Turismo suíço tenta resistir à crise
Debilitado pela força da moeda e pelo nível elevado dos salários, o turismo suíço resiste é concorrência internacional visando a clientela de luxo.
Presidente do Comitê do Turismo da OCDE, grupo dos 29 países mais industrializados, o suíço Peter Keller resume a situação internacional.
Instabilidade política, conflitos, atentados e má conjuntura econômica colocaram a indústria turística suíça em dificuldade.
Desde o final de 2001, a demanda caiu bastante apesar da multiplicação de ofertas interessantes. O Turismo é o terceiro setor mais importante da economia suíça.
Na queda geral do turismo, a Suíça não é exceção, como demonstram o dados publicados em julho pela Departamento federal de Estatísticas. Em 2002, os turistas estrangeiros gastaram 445 milhões de francos suíços a menos do que em 2001, totalizando 12,7 bilhões de francos (US 9 bilhões).
Os suíços também gastaram menos 251 milhões de francos no exterior, num total de 10,3 bilhões de francos. Os sinais de retomada da economia são fracos e a demanda turística diminuiu um pouco mais no início deste verão.
Peter Keller, chefe do serviço de turismo na Secretaria Federal de Economia (SECO) e presidente do Comitê do Turismo na Organização de cooperação e desenvolvimento econômico (OCDE), resume a situação.
swissinfo: Depois do 11 de setembro, da guerra no Iraque, da epidemia de peneumonia atípica e da estagnação econômica mundial, qual a situação do turismo?
Peter Keller: O turismo mondial foi atingido em cheio por esses problemas e sofreu uma retração importante da demanda.
Mas, e isso ocorre em todas as crises, a demanda voltou a crescer e o setor começa a superar as dificuldades, por enquanto de maneira paulatina mas que indica uma retomada mundial do crescimento.
Essa situação crítica provocou alguma modificação no comportamento da clientela?
P. K.: Constamos há vários meses um crescimento mais acenturado do turismo doméstico e inter-regional. Esse fenômeno compensa um pouco a queda importante do número de viagens intercontinentais.
Qual é a situação da Suíça, onde o setor está em baixa desde 2002?
P. K.: Na Suíça, as condições estruturais do setor não são ideais. Primeiro, tem o problema da moeda. O franco suíço está forte e afugenta uma parte da clientela potencial.
Além disso, os preços e os salários continuam mais altos na Suíça do que na maioria dos países vizinhos e isso reduz a competitividade do país.
A situação dramática de certos hoteleiros suíços não provém da facilidade com que obtinham créditos bancários no passado?
P. K.: As condições eram muito favoráveis alguns anos atrás, não ná dúvida. Mas há também o fator da concorrência que tornou o mercado muito competitivo.
Toda semana, há hotéis que fecham, foram quase mil nos últimos 10 anos. É normal que hotéis vetustos desapareçam, pois não são mais rentáveis.
No entanto, certos estabelecimentos, que têm pouco capital próprio e estão endivididados, ainda têm chance de sucesso. Esses precisam de apoio do Estado.
O Estado pode tomar medidas para ajudar o setor nesse período difícil?
P. K.: O que ele não pode fazer é geranciar a crise ditando medidas de urgência, mas pode agir sobre as estruturas a longo prazo.
Este ano, o Parlamento decidiu melhorar a estrutura e a qualidade da oferta turística suíça. Foram liberados recursos para financiar a reforma de hotéis que realmente necessitam.
Aprovou também um programa de inovação e cooperação que permite adaptar as estruturas às exigências do mercado mundial. Lançamos também uma iniciativa para qualificar pessoal.
Esses fatores de inovação, de investimento e de qualificação vão melhorar as estruturas mas gostaríamos de criar um sistema, dotados de instrumentos de gestão de riscos que permitam sobreviver apesar de flutuações da demanda como a que observados ultimamente.
A hotelaria suíça não sofre de sua extrema concentração sobre a clientela de luxo?
P. K.: Não, isso é bom. A Suíça é muito boa no segmento de luxo e isso é necessário. Como os preços são altos neste país, estamos bem posicionados. Temos de nos destacar pela qualidade de nossos serviços e, portanto, pelo luxo.
O segmento itermediário não é rentável mas o que vale a pena é o segmento mais barato. Principalmente os albergues da juventude e os pequenos hotéis estão em crescimento.
De maneira geral, a hotelaria suíça é comparável ao padrão internacional, mesmo se o momento é difícil.
Constantemente criticada, a qualidade do serviço na Suíça tem melhorado?
P. K.: Não acho que possamos dizer de maneira geral que o acolho não é bom na hotelaria suíça. Antes de mais nada, é uma questão de administração e isso só pode ser verificado caso por caso.
De qualquer maneira, as pesquisas de Suíça Turismo (órgão de promoção do setor), demonstram que os clientes gostam da maneira como são recebidos. Não sei porquê esse argumento volta sempre porque é um fenômeno, repito que não é confirmado pelas pesquisas que fizemos.
Não se pode generalizar a respeito da qualidade dos serviços na Suíça mas é verdade que tomamos várias iniciativas nessa área porque é preciso se aperfeiçoar sempre.
Qual a função do Comitê do Turismo da OCDE?
P. K.: Ele ajudou a liberalizar o turismo depois da Segunda Guerra Mundial, removendo barreiras como as das moedas, alfândegas etc. entre os países membros. Esse movimento de liberalização prossegue na OMC – Organização Mundial do Comércio – em Genebra.
Trata-se de um fórum onde são examinadas, comparadas e criticadas as diferentes políticas nacionais de turismo. Isso dá uma noção do que é feito no setor por cada país membro da OCDE.
O Comitê também acompanha a evolução do setor e propõe medidas para adaptar o turismo às novas exigências.
Em setembro, a Suíça organiza, por exemplo, uma conferência sobre a inovação no turismo: por que é preciso inovar, quando e em que setores, como a política pode influenciar esse processo, etc.
Apesar das dificuldades, em que países o setor está melhor?
P. K.: Os que têm estruturas saudáveis, sem capacidade excedente e com capital próprio resistem melhor. Mas, como já disse, depois da crise vem a retomada do crescimento.
Neste verão, por exemplo, as reservas de viagens aumentaram. Esperemos que o retorno a uma conjuntura econômica favorável não tarde muito, mas não dizer que certos países estão melhores que outros.
swissinfo, entrevista, Jean-Didier Revoin
(Tradução, Claudinê Gonçalves)
– Em 2002, os turistas estrangeiros gastaram 12,7 bilhões de francos suíços (US 9 bilhões) na Suíça. A queda foi de 3,5% em relação ao ano anterior.
– Os gastos dos suíços no exterior cairam 2,4%, num total de 10,3 bilhões de francos.
– A balança turística teve um excedente de 1,9 bilhões de francos, – 9,2% do que no ano anterior.
– 70% das receitas do turismo suíço provém das estadias com pernoites.
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