferecidas diariamente milhares de modelos de marcas de prestígio. Como a grande maioria é de falsificações, a FH decidiu contratar dois especialistas para monitorar todas as ofertas por computador. Só em 2007, eles teriam conseguido bloquear trinta mil leilões em várias partes do mundo.

Para muitos compradores na Suíça, a pechincha obtida na Internet pode ser transformar numa grande dor de cabeça: os sites de leilão são obrigados por lei a comunicar aos fabricantes quando produtos das suas marcas são colocados em venda. Quando estes são identificados como falsificação, o comprador final pode receber uma multa cobrando pelos danos de imagem, além da mercadoria ser confiscada. O valor da multa é definido pelo próprio fabricante e pode chegar facilmente chegar a casa dos quatro dígitos.

swissinfo, Alexander Thoele

Prejuízos da indústria relojoeira helvética com a pirataria: para os 25 milhões de relógios exportados pelo país em 2006, no valor de 13,7 bilhões de francos, mais de 40 milhões de cópias circulavam no mercado.
Perdas estimadas em 800 milhões por ano.
Número de empregos perdidos na comunidade européia: 100 mil. Nos EUA: 120 mil
Das 40 milhões de falsificações, apenas duas milhões são destruídas.

Um estudo da empresa genebrina de consultoria IC Agency citado no jornal de negócios “Handelszeitung” mostra que 15% das procuras na Internet estão relacionadas com os termos “relógios” e “cópias.

Essa parte era apenas de 9% em 2004.

Das marcas, a Rolex é a mais procurada: quase 90% das procuras de falsificações de relógios estavam relacionadas com os modelos do produtor genebrino. Logo depois vinham marcas como Breitling, Cartier, Omega e TAG Heuer.

A procura dos termos “Rolex” e “replica” no site Google dá dois milhões e 840 mil resultados. Alguns dos sites apresentados são verdadeiros “supermercados” de falsificações.

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