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TV Suíça denuncia carro da Volkswagen do Brasil

O Fox vendido na Europa saiu-se bem no teste. swissinfo.ch

Um crash test ou teste de choque frontal - realizado na Alemanha, revela que o modelo Fox destinado ao mercado brasileiro é simplesmente perigoso. Sem airbags e sem o cinto retrátil de três pontos é, além de menos equipado, bem mais caro.

Como resultado do teste, a TV Suíça critica as falhas, falando em cinismo da Volkswagen, da falta de ética e de desrespeito à vida dos usuários. A realidade é um pouco mais complexa. Confira.

Esse “escândalo” acaba de ser denunciado por dois programas semanais de proteção aos consumidores: Kassensturz e A Bon Entendeur, que podem atingir cerca de 90% da população.

O programa Kassenturz, falado em alemão , lembra que o Brasil é o nono produtor mundial de carros, ítem que representa 10% na pauta de suas exportações. É no Brasil que a Volkswagen (VW) produz com exclusividade o menor carro de sua linha, o modelo Fox, considerado um “símbolo do sucesso da indústria automobilistica brasileira”.

O programa aponta, porém, o reverso da medalha: os airbags e o cinto de segurança retrátil de três pontos com tensores, que são opcionais de série e que equipam os modelos destinados ao mercado europeu, não figuram nos carros produzidos para o mercado latino-americano.

O Fox ‘brasileiro’ é mais perigoso

Os clientes que optarem por um modelo com todos esses acessórios de segurança precisarão pagar um extra de aproximadamente 2.500 euros. A reportagem afirma tratar-se de um “escândalo”, alvo aliás de críticas por parte de organismo de proteção ao consumidor brasileiro (Pro Teste) que dispara: “A VW exporta carros seguros. Os inseguros ficam para os consumidores locais e para os turistas que os alugam”.

O problema apontado tanto por Kassensturz, quanto por A Bon Entendeur é que, em caso de acidente, o Fox brasileiro é muito mais perigoso que seu similar europeu.

A conclusão é tirada de um crash test, realizado na Baviera segundo estritas normas de vistoria de carros novos, a pedido da Euroconsumer, central de proteção do consumidor da União Européia.

“Vida de brasileiro vale menos”

Esta organização trouxe, para teste, do Brasil um modelo Fox produzido para os clientes latino-americanos e pôde compará-lo (no teste) aos resultados do Fox “europeu”, submetido a choque idêntico em 2006.

O teste simula um choque frontal à uma velocidade de 50 km/h. A julgar pelo impacto sobre os manequins utilizados, no caso do Fox para o mercado latino-americano, um motorista de carne e osso poderia ter morrido e o passageiro a seu lado teria sofrido sérios ferimentos, em função da falta dos mencionados equipamentos de série.

Os dois programas da TV suíça observam ainda que os resultados do Crash foram “mais inquietantes” do que imaginava Pro Teste. “Concluímos que, para Volkswagen, a vida dos brasileiros vale menos que a dos europeus”, diz Alessandra Macedo, responsável técnica da associação brasileira de proteção dos consumidores.

VW atende a “exigências do mercado”

Quisemos saber do fabricante Volkswagen como reagiria a estas acusações e se os brasileiros (e os latino-americanos em geral) poderiam dispor de um modelo equipado com as mesmas normas de segurança que na Europa. Até porque, estranhamente, o modelo para o Brasil está custando mais caro que o destinado à Europa.

A empresa parece, porém, não ter dado atenção a nosso e-mail, endereçado à Direção. Previamente contatada por telefone, fora o secretariado da mesma a sugerir a opção via Internet.

A Volkswagen, quando procurada pela TV suíça, defendeu-se explicando que esses acessórios de segurança foram propostos devido às exigências do mercado brasileiro. Lembrou também que o Fox foi, originalmente, desenvolvido para o mercado sul-americano). Só posteriormente o modelo foi adaptado às exigências do mercado europeu (marktgegebenheiten)

Quanto ao preço, assinala que as variações se explicam pelas oscilações do câmbio. Dois anos atrás, quando da introdução do modelo na Europa, “a diferença de preço em favor dos brasileiros era de 6 mil francos suíços aproximadamete”.

Preço como fator determinante

Atualmente, o Fox brasileiro custa cerca de mil francos a mais que seu similar europeu, razão pela qual não se justifica que continue sem equipamentos que podem salvar muitas vidas.

Vale enfatizar, porém, que a Volkswagen vai, de fato, ao encontro das exigências do mercado brasileiro, onde “a preocupação fundamental mostrada pelo cliente é o valor do veículo e o número de prestações, que pode chegar a 60”, como lembra Carlos Ceneviva, jornalista independente de São Paulo, com quem discutimos o assunto.

O cliente brasileiro também acha importante os dispositivos de segurança, como airbags, mas considera o carro principalmente uma “ferramenta de trabalho – andando já é uma vitória”. Entre os acessórios preferidos, como opcional de série, está o chamado “trio elétrico”, composto pelos vidros, trava e retrovisor e/ou desembaçador elétricos.

Preocupação com acessórios de enfeite

O automóvel, prossegue, é sinal de status . Daí sua importância. Tem gente que pode abrir mão de outras prioridades, mas não dispensa o carro. (Como não dispensa o celular, que confere prestígio ao dono).

“Preocupado, em primeiro lugar, com a beleza e com enfeites (direção esportiva, som ultra potente, engate para barco – usado mais para proteger o próprio pára-choque), o cliente brasileiro geralmente relega a segurança a segundo plano, sendo frequente o uso de pneus carecas (pelo menos para os padrões europeus), carros não balanceados, pastilhas gastas, etc.”, conclui.

Obviamente uma empresa do porte da Volkswagen não lança produto sem conhecer o mercado. O Fox ‘brasileiro’ satisfaz a exigências básicas, manifestadas pelo comprador brasileiro. A empresa também sabe que a legislação do país tem lacunas (ou é pouco aplicada), e que os organismos de proteção ao consumidor poderiam exercer maior influência.

Mesmo assim, dado o desconto, o atual preço do Fox ‘brasileiro’, sem os dispositivos de segurança de que é equipado o modelo similar destinado à Europa, não tem a menor justificativa. Nem no Brasil, nem na América Latina.

swissinfo, J.Gabriel Barbosa

As críticas à VW foram difundidas pelos dois principais canais de Televisão Suíça (do grupo SSR, o único de âmbito nacional e de serviço público): Schweizer Fernesehen – SF – na região de língua alemã, e Télévision Suisse Romande – TSR – na região francesa. Trata-se, na SF, da emissão de proteção ao consumidor, Kassensturz, de 27.02.2007, que trazia esta manchete: “Cinismo: só os motoristas da VW-Fox na Europa dispõem de airbag”. O programa similar na TSR, intitulado A Bon Entendeur, de 28.02.2007, denuncia o que descreve como “um escândalo econômico e ético no setor da construção automobilística” ao comentar a falta de dispositivos de segurança nos modelos Fox, destinados ao mercado do Brasil e América Latina.

O Crash Test (teste de choque frontal, a 50 km/h) foi realizado em Landsberg, sudoeste de Munique, no centro do ADAC (touring clube alemão), segundo normas estritas do EuroNCAP (European New Car Assessment Programme, isto é, programa europeu de vistoria de novos carros), a pedido da organização Euroconsumer (que se ocupa de problemas de defesa ao consumidor na União Européia).

Os esclarecimentos sobre o Fox ‘brasileiro’ – que ficaram sem resposta – foram solicitados à Volkswagen Communications, Informations Products, na Alemanha.

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